O rei do inverno - Bernard Cornwell
>> sexta-feira, 4 de agosto de 2023
CORNWELL, Bernard. O rei do inverno. 27 ed. São Paulo: Editora Record, 2015. 546p. (As crônicas de Artur, V.1). Título original: The winter king.
"Algumas vezes a loucura termina. Os Deuses decretam isso, e não os homens. Artur ficara louco de amor durante um verão, e tinha sido um bom verão apesar de nossas ocupações mesquinhas, porque um Artur feliz era um senhor divertido e generoso, mas enquanto o outono varria com o vento, chuva e folhas douradas, ele pareceu acordar de seu sonho de verão." p. 234
Tenho até vergonha ao pensar em quantos anos esse livro ficou parado na estante. Eu sempre ouvi falar muito bem sobre o Bernard Cornwell, mas apesar de comprar alguns livros (risos), não tinha ido nenhum até hoje. E esse finalmente saiu da fila! Confiram o que achei do primeiro volume da trilogia, As crônicas de Artur, com O rei do inverno.
Nosso narrador é Derfel Cadarn, um dos guerreiros de Artur. Ele conta a história no futuro quando, aparentemente, virou padre, e está escrevendo a história para a Rainha Igrane. Logo no começo, ele afirma que essa é a história mais real possível de como tudo aconteceu. E que tudo, provavelmente, seria mudado e alterado depois, para parecer mais romântico. Afirma que a história original é bem mais triste, e sangrenta. E é assim que somos iniciados a história de um poderoso guerreiro britânico, que luta contra os saxões para manter unida a Britânia ( que depois foi chamada de Grã Bretanha; formada pela Inglaterra, Escócia e País de Gales) no século V.
Ainda criança, a vila onde vivia Derfel foi invadida, os homens foram mortos, as mulheres abusadas e escravizadas, e as crianças foram jogadas no poço da morte por um Druida (como eles chamavam os feiticeiros) para um sacrifício aos deuses. Mas Derfel sobreviveu, e por isso era respeitado, e até temido. Ele foi criado por Merlin, em Tor, onde também vivia Morgana, uma feiticeira e filha bastarda do Rei Uther, além de ser meia-irmã de Artur.
Quando o filho legítimo e único herdeiro do trono de Uther morre, todas as esperanças se voltam para sua nora grávida. Ele culpa Artur pela morte do filho, e jamais deixaria o reino para seu bastardo. Sua nora dá a luz a Mordred, um bebê que nasceu com o pé torto (um sinal de mau agouro), mas que era o legítimo príncipe herdeiro. Todos os reinos juraram protegê-lo, mas quando Uther morreu, o reino ficou dividido e muitos são os que querem o trono.
Um desses governantes, Gundleus, tenta matar o príncipe, então com apenas 3 anos. Ele é combatido e foge quando Artur chega para defender a vida do príncipe e dos que sobreviveram ao massacre em Tor. Depois disso, Derfel se torna um dos guerreiros de Artur, e cheio de admiração, parte com ele para a próxima batalha.
"Merlin sempre dizia que o destino é inexorável. Muita coisa resultou daquela cerimônia na clareira florida ao lado do riacho. Tantos morreram! Houve tanta dor, tanto sangue e tantas lágrimas que dariam para formar um grande rio; mas, com o tempo, as marés se acalmaram, novos rios se juntaram, e as lágrimas seguiram para o grande mar aberto e algumas pessoas se esqueceram de como tudo começou. O tempo da glória tinha chegado, mas o que poderia ter sido nunca foi, e de todos os que foram feridos por aquele momento ao sol, Artur foi o mais atingido. Mas naquele dia ele estava feliz." p. 230
Artur quer paz, ele conversa com todos os principais governantes para selar um acordo e unir a Britânia. Ele protegeria o reino até que Mordred chegasse à maioridade. Como parte do acordo, ele precisa se casar com a belíssima filha do Rei Gorfyddyd, a princesa Ceinwyn. Quando tudo parecia dar certo, Artur, já noivo, se apaixona perdidamente por uma linda ruiva de olhos verdes, que daria fim a todos os seus sonhos de paz, Guinevere. Eles fogem para se casar, uma ofensa que nunca será perdoada pelo pai da princesa Ceinwyn. E dar-se início a uma das maiores guerras que já existiu.
"A notícia do casamento ressoou pela Britânia como a lança de um Deus batendo num escudo." p. 230
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Mesmo tendo expectativas altas por tudo que já li sobre o autor, a leitura me surpreendeu! Um épico incrível e muito bem narrado. É uma história completa, tem um enredo muito interessante e parcialmente baseado em fatos reais, personagens excelentes e uma narrativa que prende o leitor do início ao fim. E Cornwell, mesmo narrando eventos tão pesados, tem uma narrativa quase poética. O livro é denso, é enorme, e vale cada página! Eu só espero não precisar esperar mais tantos anos para ler os dois outros livros da trilogia.
O livro tem dois grandes protagonistas, Artur e Merlin. O primeiro, o guerreiro mais importante, o homem que todos esperam que seja o rei ao invés daquela criança birrenta. Artur é justo, resiliente, tenta agir com justiça e sonha com um futuro simples e em paz. Obviamente ele também é inocente demais, tolo demais e apaixonado demais hehe. Já Merlin, é um grande feiticeiro, um homem que busca pelos 13 tesouros da Birmânia, e acredita que quando encontrar todos, vai ter grande poder com os Deuses, e restaurar o país para como era antigamente. Merlin passa grande parte do livro desaparecido, mas quando finalmente aparece, cumpre o prometido em tudo o que foi contado sobre ele.
Mas, o verdadeiro protagonista desta história é Derfel, um homem simples, que se torna um dos principais guerreiros de Artur. E que, no futuro, inexplicavelmente se torna um padre (boa parte do livro tem disputa entre os que acreditam e cultuam os antigos deuses e os feiticeiros, contra os cristãos). Ainda não dá para entender como Derfel chegou até aquele momento, mas aos poucos ele vai contando toda a história de Artur, e como tudo começou.
As lendas do Rei Artur já foram exploradas em inúmeros filmes e livros. Um dos mais famosos, a Coleção As Brumas de Avalon, eu li ainda na adolescência. E todos falam do poder de Artur, de todos os cavalheiros, de mulheres belíssimas e de guerreiros inesquecíveis, como Lancelot. A maioria retrata Merlin como um mago belo e poderoso, sempre disposto a ajudar Artur; a bela e poderosa guerreira Morgana e por aí vai. Aqui, Morgana é uma mulher mais velha, uma feiticeira com o rosto deformado e coberto por uma máscara. Lancelot é um príncipe covarde, que usa de vários artifícios para que todos acreditem que ele é um grande guerreiro. Guinevere uma mulher bela e bastante manipuladora, que se casa com Artur quase no momento em que ele a vê. Temos um Artur que é muito mais guerreiro, do que um rei. E Merlin é um senhor idoso e muito cínico, um mago sim, poderoso, mas que está preocupado com grandes feitos, e a guerra de Artur é só alguém que pode, ou não, convir a ele ajudar.
Além dos personagens mais conhecidos de livros e filmes, temos Nimue, um dos personagens secundários mais interessantes do livro. Ela é uma feiticeira, treinada por Merlin, e acredita que tem que sofrer as três feridas para se tornar realmente poderosa: ser ferida fisicamente, ter seu corpo abusado e sua alma tomada, a ferida da loucura. Nimue é muito próxima de Derfel e eles têm um pacto poderoso, onde prometem sempre salvar um ao outro. Nimue enfrenta as maiores provações do livro, e sai delas cada vez mais forte. A personagem é incrível, forte, poderosa e muito complexa. Outro personagem excelente é Galahad, irmão bastardo de Lancelot, e este sim, um grande guerreiro. Ele também se torna o melhor amigo de Derfel e as cenas dos dois juntos nas batalhas foram de arrepiar.
As batalhas são sensacionais! Capítulos enormes e impossíveis de largar, eu amei as descrições, as reviravoltas, as lutas impossíveis e as vitórias inesperadas. Nada é previsível e eu terminei o livro apaixonada pela história.
Um dos favoritos do ano até agora, claro que eu indico muito. Leiam!
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Trilogia As crônicas de Artur:
- O rei do inverno (The winter king)
- O inimigo de Deus (Enemy of god)
- Excalibur (Excalibur)
Avaliação (1 a 5):