O menino dos fantoches de Varsóvia - Eva Weaver
>> segunda-feira, 17 de março de 2025
WEAVER, Eva. O menino dos fantoches de Varsóvia. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2014. 398p. Título original: The Puppet Boy Of Warsaw.
"- Meu caro rapaz, se pessoas como você não existissem, os alemães já teriam vencido, já teriam nos destruído nos lugares que realmente importam. - Ele apontou para seu peito, seu coração. - Eles teriam entorpecido nossos corações, assassinado nosso espírito, roubado nossas almas. Seus fantoches trazem uma fagulha e uma luz que nos mantém vivos. Isso é muito precioso Mika. É tudo que podemos fazer neste momento." p. 83
Livros sobre o holocausto são quase sempre de partir o coração, quem gosta de drama está acostumados com tragédias e histórias comovents, mas saber que tudo aquilo foi real, que realmente existiu pessoas capaz de tamanhas atrocidades, nunca deixa de me chocar. E apesar de ser um tema triste muito explorado, eu acho que são relatos importantes, para que a história nunca se repita. Este é um livro parado há mais de 10 anos na estante, confiram o que achei de O menino dos fantoches de Varsóvia da Eva Weaver.
Mika tinha apenas 12 anos quando sua família foi obrigada a deixar tudo para trás e mudar para o gueto de Varsóvia. Ele, a mãe e seu amado avô. Seu pai morreu quando ele era muito novo, e o avô era seu grande companheiro. Era o começo da 2ª Guerra Mundial.
No Gueto lidavam com todo o tipo de provação. Quase nada para comer e vestir, sem recursos, presos naquele lugar, sendo tratados como animais. No pequeno apartamento onde viviam, seu avô continua a ensinar Mika, o aprendizado era tudo o que ele tinha. Quando seu avô morre de forma trágica, assassinado sem motivo por um soldado alemão, Mika herda seu grande casaco, repleto de muitos bolsos secretos e um pequeno cômodo secreto no apartamento, onde seu avô fazia fantoches. Um médico, um príncipe, uma menina, um crocodilo.
Com o passar do tempo naquele lugar tenebroso, os fantoches de Mika levavam histórias divertidas e esperanças para crianças e adultos no gueto. Quando uma família precisou dividir o apartamento com eles, e depois quando sua prima Ella e sua tia foram morar com eles, os fantoches eram a única coisa que davam um propósito a Mika e Ella, além de distrair da fome que corroía.
Logo o gueto inteiro só fala do menino dos fantoches, até chegar o dia em que Mika é parado por um oficial alemão, Max, e obrigado a começar a fazer shows para entreter os soldados. Ele sempre ganhava um pedaço de pão, ou algum outro alimento que ajudava a família, mas tinha nojo daquelas apresentações, e não contava para ninguém onde ia quando chegava tarde, com cheiro de cerveja e muito envergonhado. Mas aquele acesso ao quartel, permitiu posteriormente que Mika ajudasse o hospital infantil em um trabalho muito importante.
Após o final da guerra, muitos soldados alemães são presos e capturados pelo exército russo. E despachados para campos de trabalho forçado na Sibéria. E lá, passando por uma situação de fome, frio e abuso, eles começam a refletir sobre o que fizeram com os judeus, muitos deles, insistindo que só obedeciam ordens, outros com muito remorso, outros ainda... acreditando que tudo aquilo estava certo.
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Como todo romance de guerra, a narrativa é extremamente triste e desoladora. Meu coração se partiu em vários momentos, o número de mortos gigantescos, as pessoas sem nenhum auxílio e presas como animais naqueles lugares. As crianças morrendo de fome, tuberculose ou tifo. Na verdade, o trabalho dos alemães era matar judeus, a forma como morressem era indiferente. O livro tem também suas partes mais morosas, mas foi quase um alívio em meio a tanta tristeza.
Mika, nosso protagonista da primeira parte, é um garoto incrível. Alguém que levava alegria ao hospital infantil, ao orfanato e com seus shows de fantoches levava esperança no meio do gueto. Até mesmo suas forçadas apresentações para os soldados, trouxe benefício, quando ele começou a ajudar a tirar crianças bem pequenas do gueto para uma rede de mulheres que falsificavam documentos e essas crianças eram adotadas como alemãs. Isso foi algo que realmente aconteceu na Polônia, e muitas crianças foram salvas da morte dessa maneira.
O livro altera personagens e histórias de ficção, com pessoas reais, que tiveram um grande papel na resistência polonesa no gueto. Na Polônia os judeus ao serem retirados do gueto, não foram levados para campos de concentração, como na Alemanha, foram levados direto para campos de extermínio. As pessoas entraram naqueles caminhões, sabendo que estavam indo para a morte.
Outro ponto interessante, é que foi neste gueto que começou a resistência judia. Homens, mulheres e até crianças que ainda estavam no gueto, depois que começaram a retirada de pessoas para a morte, se armaram do jeito que podiam e organizaram uma grande batalha contra os alemães. Muitas morreram, algumas poucas conseguiram fugir, mas levaram muitos soldados com eles. E depois disso, a revolta começou a se espalhar para vários outros guetos e campos de prisioneiros.
Falando sobre os personagens de ficção, a primeira parte do livro é narrada por Mika, que já idoso, conta toda a sua trajetória desde os 12 anos até o final da guerra e sua chegada nos EUA para o neto. A segunda metade do livro é narrada por Max, o soldado que começou a levar Mika para o quartel alemão para se apresentar. Max ajuda Mika em um momento crucial, e depois nunca mais soube se o garoto, que tinha a mesma idade do seu filho, sobrevivera ou não. No pós guerra, Max e muitos outros soldados alemães são presos pelos russos e levados para os campos de trabalho forçado na Sibéria. Ali eram tratados como animais, mal tinham o que comer e o que vestir no frio cortante, e muitos morreram ali. É karma que fala? hehe. Lemos sobre soldados que morriam de remorso pelo que fizeram, outros que afirmavam que eram apenas soldados rasos e só obedecem ordens sem poder fazer nada a respeito. E outros ainda, que apoiavam e concordavam com todas as atrocidades.
O livro não entrou entre meus favoritos sobre o tema, mas fala sobre aspectos que eu ainda não conhecia sobre a história dos judeus durante a guerra. O tema é importante, principalmente quando o preconceito cresce, as intolerâncias aumentam e a sociedade parece lutar bravamente contra a evolução. Fica a dica de leitura e também esta reflexão!
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