O idiota - Fiódor Dostoiévski

>>  segunda-feira, 22 de janeiro de 2024



DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O idiota. São Paulo: Martin Claret, 2018. 712p. Título original: The Idiot. 

"- Não há aqui ninguém, ninguém que valha o seu dedo mínimo, nem o seu espírito, nem o seu coração! É mais honrado do que qualquer deles, mais nobre, melhor, mais bondoso, mais inteligente do que qualquer deles!" p. 400

Em mais uma das nossas leituras coletivas, eu li meu terceiro Dostoiévski! Eu amei Crime e castigo, um de seus livros mais famosos, e tenho tentado ler os outros livros do autor. E mais um clássico vai para a lista, confiram o que achei de O idiota

Lev Nikoláievitch Míchkin é um príncipe. O último descendente de uma família antiga e nobre, mas que não tem reino ou herança. Ele passou alguns anos na Suíça, se tratando de uma doença mental, não especificada, patrocinado por um russo rico e de bom coração. Ao voltar a Rússia, já bem melhor e tentando conseguir um emprego e recomeçar, ele conhece Parfion Rogójin, um herdeiro, filho de um rico comerciante.  

É Rogójin que lhe fala pela primeira vez de Nastássia Filíppovna, uma bela russa por quem está apaixonado. A moça é sustentada por um magnata, mas muitos desejam que ela se case e evite novos escândalos na cidade. De personalidade forte, Nastássia encanta e é temida por muitos. Míchkin logo desenvolve um encantamento por sua beleza, e deixa "salvá-la". 

Em São Petersburgo, o Príncipe procura o general Epantchin em busca de apoio, já que é o último parente da esposa do general. O general arruma um local para ele morar e fala sobre um possível emprego. Míchkin então consegue um quarto de aluguel na casa de Gánia, secretário do general, e o homem com quem querem casar Nastássia. 

Em seguida o Príncipe fica conhecendo a esposa do general, uma prima, e suas três lindas filhas.  A mais nova, Agláia, é a mais bela da família, e também uma moça com espírito livre. A mãe nunca sabe o que ela pensa, e se desespera pela felicidade da filha.  

Enquanto a maioria das pessoas enxergam e se referem ao Príncipe como um idiota, outros enxergam uma inteligência pura, e uma bondade que faz com que ele seja constantemente enganado. Míchkin tem o coração de uma criança, e nenhuma maldade. Esse coração irá colocá-lo em muitos problemas com duas mulheres fortes e determinadas. 

"Deus, no Céu, cada vez que vê um pecador o invocar, com todo o coração, tem a mesma alegria que uma mãe quando vê o primeiro sorriso no rostinho do filho." p.261-262

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A leitura fluiu muito bem no começo, tem trechos divertidos e personagens muito interessantes. Porém, a obra teve um desenvolvimento lento e o ritmo da leitura foi me cansando. No final, não foi um dos meus favoritos do autor, mas não deixou de ser uma leitura muito interessante. 

Narrando um panorama fictício da vida russa, o autor aborda as contradições sociais no Século XIX, mais uma vez discute temas polêmicos como a pena de morte, a existência de Deus e a política russa. O livro na verdade é um romance sobre o amor e o ódio, a riqueza X a pobreza, o bem e o mal. Míchkin, nosso protagonista, conhecido como "o idiota" é comparado com "Dom Quixote de La Mancha". Sua pureza de espírito é vista como uma doença mental, seu interesse em salvar  Nastássia de suas escolhas, a coloca como sua "Dulcinéia", bela e perfeita aos seus olhos. 

Os personagens são interessantes, principalmente Míchkin. Eu torci por este príncipe simpático, inocente e tão amável. Mas sabia que sua extrema bondade, não traria bons frutos no final de sua saga. Míchkin, de um lado, se envolve com pessoas ricas e influentes da sociedade, todos da família Epantchin e outros ligados a eles. Do outro lado, ele convive também com os jovens anarquistas e niilistas, que com sua hostilidade buscam uma revolução social. O príncipe sozinho, no meio de todos, aceita afronta e insultos, e mesmo assim está sempre pronto a ajudar e a ver o melhor de todos. 

Uma das partes mais interessantes são os sentimentos do Príncipe por Nastássia e Agláia. Pela primeira, ele sente compaixão, uma mulher jovem e lindíssima, que foi abusada por um homem rico, que a abandonou quando se cansou dela. E isso deixou sua mente perturbada para sempre. E por Agláia, uma mulher também muito bela e inteligente, ele se apaixona. E no final, quando precisa escolher, ele escolhe a compaixão. Porque acredita que Nastássia precisa dele para que não se destrua. 

O final me decepcionou bastante, muita coisa foi corrida e mal explicada. Eu queria mais de Agláia, a personagem que se apaixonou pelo coração puro de Míchkin. Queria mais também da mente perturbada de Nastássia. E no final, tudo foi jogado e temos um epílogo contando o que acontece depois. [ALERTA DE SPOILER] Com o príncipe se tornando realmente "o idiota" como a maioria se referia a ele. Depois de tanto sofrimento, sua mente quebrada parece que não poderá mais ser curada.  E ele volta para o centro de tratamento na Suíça. Isso depois que Rogójin, em um momento de loucura não explicado, mata sua amada Nastássia (que prestes a se casar com o Príncipe, foge com ele na hora da cerimônia). Ficamos sabendo depois que Agláia se casou com um falso conde e está afastada da família. [FIM DOS SPOILERS]. 

Como um livro de ficção eu esperava mais da história e seus desdobramentos. Como um clássico, o autor nunca decepciona em suas reflexões sobre religião, pena de morte, política e classes sociais, a existência de Deus, dentre outros temas. É um livro pesado e que precisa ser lido aos poucos. 

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