Um milhão de pequenas coisas - Jodi Picoult
>> segunda-feira, 5 de agosto de 2024
PICOULT, Jodi. Um milhão de pequenas coisas. São Paulo: Editora Verus, 2023. 518p. Título original: Smal great thing.
"Você está destinada a fazer pequenas grandes coisas, ela me disse. Como o dr. King falou. Ela estava se referindo a uma de suas citações preferidas: Se eu não puder fazer coisas grandes, posso fazer coisas pequenas de forma grandiosa. Mas, continuou, não se esqueça de onde você veio." p.192
Eu sou fã da Jodi Picout já há muitos anos, é uma das autoras de dramas favoritas na minha estante. Este livro fala sobre preconceito racial e ouvi muitos comentários positivos sobre ele. Confiram o que achei de Um milhão de pequenas coisas.
Ruth Jefferson lutou a vida inteira para crescer na vida e dar valor ao esforço que a mãe sempre fez por ela e sua irmã mais velha. A mãe trabalha como empregada para uma família rica a vida inteira. Ruth, muito inteligente, saiu da escola pública do bairro onde viviam e ganhou uma bolsa de estudos. Ela era uma das únicas crianças pretas na escola, mesmo outros como ela, vinham de famílias ricas, então ela nunca se misturava, não tinha muitos amigos. Enquanto isso, sua irmã, Adisa, estudou na escola do bairro e não gostava de se misturar com brancos, era uma militante da raça. Já adulta, cursou a faculdade de enfermagem, fez sua especialização e trabalha por 20 anos como enfermeira obstetra no mesmo hospital em Connecticut.
Seu marido morreu na guerra. Com uma carreira sólida, uma boa casa em um bairro bom, onde a maioria dos moradores são brancos, ela cria sozinha o único filho, Edison. Um adolescente estudioso, que está se inscrevendo para bolsas em várias universidades. Sua vida muda para sempre em apenas um turno no hospital.
Turk e Brittany Bauer acabam de ter o primeiro filho, Davis. Ruth entra para fazer os cuidados no bebê ao assumir o turno. O que ela não sabe ainda, é que o casal é racista, fazem parte de um grupo de supremacia branco, e falam que não querem que ela toque em seu filho. Ela explica a situação para sua supervisora, que apenas anota em um post-it que nenhum afroamericano deve atender aquele bebê, Ruth é a única enfermeira afro-americana no hospital. Indignada, ela reclama, mas vai atender outros pacientes.
No dia seguinte, Ruth está sozinha no berçário quando o bebê Davis para de respirar inesperadamente, logo após fazer uma circuncisão. E agora, o que ela deve fazer? Descumprir ordens ao cuidar do bebê? Ou não encostar nele enquanto aguarda outro atendente? E ela sabe que sua chefe e a outra enfermeira de plantão, estão participando de uma cesariana de emergência. Ruth èxita, e como resultado o hospital lava as mãos. Ela é demitida e acusada de um crime grave.
Kennedy McQuarrie, uma defensora pública branca, é casada e tem uma filhinha de 4 anos. Ela é nova na defensoria e está atolada de inúmeros casos mais simples. Mas acaba pegando o caso de Ruth, seu primeiro caso mais grave. Ela está determinada a defender sua cliente de forma justa, mas insiste que mencionar raça e preconceito racial no tribunal não é uma escolha. Afirma que o julgamento seria apenas sobre racismo, e que Ruth teria maior chance de perder.
Ruth tenta seguir com a vida normalmente enquanto aguarda o julgamento. Mas agora precisa lidar com um filho revoltado e que começa a tomar atitudes erradas, um emprego diferente para pagar as contas e o clamor dos dois lados dessa disputa, quando seu caso ganha visibilidade na mídia. Ruth e Kennedy precisam confiar uma na outra, e ambas percebem que tudo que aprenderam a vida toda, pode estar errado e insuficiente.
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O começo do livro já me pegou de jeito! Jodi sempre tem este dom, de prender o leitor nas primeiras páginas. Eu chorei em vários momentos, fiquei revoltada, amei e odiei alguns personagens. O engraçado é que eu achei que ele seria um nota 5 e favorito desde o começo, mas acabei me decepcionando um pouco com o final. Conto tudo para vocês abaixo!
Falando sobre a protagonista, Ruth é uma personagem incrível! E a forma como ela sofre tantos preconceitos por sua cor, diariamente, e releva tudo porque acredita que a pessoa nem sabe que aquilo é errado, ou fala "sem maldade"... Ou se for errado, o que ela pode fazer? É bem triste e revoltante. E do outro lado temos Turk, um cara branco nojento, mas que foi moldado desde muito novo para o ódio, que quer se vingar de Ruth, pois acredita que ela é a culpada do que aconteceu com seu filho recém nascido. É tudo tão pesado em tantos níveis que é difícil digerir a história.
O enredo é muito pesado, algumas vezes precisei parar a leitura e respirar. Morrendo de pena da Ruth e pensando que tudo estava apenas começando, que ela ainda sofreria muito mais injustiças no decorrer do livro, foi de partir o coração. O Turk é tão horrível, que não consigo sentir pena nem pelo bebê dele, confesso. A narrativa descreve tantas formas de preconceito velada, situações onde uma pessoa branca nem percebe que está sendo ofensiva que fico pensando que a realidade é ainda pior. Afinal, Jodi é uma mulher branca, será que sua narrativa pode ser considerada uma base fiel para essas nuances do racismo?
O livro alterna a narrativa entre Ruth, Turk e Kennedy. As partes de Turk eram tão horríveis que eu custava para terminar, minha vontade era pular. Fora que tive zero empatia por ele e nenhum interesse sobre o que aconteceria no futuro com ele e sua família. E gostei menos ainda do que a autora escolheu no final para este personagem.
O enredo é forte e devastador. O preconceito é algo que precisa ser falado, principalmente este preconceito sutil, velado, que não é considerado racismo. A falta de oportunidade das minorias e as consequências disso na vida das famílias. E como cada personagem reage diferente a isso. Desde a mãe de Ruth, a própria protagonista e sua irmã, que têm visões diferentes do mundo e de como precisam ligar com isto no dia a dia.
O final teve sua cota de emoção, mas no geral deixou a desejar para mim. Achei a escolha da autora um pouco medrosa, ou que ela passou pano em alguns personagens hehe. E não gostei da narrativa final, para mim o livro tinha que terminar com Ruth narrando, e isso não aconteceu. [ALERTA DE SPOILERS] Como já disse antes, não gostei de Turk e sua esposa, não senti empatia, não torci por eles e não senti peninha porque ele virou um supremacista pelo "meio em que vivia" e por não ter tido boas influências positivas quando novo. A escolha dele foi espancar o pai que assumiu sua homoxesualidade e se unir a um grupo de ódio. Então achei aquela redenção dele no final completamente desnecessária! O pior ainda, foi o livro terminar narrado por ele, um homem mudado após seis anos, e contando o que aconteceu com Ruth por alto, já que ele a reencontra por acaso. Eu queria um final com a Ruth, contado por ela, uma mulher forte, guerreira e batalhadora. Que lutou a vida inteira para ter uma vida melhor e para proporcionar oportunidades melhores para o filho, sozinha. E aí no final deu também entender que ela foi bem sucedida porque se casou novamente, com um homem rico (o tal pastor que tenta ajudá-la depois que ela é presa). Que raiva que fiquei disso. [FIM DOS SPOILERS].
Apesar de não ter amado o final, eu amei o que o livro representa e a história como um todo. Vale muito a pena a leitura, mas preparem os lencinhos. Leiam!
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Avaliação (1 a 5):