Psicopata americano - Bret Easton Ellis
>> segunda-feira, 11 de novembro de 2024
ELLIS, Bret Easton. Psicopata Americano. Rio de Janeiro: Editora DarkSide Books, 2020. 432p. Título original: American Psycho.
"Não havia uma emoção clara e identificável em mim, exceto a ganância e, possivelmente, o desgosto completo. Eu tinha todas as características de um ser humano - carne, sangue, pelo, cabelo -, mas minha despersonalização era tão intensa, havia se aprofundado tanto, que a habilidade normal de sentir compaixão fora erradicada, vítima de um apagamento lento e cheio de propósito. Eu simplesmente estava imitando a realidade, uma semelhança tosca com um ser humano, com apenas um recanto mal iluminado da minha mente funcionando. Algo horrível estava acontecendo e eu ainda não conseguia entender o quê - ainda não podia tocar com meus dedos." p. 301
Publicado pela primeira vez em 1991, Psicopata Americano causou polêmicas no mercado editorial e quase não foi publicado. A quantidade de ameaças de morte recebidas pelo autor e o conteúdo extremamente pesado do livro, fez com que ele fosse recusado em editoras de vários países no mundo. Ele foi publicado embalado, proibido para menores de 18 anos e acusado de sadismo, violência extrema, pornografia e misoginía. Aos olhos de muitos, Bret Easton Ellis se tornou o verdadeiro psicopata americano. E é sobre esse livro, que vou falar hoje.
Patrick Bateman é, aparentemente, o sonho de todas as moças solteiras de NY. Com apenas 27 anos ele é bonito, herdeiro de uma grande fortuna e tem um ótimo emprego em um conhecido banco de investimentos em Wall Street. No Upper West Side no final da década de 80, ele tinha uma vida repleta de festas, boates, jantares em bons restaurantes, tudo regado a muita bebida, cocaína e outros entorpecentes. Formado em Harvard, Bateman é muito inteligente e tem uma memória invejável.
Além dos vícios acima, ele também é viciado em roupas de grife e suas inúmeras combinações, em tratamentos estéticos, bronzeamento artificial, skincare e equipamentos eletrônicos. Procurado sempre pelos colegas para orientações de moda, está sempre por dentro dos novos e mais caros restaurantes da cidade. Ele mora em um prédio chique, inclusive, é vizinho do Tom Cruise.
Por trás dessa fachada de normalidade e relacionamentos vazios, Patrick possui a mente e os desejos de um serial killer, ele despreza minorias, é misógino, odeia moradores de rua e possui profundo desprezo, bom, por todo mundo.
Suas noites seriam apenas de farra, se não fosse os crimes hediondos que ele descreve com detalhes sórdidos. Sem razão aparente, sem um perfil de vítimas, ele mata indiscriminadamente, cada vez de forma mais aterrorizante. Ele tortura suas vítimas de formas grotescas, mata animais, mata até uma criança. Mendigos, mulheres, velhos conhecidos, ninguém está a salvo de sua psicopatia.
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Essa está longe de ser uma história de serial killer, e foi uma leitura bem diferente do que imaginei, mesmo sabendo o quanto seria pesada e forte a história. Essa é uma crítica ao capitalismo exacerbado, aos valores corrompidos de uma sociedade que só pensa no presente, uma crítica ao consumismo exagerado e a uma vida apenas de aparências.
A construção do personagem, embora muito maçante, não deixa de ser interessante. Porque no meio a inúmeras e cansativas repetições sobre roupas de marcas, estética de todos os personagens, hobbies e festas e afins, vemos a desumanização do personagem. Patrick é descrito como um homem misógino, preconceituoso, egoísta, materialista, xenófobo e narcisista. Ele é uma pessoa horrível, dos piores personagens que já tive o prazer de ler, e mesmo assim, é viciante acompanhar a narrativa de sua vida vazia.
E como o livro é todo narrado por ele, só sabemos o que está acontecendo pelos seus pensamentos. Isso, para mim, enfraquece a narrativa porque muita coisa fica pouco crível, além de ser um livro grande e cansativo de se ler. As outras pessoas são todas descritas superficialmente, apenas pelo seu modo de vestir, e pela forma em que ele classifica as mulheres; que são basicamente um misto de peso, idade, tamanho da bunda e dos peitos. Misoginia a parte, é mais uma forma de demonstrar o quanto Patrick só enxerga as aparências.
A trama se desenvolve com o crescimento da psicopatia do protagonista. Cada vez temos crimes mais cruéis, torturas mais grotescas e pessoas ainda mais inocentes morrendo. Eu achei o livro todo meio bizarro, e ficava sem entender, muitas vezes, se os crimes estavam realmente acontecendo ou era só na imaginação criativa dele. E nas suas alucinações a base de whisky, cocaína e medicamentos controlados. E isso foi deixando a narrativa pouco crível para mim, porque ou era tudo imaginação, ou não fazia o menor sentido ele não ter sido preso ainda, ou ser investigado.
O livro foi adaptado ao cinema, muitas pessoas inclusive, afirmam que o filme é bem melhor que o livro. O filme foi adaptado em 2000, dirigido por Mary Harron e sendo estrelado por Christian Bale, no papel de Patrick Bateman.
No geral eu esperava mais do livro, por ser tão comentado. As médias de notas não são tão altas, sendo: 3.8 no Skoob e 3.81 no Goodreads. Superando a narrativa descritiva, eu esperava muito mais do final depois de um livro tão grande e tudo fica muito aberto. Para quem gosta de finais fechados, é uma decepção! [ALERTA DE SPOILERS] O final deixa claro que muitas mortes só aconteceram na cabeça dele. Owen, um colega de trabalho, que ele descreveu vivamente como o assassinou, está vivo e bem, morando em Londres. Um morador de rua, que tinha um cachorro, que ele também descreve o assassinato, aparece novamente, porém o homem está cego dos dois olhos, e pela reação do cachorro assustada ao vê-lo e do medo do homem ao ouvir sua voz, ficou claro para mim que ele cegou o pobre do homem. No final ele é assaltado por um taxista, que afirma que ele matou uma pessoa e que tem um retrato falado dele no centro da cidade. Ele conta que a namorada está com medo porque uma vizinha foi morta e decapitada. Logo depois fala que tinha um cabeça na sua geladeira. E é isso, fica tudo assim não tão dito. E todas as outras mortas? Quais foram reais e quais foram alucinações? Não dá para saber, termina assim. [FIM DOS SPOILERS].
As descrições perturbadores de assassinatos, torturas e relações sexuais torna realmente esse livro não indico para menores de idade. Também não é um livro que eu indicaria para qualquer leitor, precisa ser forte para dar conta de 432 páginas que envolvem até canibalismo. Quem leu me conte o que achou!
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Avaliação (1 a 5):