Memórias de uma Gueixa - Arthur Golden
>> segunda-feira, 22 de abril de 2024
GOLDEN, Arthur. Memórias de uma gueixa. São Paulo: Editora Arqueiro, 2015. 592p. Título original: Memoirs of a geisha.
"Não posso lhe dizer o que nos guia nesta vida. Mas, quanto a mim, tombei para o lado do Presidente como uma pedra cai para a terra. Quando cortei meu lábio e encontrei o Sr. Tanaka. Quando minha mãe morreu e fui cruelmente vendida. Tudo era como uma torrente que cai sobre penhascos rochosos antes de chegar ao oceano." p. 450
Este é mais um dos antigos na estante e que finalmente consegui ler. Adoro diminuir a fila de espera, minha meta este ano é ler mais livros antigos parados na estante e diminuir as compras. Confiram o que achei de Memórias de uma gueixa do Arthur Golden.
Japão, 1929
Aos 9 anos Chiyo (o nome com que nascera) vivia em uma pequena aldeia de pescadores com os pais e a irmã mais velha, Satsu. A mãe estava muito doente e morreria em breve. O pai, um simples e idoso pescador, acaba concordando em enviar as filhas para longe, com um rico comerciante local. Sem saber, as duas são vendidas e enviadas para Kioto, o reduto das gueixas no Japão.
As duas irmãs são separadas, Chiyo fica vivendo em uma okiya, um lugar onde vivem as gueixas. Cada okiya tem uma "mãe", a administradora e dona do local, que cuida do dinheiro e de todas as necessidades das gueixas. Além dos empregados lá vivia a "Titia" a responsável por cuidar de tudo, a gueixa adulta, que era quem trazia dinheiro para a okiya e as gueixas aprendizes. Chiyo começa seu treinamento para se tornar uma gueixa ao lado de Abóbora, outra criança que vive no local.
Cada aprendiz já chega na okiya com uma dívida, que vai crescendo ao longo dos anos. Ela deve o valor que pagaram por ela quando foi vendida! Deve seus estudos, suas roupas e comidas ao longo dos anos. Ao se tornar adulta e ser iniciada como gueixa, ela continua sendo um pertence da okiya, já que todos os seus ganhos são usados para pagar sua "dívida".
Hatsumomo era a gueixa adulta que vivia em sua okiya. Desde o começo era implica com Chiyo e faz de tudo para prejudicá-la. Linda e muito disputada, no fundo ela tinha ciúme da nova aprendiz, que com seus olhos azuis claros acinzentados, se destacava em todo lugar. Ela será responsável por inúmeras surras e dívidas que Sayuri receberá durante seu crescimento.
Japão, 1938
Com uma guerra prestes a eclodir, a vida de todos começa a mudar radicalmente. Já adulta, agora conhecida como Sayuri, ela irá enfrentar seus maiores desafios.
No Japão, existe uma tradição onde eles falam de que uma pessoa é constituída, de qual elemento. Todos sempre disseram que Chiyo ou Sayuri era água. E assim seguiu sua vida, sem qualquer escolha ou controle por parte dela, seguindo com a correnteza. Sem saber onde vai parar, sem saber o que a espera no amanhã.
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Adorei a leitura! Um romance/drama muito bem escrito e com personagens inesquecíveis. Impossível não torcer pela pequena Chiyo e não sofrer por ela ao longo dos anos. Impossível não amar Sayuri e desejar muito que um dia ela encontre a felicidade.
Foi muito interessante conhecer mais sobre a cultura japonesa, nunca li nada sobre as gueixas, suas histórias e tradições. E embora esse seja um livro de ficção, a história se baseia em regras e comportamentos reais. Muito triste ver a forma como aquelas crianças eram criadas, sem escolhas, sendo forçadas a se prostituírem (embora elas não enxergassem assim) e tendo orgulho dessa posição. A cultura oriental e ocidental é muito diferente, e no livro podemos ver suas diferenças e semelhanças. É engraçado que as gueixas são comparadas a prostitutas pelos ocidentais. Mas eles não enxergam assim, as gueixas se enxergam como uma espécie de "esposa do lar", que vão ser cuidadas e sustentadas por um homem. Elas se comparam a todas as esposas ocidentais que tem um marido rico e vivem sem uma carreira...
Os personagens são todos muito interessantes. Hatsumomo é mais odiada, claro, a gueixa que faz de tudo para prejudicar Sayuri, orgulhosa e invejosa, ela não tem limites. Mas além da protagonista, temos também personagens interessantes como o homem conhecido como "O Presidente", por ser presidente de uma empresa local. Seu sócio e amigo, Nobu. A gueixa Mameha, uma das mais conhecida e bela da cidade.
Muitos fatos não posso contar para evitar spoilers, mas o drama da vida de Sayuri prende o leitor do início ao fim. O livro é bem descritivo, achei alguns momentos lentos, mas no geral a leitura flui muito bem.
A história é tão abusiva no que diz respeito às mulheres, que eu não esperava nada sobre o final. Não tinha muitas esperanças. E apesar de ser um livro de ficção, é bem revoltante saber que aquilo era real, mesmo tendo acontecido a tanto tempo atrás, a cultura mudou muito. O abismo entre o poder de escolha das mulheres do ocidente X oriente é muito bem mostrado. E apesar disso o final foi ótimo! O livro começa sendo narrado pela protagonista já idosa, então nós sabemos que ela vive em NY, mas não sabemos o que aconteceu e como foi para lá. [ALERTA DE SPOILERS] Durante toda a vida Sayuri idolatrava o tal Presidente, que foi gentil com ela quando ainda era uma adolescente sem futuro, uma empregada na Okiya. E ela sempre sonhou em se tornar uma gueixa para ficar com ele (no caso o homem seria o "danna" dela, o homem que a sustentava, pagava todas as suas despesas e seria seu amante). E no final isso acontece e ela fica com ele muitos anos, e depois acaba se mudando para NY, onde consegue abrir um negócio próprio. [FIM DOS SPOILERS]
O livro foi adaptado ao cinema em 2005. Com o título homônimo, a trama tem direção de Robert Marshall e roteiro de Robin Swicord, Akiva Goldsman. Estrelam Zhang Ziyi (Sayuri), Gong Li (Hatsumomo) e Michelle Yeoh (Mameya). O filme está disponível na Netflix. Eu gostei muito da adaptação, seguiu o livro fielmente nos acontecimentos mais importantes. Tem cortes e pequenas modificações, mas nada considerável.
Bom, eu adorei o livro e indico para o público adulto que curte bons romances e dramas, leiam!
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Avaliação (1 a 5):