Travessuras da menina má - Mario Vargas Llosa

>>  segunda-feira, 13 de maio de 2024

LLOSA, Mario Vargas. Travessuras da menina má. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2006. 304p. Título original: Travesuras de la niña mala.

"Também dessa vez, tive certeza de que nunca mais voltaria a saber dela. Como das anteriores, decidi firmemente, aos 38 anos, que iria me apaixonar por alguém menos evasivo e complicado, uma garota normal com quem pudesse ter uma relação sem sobressaltos, talvez até me casar e ter filhos.  Mas não foi isso o que ocorreu, porque na vida raramente as coisas acontecem como planejamos." p.119

Esse é mais um dos livros mais antigos parados na estante! Estou gostando muito de desapegar um pouco dos lançamentos e ler o que já tenho parado em casa. E esse livro foi mais um que merece a frase: "Por que não li antes?!".  Confiram o que achei de Travessuras da menina má do Mario Vargas Llosa. 

Peru, 1950
Ricardo Somocurcio era um adolescente no verão em que conheceu Lily, ela e a "irmã" diziam vir do Chile e ficaram conhecidas em Miraflores como "As Chilenitas". Desde aquela época tudo ao redor de Lily já era um mistério. Eles não sabiam onde ela morava, quem eram seus pais, só percebiam que devia ser mais pobre, usava sempre os mesmos vestidos e nunca convidou ninguém para ir a sua casa. Ricardo se apaixonou por ela perdidamente, ela negou seu pedido de namoro, mas os dois passaram aquele verão juntos. 

Criado por uma tia, após o falecimento dos pais, Ricardo sempre sonhou em morar na França. Lembra do pai falando de Paris, como se fosse o melhor lugar no mundo, e era lá que queria viver. 

Paris, 1960
Ricardo realiza o seu sonho, se muda para Paris. Mas com um diploma em direito de pouca serventia, luta para conseguir um bom emprego e se sustentar sem a ajuda da tia. Nas noites boêmias de Paris, gastando o menos possível para comer e viver, ele faz novos amigos. 

Um desses amigos, um cozinheiro que queria participar de uma grande revolução no Peru, levando o país ao comunismo depois do sucesso da revolução em Cuba, lhe pede ajuda para recepcionar três moças, que passaram por Paris e depois iram ser treinadas em Cuba. E uma dessas moças, conhecida como Arlette, não era ninguém menos do que a chilenita que Ricardo tanto amou. 

Eles ficam juntos por algumas semanas, mas logo ela tem que seguir viagem. Sem contar nada sobre sua vida, ela continua um mistério. Ele começa a chamá-la de "Menina má" de brincadeira, a mulher por quem se apaixonou, e que continuava partindo seu coração. Ricardo consegue se estabelecer na carreira de tradutor, e tenta economizar para comprar seu apartamento. 

Em uma dança de encontros e reencontros, Ricardo e a Menina Má (ela sempre mudando de nome e de marido), se reencontram várias vezes ao longo da vida, em diferentes partes do mundo. Ele nunca deixou de amá-la. Ela o apelidou de "Bom menino" e é para ele que ela volta nos piores momentos. Ao mesmo tempo, em que deixa claro que nunca iria se acomodar em uma vida simples.  E assim eles se encontram durante a vida... na Paris revolucionária dos anos 60; na Londres das drogas, da cultura hippie e do amor livre dos anos 70; na Tóquio dos grandes mafiosos; e na Madri em transição política dos anos 80.  

Uma história de amor impalpável, a vida cheia de alegrias e tristezas. Um retrato da vida como ela é, com um pano de fundo incrível da história mundial. 

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Primeira vez que leio algo do autor, ganhador do prêmio Nobel da Literatura em 2010, e já fiquei querendo ter mais livros dele na estante, a narrativa é excelente! Narrativa muito bem ambientada e a parte histórica foi muito bem narrada, inserida aos poucos no decorrer do romance. Este não é um romance "romântico", é uma história bem realista sobre o amor e suas desventuras.  

Ricardo é um protagonista excelente, um narrador simpático que prende o leitor do início ao fim. Em essência um bom moço, sem grandes ambições. Sua maior conquista é morar em Paris, e ele está feliz com seu sonho realizado. Ele leva uma vida simples, estuda muito e procura sempre melhorar em sua profissão. Faz bons amigos, mas nunca consegue se envolver romanticamente de verdade com outra moça, é obcecado pela "Menina Má" e sempre esteve apaixonado por ela. E não importa quantas vezes ela parta seu coração e o abandone por um homem rico qualquer, ele está lá, pronto para perdoá-la. Ricardo irrita às vezes com isso, ele é tão bonzinho que fica bobo, e passa a ser um capacho dos caprichos dela. 

Já a "Menina Má" não é uma personagem que vá atrair grande simpatia do leitor. Com sua ambição desenfreada e seu egoísmo latente, ela me matou de raiva ao longo do livro. Eu não torci para que os dois terminassem juntos, não conseguia torcer por ela, ou gostar dela. Embora a personagem tenha despertado muita pena em vários momentos. Ela escolheu seu caminho, mas não deixa de ter uma vida muito triste e sofrida por isso. Mesmo não me simpatizando com ela em nenhum momento, é uma personagem muito bem construída e muito intrigante. 

O que mais gostei do livro foi da parte histórica. O autor narra a história do Peru, Paris, Londres e diversos outros países ao longo do livro. O contexto histórico, as mudanças culturais, a descrição incrível de pessoas e lugares. Ele cita restaurantes de Paris que existem até hoje, fiquei encantada. 

O final foi agridoce, mas eu não esperava nada diferente. Achei que foi condizente com o restante da narrativa. [ALERTA DE SPOILER] No final a "Menina má" que tinha abandonado Ricardo mais uma vez, depois de estarem casados, para fugir com o marido de sua chefe, o procura no fundo do poço. Abandonada pelo tal senhor, com câncer e morrendo. E Ricardo, claro, irá cuidar dela até o fim. Nada disso é mostrado, mas dá a entender que ela irá morrer logo e enfim ele terá paz. Mas só que com ele já mais velho e também doente, fiquei com muita pena dele. [FIM DOS SPOILERS].

Eu adorei e espero ler outros livros do autor. Para quem gosta de romances mais maduros e bem escritos, esse é imperdível, leiam! 

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Avaliação (1 a 5):

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