E não sobrou nenhum - Agatha Christie

>>  sexta-feira, 3 de janeiro de 2025



CHRISTIE, Agatha. E não sobrou nenhum. São Paulo: Editora Globo Livros, 2021. 336p. Título original: And Then There Were None.

“Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move; um deles se engasgou, e então sobraram nove.
Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito; um deles dormiu demais, e então sobraram oito.
Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete; um não quis mais voltar, e então sobraram sete.
Sete soldadinhos vão rachar lenha, mais eis que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.
Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco; a abelha picou um, e então sobraram cinco.
Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato; um ficou em apuros, e então sobraram quatro.
Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez, foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três. 
Três soldadinhos passeando pelo Zoo, vendo leões e bois, o urso abraçou um, e então sobraram dois.
Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum; um deles se queimou, e então sobrou só um.
Um soldadinho fica sozinho, só resta um; ele se enforcou, e não sobrou nenhum.”

E não sobrou nenhum é 38º livro do Projeto Agatha Christie e a resenha dos livros anteriores, você encontra AQUI. Este é um dos livros mais famosos da autora, mas o título original "O caso dos dez negrinhos" assim como alguns detalhes do poema acima e da ilha foram alterados pela questão racial que envolvia a obra. Confiram o que achei!

Dez pessoas, desconhecidas entre si,  são convidadas a passar as férias em uma ilha particular onde existe apenas uma grande mansão. Depois que a mansão foi vendida pelo antigo dono, um enorme burburinho aconteceu, especulando quem seria o novo dono. Convidados por Mr. Owen, que ninguém conhece, dez pessoas são convencidas a ir para o local, cada qual por seus motivos. Todos foram ludibriados de alguma maneira para aceitar o convite, até os dois empregados que cuidavam da casa, e uma secretária, foram contratados apenas por uma agência.

Quando chegam à Ilha do Soldado,  percebem que tem algo estranho no ar. Para começar, o anfitrião ainda não chegou, conversando entre si, descobrem que ninguém o conhece pessoalmente e não sabem o porquê de serem levados até o local. Na primeira noite após o jantar, a verdade é revelada: uma gravação sinistra em um disco, narra a história de cada um deles, todos aparentemente culpados, de um crime cometido no passado, do qual escaparam impunes. Mas agora a Justiça finalmente os alcançou. E um a um, eles irão pagar.

Praticamente nenhum deles admite ter cometido o crime ao qual foi acusado. A tensão no ambiente aumenta quando, logo depois, descobrem que um deles está morto. Aparentemente por uma dose mortífera de veneno. Tony Marston, um rapaz rico e inconsequente, sem remorsos, que havia admitido ter matado 2 crianças correndo com seu carro pelas estradas inglesas. 

O Juiz Wargrave logo toma a liderança do grupo, começa a entrevistar todos sobre os crimes que, supostamente, cometeram. Em sua defesa, afirma que não condenou ninguém propositalmente e que a pessoa em julgamento era culpada. Vera Claythorne era uma bela professora, que no passado foi investigada no inquérito onde uma criança de quem ela cuidava na época, morreu afogado. Ela foi contratada para trabalhar na mansão como assistente do Sr. Owen. Philip Lombard estava no local sob nome falso, também contratado por alguém misterioso para investigar algo que ele ainda não sabia bem. No passado, foi acusado de deixar um batalhão de nativos morrer para morrer na selva. Miss Emily Brent era uma idosa solteira, que aproveitou a oportunidade de férias gratuitas. O tal disco misterioso que tocou no gramofone, acusou-a de expulsar de casa uma moça grávida, que acabou se matando. O general Macarthur aceitou com prazer o convite, o passado o acusa de enviar para a morte um de seus soldados, o jovem amante da esposa. O Dr. Armstrong era um médico renomado, mas fora acusado de matar uma senhora durante uma cirurgia simples. Mr. Blore é policial, e foi acusado de prender e dar falso testemunho sobre uma pessoa inocente. O Sr. e a Sra. Rogers são o mordomo e a empregada da mansão, eles foram acusados de matar a senhora de quem cuidaram no passado, e herdar algo substancial em sua herança.

Um barco deixa todos no local, e avisa que caso tenha mal tempo eles precisam esperar até o barco conseguir voltar, até lá, estão ilhados. 

Como um a um eles começam a morrer, descobrem que o assassino já está entre eles...


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Esté é um dos livros mais famosos da Agatha Christie, lançado originalmente em 1939 é um dos livros mais lidos da autora. É também considerado um marco na literatura policial, somos apresentados a um cenário isolado, uma festa de gala e a personagens que são todos suspeitos em potencial. E pelo passado de cada um, pessoas com quem os leitores se importam muito pouco quando começam a morrer.

Algo intrigante e diferente dos demais livros da Agatha, é de não termos um "mocinho" ou um detetive famoso à frente da investigação. Eles estão lá sozinhos, um a um começam a morrer, eles sabem que um deles é o assassino, e não sabem quem é a pessoa. Todos desconfiam de todos, é um caos em construção. 

É um livro que prende da primeira à última página, impossível parar de ler. Eu suspeitei de algumas pessoas, acertei alguns palpites e errei outros, amei demais a leitura. Ao terminar minha nota tinha sido 4.5 (tirei meio ponto por não acreditar em uma das explicações finais). Mas mudei a nota agora ao escrever esta resenha, impossível não amar o brilhantismo da autora na construção desses personagens. E essa trama incrível e muito bem bolada!

Como eu disse antes, nenhum dos personagens é particularmente agradável. Achei alguns mais interessantes, como o misterioso Lombard, e a professora, mas você não liga para quem morre, afinal, claramente todos foram culpados pelos crimes dos quais foram acusados. E o final, mesmo eu tendo matado algumas charadas, me surpreendeu muito, Agatha fechou a trama de forma muito interessante. Este merecia uma nova adaptação no cinema e pelo jeito tem chance, vamos aguardar. 

[ALERTA DE SPOILERS] Quando os personagens começam a morrer eu desconfiei de cara do juiz, por ser alguém rígido e muito cheio de certezas de suas opiniões. Desconfiei também do Lombard, mas logo percebi que ele era mais interesseiro do que cruel. Só que o juiz é o sexto a morrer. Então comecei a suspeitar que um dos primeiros não havia morrido, ou que tinha mais alguém escondido na ilha (eles revistaram tudo e não acharam ninguém). E no final... era o juiz. Ele fingiu sua própria morte (o que nem desconfiei porque ele levou um tiro na cabeça) com a ajuda do Dr. Armstrong, que foi convencido que era esta a melhor forma de encontrar o culpado. Logo depois o médico morre, e os três restantes estão apavorados. Todas as mortes foram bem interessantes, mas o final do juiz foi a parte da história em que não acreditei. Depois de todos mortos, da polícia perdida sem saber como 10 pessoas morreram e não tinha mais ninguém lá, aparece uma carta em uma garrafa na água, onde o juiz conta como planejou e executou tudo. Ele sofria de uma doença terminal, tinha pouco tempo de vida, e para morrer da forma como havia morrido na história (com um tiro na cabeça), ele deita na cama e prende a arma como algo na porta, ai puxa a linha, a arma dispara e ele morre... isso tudo dar certo com 1 tiro foi o que não me convenceu rs. [FIM DOS SPOILERS]

Eu amei a história e indico muito, um dos meus favoritos da autora, leiam!

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Avaliação (1 a 5):

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