Viagem Literária: O Coração de Nanquim

GALBRAITH, Robert. O Coração de Nanquim. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2023. 1024p. (Cormoran Strike, v.6). Título original: The Ink Black Heart.

"Aqueles que vivem inflamando as multidões devem estar preparados para morrer pelas multidões. Quando soubermos com quem estamos lidando, não acho que vai ser muito difícil transformar Anomia de caçador em caça." p.182

Eu amo a série policial Cormoran Strike e O coração de Nanquim é seu 6º volume. Sob o pseudônimo de Robert Galbraith, J. K. Rowling arrasa em um estilo único, personagens muito bem construídos e tramas interessantes. Confiram o que achei!

Nos livros anteriores conhecemos Cormoran Strike, um homem que sofreu sequelas físicas e psicológicas enquanto prestava serviço militar e após se desligar do exército, abriu um escritório de investigação. Sua carreira de detetive particular e sua vida pessoal não começaram nada bem: endividado, chutado pela ex-noiva, morando no escritório. Depois de algum tempo, ele e sua fiel ajudante, Robin Ellacott estavam superando as dificuldades. O noivo da moça odeia seu trabalho e todos criticam sua escolha de carreira. Robin ama o que faz e, juntos, eles buscam resolver mais uma investigação.

A partir daqui contém spoilers sobre os volumes anteriores, apenas sobre a vida pessoal dos protagonistas.

Cormoran Strike, 40, e sua sócia Robin Ellacott, 30, agora são donos de um negócio de sucesso crescente. A agência de investigação ganhou fama depois dos últimos casos concluídos com sucesso, e eles tem uma longa fila de espera para novos clientes. Atolados de casos e com poucos detetives à disposição, eles lidam com uma sobrecarga de serviço, como sempre.

A vida pessoal dos dois também entra em um pequeno conflito, quando Cormoran tenta beijar Robin no jantar de comemoração do aniversário dela. Sem saber como reagir, Robin finge que não viu nada, e a relação dos dois fica estranha. Eles se gostam, mas nenhum dos dois reconhece realmente isso. Strike é péssimo com relacionamentos, e Robin tem medo de perder um amigo e um trabalho que ama. Depois disso, Strike acaba se envolvendo com uma nova mulher, Madeline Courson-Miles é uma mulher linda, bem sucedida e dona de uma joalheria de sucesso. Enquanto isso, Robin tenta fugir dos encontros com homens desinteressantes que os amigos querem lhe apresentar.

Quando uma mulher estranha e desgrenhada aparece no escritório, a ideia de Pat, secretária da agência, é dispensá-la imediatamente. Mas Robin decide conversar com Edie Ledwell. Ela conta que criou com o namorado na época, Josh, um desenho animado ― O coração de nanquim ― que ficou rapidamente muito popular entre os fãs. Algo que nasceu no Youtube como uma brincadeira, de repente está fazendo muito dinheiro e foi comprado pela Netflix. Edie começa a ser perseguida virtualmente por uma misteriosa figura que atende pelo pseudônimo de Anomia, alguém que criou um jogo virtual baseado no desenho e ficou com ódio de Edie, quando ela afirmou que o jogo não traduz fielmente a história do desenho. Ela começa a ser assediada virtualmente de maneiras terríveis. Desesperada, pede que a detetive descubra a verdadeira identidade de seu stalker.

Robin encerra o encontro informando que sua agência não está habilitada a resolver casos desse tipo. Dias depois, lê a notícia de que Edie foi assassinada a facadas no cemitério de Highgate, local onde foi inspirado o cenário do desenho, e Josh encontra-se em estado grave no hospital. Robin fica perturbada com a situação, e sente por não ter tentado ajudar. Logo depois os dois são contratados pelo ex-agente de Edie e pela gravadora do filme, para identificar Anomia, que continua prejudicando o novo projeto.

Perdidos no meio de uma complexa rede de usuários anônimos nas redes sociais, Robin e Strike tentam se infiltrar no jogo para tentar descobrir a identidade real de Anomia e os outros moderados do jogo. A investigação fica ainda mais perigosa, quando se deparam com um grupo de extrema direita que está infiltrado no jogo e fazem um atentado contra a vida dos detetives.

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Ao mesmo tempo que eu achei uma trama muito forte e bem elaborada, não foi dos meus livros favoritos da série. Praticamente todos os livros para mim foram 5 estrelas e entraram nos favoritos do ano. Este por ser um livro enorme e por terminar sem explicitar alguns detalhes importantes perdeu pontos comigo, também achei o início muito lento e muito cansativo com tantas conversas virtuais e redes sociais. Por outro lado, a parte final prende muito e terminei a leitura empolgada.

Bom, no início temos os oito moderados do jogo conversando o tempo todo no chat virtual, algumas conversas em grupo e outras privadas. Nelas ficamos conhecendo o (a) misterioso (a) Anomia, Morehouse, Página Branca, Corella, Verme, Endiabrado, Vilepechora, Drek e alguns outros. Essas conversas são bem confusas e cansativas, além de usarem um vocabulário pesado e ofensivo muitas vezes. Aos poucos você vai identificando algumas dessas pessoas na vida real, mas achei toda essa parte bem cansativa.

Eddie e Josh moraram por algum tempo em um coletivo artístico, uma espécie de pensão criada por Nils, um homem que herdou uma grande fortuna e mantinha aquela casa enorme em nome da arte. Lá moravam várias pessoas, dentre eles alguns suspeitos de terem cometido o crime. Alguns deles ajudaram no começo dublando personagens no desenho, e ficaram insatisfeitos quando foram dispensados. Anomia odiava Edie com todas as forças e eles tentavam descobrir o motivo.

A agência começa então a seguir vários suspeitos, mas a única coisa que podiam fazer era comparar seus passos na vida real, com suas interações online. Se tal pessoa estivesse no jogo em tal momento, e não estivesse no celular/computador ao mesmo tempo, ela não poderia ser Anomia. Um trabalho monstruoso e cansativo.

Robin e Strike estão tentando lidar com a vida profissional e a pessoal, como sempre acontece. Depois da cena constrangedora do "quase beijo" eles se afastam um pouco. Strike, como sempre, começa a namorar uma nova mulher (incrível que mesmo com todos os problemas sempre tem uma mulher linda e rica atrás dele hahaha, não entendo sinceramente). Ele está novamente com a perna que usa prótese totalmente inflamada, não cuida da saúde, fuma sem parar e se alimenta mal... ou seja, eu fiquei o livro todo esperando ele infartar ou algo pior. E Robin é linda, uma gracinha, e só arruma traste de homem atrás dela. Eu nem torço tanto para ela e Strike, porque ele é tão complicado que ela merece coisa melhor hehehe. Além disso, sempre tem a ex-noiva insuportável do Strike, Charlotte, aparecendo para infernizar. Para mim já deu dessa mulherzinha, podia sumir.

Apesar da minha ressalva com algumas partes cansativas, achei o enredo sensacional. A autora explora o anonimato das redes sociais e como esses ataques prejudicam tantas pessoas na vida real. O bullying virtual, as informações que vazam e que prejudicam pessoas na vida real. E como esse ódio propagado de forma tão inconsequente, acaba tendo consequências perturbadoras, até mesmo mortais. E achei interessante, que no final, o culpado por tudo era alguém que também sofria muito ódio e era ignorado na vida real.

[ALERTA DE SPOILERS] Fiquei bem triste pelo assassinato de Morehouse no final, embora já imaginasse que Anomia iria fazer isso em algum momento. Ele era um cientista brilhante, mas que nasceu com paralisia cerebral e não andava, além de ter dificuldade de comunicação. Bem antes disso eu desconfiei que Página Branca também era Anomia, criada apenas para espionar Morehouse e outros jogadores. Eles seguem muita gente como sendo Anomia e vão descartando algumas pessoas ao longo do livro, que não estavam em algum dispositivo quando Anomia estava no jogo. Mas quase no final descobrem que Corella/Yasmin entrava se passando por ele no jogo, ou seja, todos os eliminados estavam de volta à lista de suspeitos. Isso foi completamente frustrante, mas voltou minha desconfiança pelo culpado, Gus, o filho mais velho de Katya (agente de Josh). Eu desconfiei de alguém ligado a ela, que era quem mais sabia de tudo sobre os dois, e Anomia parecia saber de tudo que acontecia na vida de Eddie/Josh ou com o desenho. E no final ele surta completamente, tenta matar os pais e a irmã, quando Strike e Robin chegam na casa. O livro termina com os dois ainda apenas amigos, com Strike no hospital após ser ferido por Gus e é isso. [FIM DOS SPOILERS]

Apesar de achar o final muito emocionante, eu queria algumas informações depois de um livro de mais de 1000 páginas! Não temos a reação de Josh quando descobre o culpado, nem fala se teve alguma evolução em seu estado de saúde. Eu queria Anomia falando, queria saber mais sobre a monte louca e os porquês de tudo aquilo. A cena de ação final foi bem corrida, queria saber também a repercurssão de tudo isso online. Mas no geral é uma série policial incrível e que eu continuo amando a cada volume. Leiam!

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Série Cormoran Strike do Robert Galbraith

In: http://www.robert-galbraith.com