Harry Potter e a Ordem da Fênix – JK Rowling
>> sexta-feira, 23 de junho de 2023
ROWLING, J.K.
Harry Potter e a Ordem da Fênix. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2003. 704p. Título original: Harry Potter and the Order of the Phoenix. (Harry Potter, V.5).
A saga Harry Potter exala a mais pura nostalgia mágica, com perdão
pelo trocadilho proposital. Certamente é um dos maiores fenômenos da cultura
popular moderna e ocupam um lugar especial na paisagem literária,
primeiramente, e com adaptações cinematográficas inesquecíveis. Desde o
lançamento do primeiro livro, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", em
1997, esta série extraordinária tem levado os leitores a uma jornada
encantadora pelo mundo mágico, cativando a imaginação de milhões. Eu sou uma
dessas leitoras para sempre marcada pelos livros, tanto que agora resolvi
relê-los durante a minha temporada em Edimburgo, na Escócia (e vocês podem
conferir as origens dessa aventura AQUI). Essa tem se mostrado uma ótima
maneira de reviver uma época feliz da minha vida enquanto enfrento um novo
capítulo. Para mim, Harry Potter é sinônimo de conforto, de alegria, da certeza
de diversão. E não tem sido diferente com essa releitura. E agora é a vez do quinto
livro da série, “Harry Potter e a Ordem da Fênix”.
Escrevo essa resenha com os olhos de uma releitura, então
alguns desenvolvimentos de enredo e personagens posteriores a esse livro serão
abordados. Sendo assim, fica o recado de
que essa resenha contém spoilers. Assim, caso você não conheça os detalhes, sugiro que pare a leitura por aqui. Além do mais, essa é a resenha
do quinto livro da série, então contém spoilers do enredo
e acontecimentos livros anteriores. Caso você tenha conseguido passar a vida
ileso ao enredo da saga, o que eu acho um verdadeiro milagre, fica aqui a minha sugestão para
imediatamente parar a leitura dessa resenha para não estragar deliciosas
surpresas que fizeram parte da vida de tantas pessoas. Confie em mim: você certamente gostará de
descobrir por conta própria!
Em "Harry Potter e a Ordem da Fênix", Harry entra em seu
quinto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts em meio a crescente
incerteza e turbulência. Ainda assombrado pelos acontecimentos que presenciamos
no livro anterior, a história já começa com um inusitado e encontro com
dementadores ao lado de seu primo Duda. Harry se vê cada vez mais isolado e
desacreditado por muitos, pois o mundo mágico seriamente duvida de sua
afirmação de que o Lorde Voldemort voltou. O Ministério da Magia está
intervindo cada vez mais em Hogwarts, colocando Harry e seus amigos sob intenso
escrutínio. À medida que a resistência cresce, Harry e seus aliados mais
próximos se veem envolvidos nas atividades da Ordem da Fênix, um grupo
clandestino dedicado a combater Voldemort e seus seguidores. Enquanto isso,
Harry lida com sonhos assustadores e as lutas emocionais da vida adolescente,
ao mesmo tempo em que deve se preparar para os exigentes exames de Nível
Ordinário de Magia.
Este livro é bastante querido pelo público, talvez por seu um dos
primeiros a nos dar respostas concretas que já apontam para uma possível resolução
da saga. Quando li pela primeira vez, em seu lançamento lá em 2003, foi um livro
que certamente devorei e me cativou. Porém, minha lembrança da leitura está
marcada pelo aspecto emocional. É um livro que pega o leitor pelo coração.
Lembro de passar raiva junto com Harry pelas injustiças de ser retratado como
uma pessoa sem credibilidade e não acreditarem em sua palavra, gargalhar com os
incomparáveis gêmeos Weasley, acompanhar atenta os andamentos da Ordem da Fênix,
me frustrar com a ausência de Dumbledore, detestar a Umbridge em níveis catastróficos,
e sofrer muito com a resolução da história. Foi um livro marcante e que soube
jogar com o nosso apego emocional do passado, ao mesmo tempo que inseriu
elementos importantes para a parte final da saga. Minhas lembranças eram
positivas, e, talvez por isso, estava receosa com a releitura. Será que a minha
boa lembrança seria apagada? O livro teria aspectos que eu esqueci? Reler um
favorito é uma tarefa para corajosos, afirmo com toda certeza do mundo!
E a releitura foi diferente, mas definitivamente não foi ruim. Ao
final da saga, farei um post geral sobre a minha experiência e o que mudou, e
digo que a minha ordem de favoritos hoje é outra. Para mim, "Harry Potter
e a Ordem da Fênix" foi um livro completamente diferente, mas ao mesmo
tempo uma leitura extremamente agradável. Agora já com o distanciamento do
tempo, sem a curiosidade de quem não sabe o que vai acontecer e depois de viver
décadas com as respostas a todos os questionamentos trazidos pela série, o
quinto livro foi... diferente. Eu não mais sentia aflição e a necessidade para
Harry ser compreendido e buscar justiça. Ao contrário, em muitas vezes achei o
personagem extremamente... irritante! Por outro lado, acho que me diverti ainda
mais acompanhando as atividades e a formação da Ordem da Fênix, agora podendo
me concentrar mais em detalhes secundários sem aquela necessidade de devorar o
livro para saciar a minha curiosidade.
A ideia da Ordem em oposição aos Comensais da Morte, os seguidores
de Voldemort, é muito interessante, ainda mais porque o livro nos traz membros
falhos, que podem muito bem não ser um clássico herói na luta do bem contra o
mal. Outro acerto foi continuar com a descoberta do mundo magico. A introdução do
hospital dos bruxos me marcou muito quando li pela primeira vez, e continua
interessante 20 anos depois. A saga de Hagrid com os gigantes também é fascinante,
assim como o drama político entre os centauros e o ministério. Porém, hoje vejo
o maior acerto do livro a inserção do elemento cômico nos gêmeos Weasley e na introdução
daquela que é a minha personagem favorita: Luna Lovegood. A presença desses personagens
nos faz respirar em meio a tanta incerteza e acontecimentos sérios e perigosos,
dando ao livro um ritmo rápido e constante, fazendo a leitura ser prazerosa.
Acho que precisávamos disso em “O Cálice de Fogo”, e foi uma boa estratégia narrativa
aqui adotada.
A introdução do Hospital
St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos demonstra que mesmo em cinco
livros, as ricas possibilidades do mundo mágico estão longe de ser totalmente
exploradas. O centro de tratamento do mundo bruxo é fascinante, cheio de
pacientes que sofrem de uma
variedade de doenças únicas e diferentes para nós meros trouxas, expande a
compreensão dos leitores sobre o mundo mágico e seus sistemas sociais. Além
disso, o St. Mungo's serve como um dispositivo inteligente para unir diferentes
fios da história, passado e presente. Aqui, encontramos o amnésico Gilderoy
Lockhart, reintroduzido em uma luz pungente e irônica após sua queda em
"Câmara Secreta" (e eu havia esquecido dessa aparicao especial! Foi
uma grata surpresa). O hospital também oferece uma exploração mais profunda da
história pessoal de Neville Longbottom, levando a um maior investimento
emocional de nossa parte. Além disso, St. Mungus prepara o palco para
importantes desenvolvimentos da trama, preparando o terreno para eventos
significativos. Além de dar mais detalhes e enriquecer a narrativa, foi um
acerto ao divertir e intrigar o leitor.
Outra parte importante e um tanto quanto divertida
do livro é a formacao da "Armada de Dumbledore". Formada por Harry,
Hermione e Ron, essa organização estudantil secreta representa um profundo ato
de resistência contra o regime opressor imposto pelo Ministério da Magia em
Hogwarts, representado pela odiosa Dolores Umbridge. Em resposta direta à
proibição da escola de defesa prática contra as artes das trevas, Harry assume
o papel de professor, treinando seus colegas para se defenderem dos perigos
reais que enfrentam em seu mundo. Adorei ver um grupo diverso, e como seus
participantes claramente gostavam das aulas e, consequenetemente, evoluiam com
o tempo. Gina foi uma grata surpresa, Luna sempre unica, e Neville... como nao
torcer por ele? A Armada de Dumbledore não é apenas um elemento central da
trama, mas também um marco ao nos dar maior proximidade e afinidade com os
demais personagens. Outro acerto certeiro.
E tudo isso
acontece por causa dela, talvez uma das personagens mais inesquecíveis e universalmente
desprezadas da série: Dolores Umbridge. Nomeada pelo Ministério da Magia como
professora de Defesa Contra as Artes das Trevas (sempre essa matéria!), ela
rapidamente usurpa o poder em Hogwarts e implementa um regime repressivo que
sufoca o aprendizado e a dissidência. Umbridge é uma personagem magistralmente
desenhada que incorpora a crueldade burocrática e abusa do poder sob o pretexto
de manter a ordem. Seu prazer sádico em punir os alunos, sua negação da verdade
sobre o retorno de Voldemort e seu comportamento perturbadoramente doce,
juntamente com uma propensão para placas de gato decorativas e rosa, criam uma
justaposição arrepiante. Esse forte contraste amplifica sua vilania, tornando-a
não apenas uma personagem detestável, mas um símbolo de opressão institucional.
E talvez precisássemos de uma personagem tão extremista para conseguirmos a
melhor justaposição cômica dos livros até o momento: George e Fred Weasley!
Os gêmeos Weasley
desempenham um papel fundamental no livro, servindo como uma fonte vital de
alívio cômico em uma narrativa cada vez mais sombria, ao mesmo tempo em que
emergem como figuras de resistência espirituosa. Suas notórias brincadeiras,
sagacidade e irreverência despreocupada continuam a entreter os leitores,
oferecendo leviandade em meio à tensão e contribuindo significativamente para o
equilíbrio geral do tom do livro. Mesmo assim, seus papéis vão além do humor.
Diante do regime opressivo de Dolores Umbridge em Hogwarts, os gêmeos Weasley
mostram sua coragem e esperteza, usando suas travessuras como forma de
rebelião, expressando discordância e inspirando outros alunos. Se até o Pirraça
se rendeu ao charme dos dois, como e que eu vou resistir?
Outra
personagem marcante é ela, a clássica Corvinal e querida por muitos, a excêntrica
Luna Lovegood. Sua introdução acrescenta uma camada encantadora à narrativa e
ao diversificado elenco de personagens da série. Luna, com seus brincos de
rabanete, crença em Nargles e confiança inabalável na publicação não
convencional 'O Pasquim', é uma exceção no mundo mágico, muitas vezes
incompreendida ou descartada como excêntrica. Apesar disso, sua perspectiva
única e autenticidade inabalável imediatamente a tornam atraente para os
leitores. A aceitação de Luna de suas próprias esquisitices, junto com sua
sabedoria e bravura misteriosas, muitas vezes escondidas sob seu exterior
sonhador, fazem dela uma personagem atraente e complexa. Fascinante.
Pensando na
adaptação do livro para o cinema, existem grandes diferenças. A adaptação cinematográfica, embora
geralmente fiel ao espírito do livro, omite e altera vários elementos devido às
restrições do meio. Vários subenredos e personagens, cruciais para a
profundidade e complexidade do livro, são significativamente minimizados ou
completamente ausentes no filme. Por exemplo, o enredo envolvendo o Hospital
St. Mungus, a subtrama do Quadribol e a rica narrativa em torno do
desenvolvimento do personagem Neville Longbottom são bastante reduzidos. Da
mesma forma, as complexidades da situação política dentro do Ministério da
Magia são simplificadas e os decretos educacionais impostos por Umbridge são
menores. A formação e evolução da Armada de Dumbledore, embora presente, carece
de alguns detalhes e nuances. Além disso, as lutas internas de Harry, seus
sonhos e sua conexão com a mente de Voldemort não são tão profundamente
exploradas. Embora o filme capte com sucesso o tom geral de urgência e
rebelião, a riqueza de detalhes que adiciona profundidade e textura à narrativa
do livro é inevitavelmente comprometida. Outro caso onde o livro é estremamente
melhor que o filme, apesar de que com a restricao do tempo e as caracteristicas
da narrativa, acredito que o filme fez um bom trabalho.
E agora é
hora de partir para a nossa penúltima aventura, um livro que confesso não lembrar
muito, a não ser pelo fato de não ter gostado tanto da primeira leitura. Até a próxima
com “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”.
Até a
próxima!
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Série Harry Potter:
Harry Potter e a Pedra Filosofal
(30/06/1997)
Harry Potter e a Câmara Secreta (02/07/1998)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (08/07/1999)
Harry Potter e o Cálice deFogo (08/07/2000)
Harry Potter e a Ordem da Fênix (21/06/2003)
Harry Potter e o Enigma do Príncipe (16/07/2005)
Harry Potter e as Relíquias da Morte (21/07/2007).
Harry Potter e a Câmara Secreta (02/07/1998)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (08/07/1999)
Harry Potter e o Cálice deFogo (08/07/2000)
Harry Potter e a Ordem da Fênix (21/06/2003)
Harry Potter e o Enigma do Príncipe (16/07/2005)
Harry Potter e as Relíquias da Morte (21/07/2007).
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