Confissões - Kanae Minato

MINATO, Kanae. Confissões. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2020. 192p. Título original: Kokuhaku.

"Olhando para trás, no entanto, percebo que realmente éramos uma família feliz e normal... até isso tudo acontecer." p.104

Esse livro deu o que falar quando foi lançado, um thriller psicológico pesado e muito perturbador. Eu vi várias indicações e comprei, mas acabou ficando parado na estante. Hoje conto para vocês o que achei de Confissões da japonesa Kanae Minato. 

A professora Yuko Moriguchi era dedicada à profissão de ensinar e às atividades da escola onde trabalhava. Sua turma de ensino fundamental era formada por crianças inteligentes e talentosas, em um meio muito competitivo.  Yoko era mãe solteira, depois que seu noivo desistiu do casamento ao ser diagnosticado com HIV. Ela e a filha não eram positivas e ela criava sozinha a pequena Manami, de 4 anos. Quando acontecia algum problema com a babá ou algo do tipo, ela acabava levando a filha com ela para escolas. Várias crianças brincavam com Manami enquanto ela estava ocupada.

Até que um dia, uma tragédia acontece, e sua filhinha morre afogada na piscina da escola. O que inicialmente pareceu apenas um trágico acidente, muda completamente, quando a professora descobre, por acaso, que sua filha foi assassinada! E investigando, chega a conclusão de que dois de seus alunos a mataram. 

Ela decide pedir demissão, mas antes disso, planeja uma lição para os culpados, que ninguém nunca irá esquecer. Sua última aula, é o início de sua vingança. 

"Não sei o que aconteceu primeiro: a filhinha de Moriguchi recobrar a consciência e olhar para mim, ou eu soltá-la dentro da água." p. 121

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Complexo é a palavra que melhor define este livro, eu não amei a leitura, algumas coisas me incomodaram, mas por outro lado fiquei impactada com a narrativa forte da autora e os desdobramentos cruéis da obra. A sensação que tive é que abriram "a caixa de Pandora" e depois disso, as consequências foram incontroláveis. 

O primeiro ponto a se destacar é a narrativa, é um livro bem fino, onde cada capítulo é contado por um narrador diferente. E aos poucos vamos vendo cada personagem se revelar, mostrando um lado sombrio e destrutivo. Primeiro temos Yuko, a professora que diretamente causa todos os desdobramentos. A dor de perder sua única filha é inimaginável, mas a forma como ela escolhe se vingar (ao invés de ir à polícia e denunciar os dois alunos) foi bizarra. Ela coloca em curso um trem desgovernado. Conta para toda a turma que sua filha foi assassinada, fala que os alunos A e B a mataram e que ela não iria citar nomes, mas todos sabem quem é no decorrer de sua narrativa. E ela afirma ter infectado esses dois alunos com o vírus do HIV no leite que eles tomavam todos os dias na escola. 

Depois dela temos a narrativa de Mizuki, uma aluna modelo que ama a ex-professora e fica obcecada pelo que aconteceu. O capítulo 3 é narrado pela irmã de B, depois que uma tragédia abala sua família. O capítulo 4 é narrado por B, ou Naoki. Ele conta tudo o que aconteceu antes, o porquê de se envolver com A e as consequências de tudo. Depois dele temos a narrativa de A 0u Shuya no capítulo 5, onde ele também descreve tudo o que aconteceu e o porquê de ter resolvido matar alguém. E por último temos novamente a narrativa da professora, que é o capítulo final. 

É perturbadora a forma como todos os personagens tinham uma vida estável, uma família, e como a maioria deles começa a ter pensamentos maldosos de repente. A sensação de querer morrer ou de querer matar alguém inflama em todos eles. E isso considerando que estamos falando de crianças de 13 anos, em metade das narrativas. Eu não me apeguei a nenhum personagem, achei todos eles bizarros, mas senti pena das crianças em alguns momentos. 

Outro aspecto aqui, que pode passar despercebido pelo leitor ocidental, é a rígida cultura japonesa. Onde tudo é mais concorrido, onde tirar notas máximas é muito mais importante e falhar não é uma opção. Achei pesada a forma preconceituosa com que tratam o HIV, e o assunto é explorado apenas desta maneira, como se ninguém pudesse interagir ou tocar em alguém supostamente infectado. Fico pensando se isso foi uma falha da autora, ou se também faz parte da cultura local. 

No geral achei tudo muito interessante, embora muito pesado, mas alguns pontos me incomodaram no final. O primeiro deles é a morte de um personagem, que praticamente não é comentada. Fiquei pensando que aquilo teria que ter tido outros desdobramentos, uma criança desaparecida seria investigada imediatamente pela polícia. E achei o final muitoooo aberto, a gente não sabe o que aconteceu realmente no final e quais as consequência de tudo para A e para a professora. [ALERTA DE SPOILERS] No final A esconde uma bomba na escola e tenta explodi-la em um evento lotado, morrendo junto. Ele faz tudo isso para chamar a atenção da mãe, uma engenheira muito inteligente, que o abandonou com o pai apenas, ainda criança, para seguir sua carreira universitária. A professora acaba descobrindo tudo, tira a bomba da escola e, pasmem, arma de novo no prédio em que a mãe de A trabalha na universidade. A bomba explode, ela informa que a polícia está chegando para prendê-lo por isso e pelo assassinado de Mizuki e é isso, termina assim. Não sabemos se a bomba explodiu lá mesmo, quantas pessoas morreram, e nem o que acontece com A e a professora depois disso. [FIM DOS SPOILERS].

O livro foi adaptado para o cinema em 2010, eu nem tinha ouvido falar sobre o filme e agora fiquei curiosa para assistir.  Vou tentar procurar, pelo que vi não está disponível em nenhum streaming. 

Apesar de aberto, o final não deixa de surpreender e de ser muito diferente do esperado. Não que dê para tecer teorias nesse livro bizarro. Eu terminei pasma, demorei dias para digerir e conseguir opinar sobre o livro. E apesar de não ter amado, confesso, que fiquei curiosa para comprar os outros livros da autora! Conto para vocês futuramente hehe. Não é um livro que eu indico para todas, mas para quem curte tramas diferentes e thrillers pesados, leiam! 

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