A Boa Filha - Karin Slaughter
>> segunda-feira, 25 de novembro de 2024
SLAUGHTER, Karin. A Boa Filha. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2018. 464p. Título original: The Good Daughter.
"Eu te amo, sei que você me ama, mas todas as vezes que nos vemos lembramos do que aconteceu e nenhuma de nós conseguirá seguir em frente se estivermos sempre olhando para trás." p.193
Eu conheci a autora através da série policial, Will Trent, que adoro. Infelizmente a Record tinha parado de lançar no Brasil, a Harper Collins começou a lançar mas lá na frente, e eu fiquei com a série parada. Agora, finalmente, a Record lançou o 5º livro, vamos torcer para sair o restante. Bom, esse é um estilo diferente da Karin, um thriller com um drama forte e muito bem construído. Confiram o que achei de A boa filha.
Charlotte e Samantha Quinn eram adolescentes quando uma tragédia mudou para sempre a vida das duas. Filhas de um advogado de defesa famoso na pequena cidade de Pikeville, Rusty, era odiado pela comunidade por defender os piores criminosos. Ele não concordava com a pena de morte e acreditava que todos tinham direito a uma boa defesa. Com isso ele acabou virando advogado das piores pessoas da região, e era odiado na cidade.
Esse ódio aumentou depois dele defender um homem acusado do estupro de uma adolescente, e inocentar o acusado. E de soltar outros homens considerados perigosos. Primeiro alguém incendiou a casa da família. Eles se mudaram para uma fazenda isolada, que pertencia a outro cliente de Rusty. Logo em seguida, dois homens mascarados invadem a fazenda em busca de Rusty, que estava trabalhando. Eles acabam assassinando a mãe das meninas, Gamma, e destruindo a vida das filhas.
Com apenas 16 anos, Sam foi baleada e enterrada viva. Tudo o que passou para sobreviver, e para recuperar parte de sua vida, acabou fazendo com que ela odiasse o pai e àquela cidade. Ela se mudou, se formou em direito, e construiu uma carreira de sucesso em Nova York. Charlie tinha apenas 13 anos na época, ela correu para salvar sua vida. Hoje, também é advogada, e trabalha junto com o pai. Charlie se casou com Ben, mas agora as coisas estavam difíceis entre eles.
Vinte e sete anos se passaram desde aquela tragédia. Ninguém realmente se recuperou. Rusty viveu com o coração partido pela perda da esposa e o sofrimento das filhas. Bebia e fumava muito, tinha muitos problemas de saúde em decorrência disso. Sam nunca mais voltara à cidade, ela e Charlie não se falavam mais. Charlie e Ben estavam separados há 9 meses, e mesmo de coração partido, ela não conseguia resolver os problemas com o marido.
Em uma manhã comum, um tiroteio acontece na escola local. Duas pessoas morrem. Charlie estava no local e é uma testemunha. Seu pai, claro, assume a defesa da garota acusada como atiradora. E as consequência de tudo isso, acabam fazendo com que Sam viaje para visitar a família. Agora, elas finalmente precisam lidar com o passado, para seguir em frente.
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O enredo é forte, bem construído e muito marcante. Chorei de soluçar em determinada parte, o que faz deste livro, para mim, mais um drama do que um thriller. Não temos grandes mistérios, nem um grande suspense, temos a trajetória de uma família em busca de superação.
Charlie e Sam são protagonistas incríveis! Tudo pelo que elas passaram tão novas, ver a mãe morrer daquela maneira brutal, e depois se recuperar dos inúmeros ferimentos físicos que sofreram e mais ainda o terror psicológico, tudo muito pesado. Rusty é um personagem mais complexo, por um lado é visível que ele amava a família, por outro, ele sempre colocou o trabalho em primeiro lugar. E seu trabalho, foi o que causou indiretamente tudo aquilo.
Um fato interessante é que este livro tem um conto que o antecede, O último suspiro (Skoob). Eu não vi necessidade de uma resenha só do conto, que não tem grandes reviravoltas. Nele conhecemos Charlie, 14 anos após tudo o que aconteceu, com 27 anos, advogando, casada e feliz com Ben. Na história Charlie defende Flora, uma adolescente que diz está sendo abusada pelos avós, seus tutores depois que perdeu a mãe, e implora ajuda. Charlie lembrou de si mesma naquela idade, sem a mãe, e fez de tudo para ajudar a garota. No conto ela descobre que está grávida. Eu achei que Flora, o destaque do conto, apareceria nesse livro. Mas não tem nenhuma relação, só serviu para conhecermos mais de Charlie. O conto narra toda a tragédia delas pelos olhos de Charlie, e agora no livro, lemos tudo novamente, narrado por Sam.
Aqui a história começa mais 13 anos depois disso. Com Charlie com 40 anos, separada de Ben há 9 meses, sem filhos, e dormindo com um desconhecido no carro. Esse "incidente" foi o que a levou a escola no dia do tiroteio, ela trocou de celular sem perceber, com o homem desconhecido, um professor da escola, e vai lá para buscar seu telefone e entregar o dele. E aí, tudo acontece. E Ben, seu marido ou ex-marido (não se sabe ao certo no momento) é assistente do promotor, e já fica sabendo tudo o que aconteceu entre os dois. E aqui, finalmente, ficamos sabendo tudo o que aconteceu com Sam e sua vida atual (no conto nem deixa claro se ela sobreviveu ao ataque).
Eu não achei que o livro teve um grande ápice no final, mas achei lindo alguns desdobramentos, e as irmãs tentando se entender, tentando entender o pai e suas escolhas. A parte mais marcante para mim aconteceu um pouco antes do final. [ALERTA DE SPOILER] Algo que fica claro no livro é que Charlie nunca conta realmente o que está acontecendo, nós sabemos que ela sofreu vários abortos e que ela e Ben não tiveram filhos, sabemos que ela não consegue se abrir com ninguém. Mas ela só conta a verdade para Sam, depois que o pai morre em decorrência de um atentado. Em O último suspiro, ela narra todo o ataque a família, mas conta que correu quando Sam levou um tiro e foi enterrada viva. Um dos bandidos a persegue, um pedófilo, mas ela consegue escapar. Só agora, quase no final deste livro, ela conta a verdade. Que ela não conseguiu escapar, que foi estuprada, sodomizada, até uma faca o FDP do homem enfiou nela, a cena me fez chorar de soluçar. E aí deu para entender o porquê dela se culpar pelos abortos, e todos os seus traumas atuais. E no final, descobrem também que um dos atacantes não era o bandido que foi assassinado depois, era alguém que escapou e nunca pagou pelo crime, até confessar para elas. [FIM DOS SPOILERS]
Eu adorei a leitura, embora não seja um livro fácil de ler, bem perturbador e com muitos gatilhos com toda a violência que elas sofreram. Mas para os fãs da autora e desse estilo, é mais um livro imperdível. Leiam!
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