Harry Potter e o Cálice de Fogo – JK Rowling

>>  sexta-feira, 2 de junho de 2023

 

ROWLING, J.K. Harry Potter e o Cálice de Fogo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2001. 584p. Título original: Harry Potter and the Goblet of Fire. (Harry Potter, V.4).
 
A saga Harry Potter exala a mais pura nostalgia mágica, com perdão pelo trocadilho proposital. Certamente é um dos maiores fenômenos da cultura popular moderna e ocupa um lugar especial na paisagem literária, primeiramente, e com adaptações cinematográficas inesquecíveis. Desde o lançamento do primeiro livro, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", em 1997, esta série extraordinária tem levado os leitores a uma jornada encantadora pelo mundo mágico, cativando a imaginação de milhões. Eu sou uma dessas leitoras para sempre marcada pelos livros, tanto que agora resolvi relê-los durante a minha temporada em Edimburgo, na Escócia (e vocês podem conferir as origens dessa aventura AQUI). Essa tem se mostrado uma ótima maneira de reviver uma época feliz da minha vida enquanto enfrento um novo capítulo. Para mim, Harry Potter é sinônimo de conforto, de alegria, da certeza de diversão. E não tem sido diferente com essa releitura. E agora é a vez do quarto livro da série, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”.
 
Escrevo essa resenha com os olhos de uma releitura, então alguns desenvolvimentos de enredo e personagens posteriores a esse livro serão abordados. Sendo assim, fica o recado de que essa resenha pode conter spoilers. Assim, caso você não conheça os detalhes, sugiro que pare a leitura por aqui. Além do mais, essa é a resenha do quarto livro da série, então certamente contém spoilers dos livros anteriores. Caso você tenha conseguido passar a vida ileso ao enredo da saga, o que eu acho um verdadeiro milagre, fica aqui a minha sugestão para imediatamente parar a leitura dessa resenha para não estragar deliciosas surpresas que fizeram parte da vida de tantas pessoas. Confie em mim: você certamente gostará de descobrir por conta própria!
 
"Harry Potter e o Cálice de Fogo" é um capítulo crucial da adorada série, repleta de aventuras emocionantes e reviravoltas inesperadas, e marca uma nova era da história: esse definitivamente é um livro mais pesado, diferente dos anteriores. Quando Harry entra em seu quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, é hora de vivenciar o Torneio Tribruxo, uma prestigiosa competição interescolar. Apesar de ser menor de idade, Harry se vê misteriosamente escolhido como um dos campeões, ao lado de alunos de escolas rivais. Enquanto ele navega por perigosos desafios e lida com as complexidades de novas amizades e romances, forças sombrias ameaçam não apenas a segurança de Harry, mas todo o mundo mágico.
 
Este livro não é o favorito de muitas pessoas, por assim dizer. Ele certamente não é meu favorito. Quando li pela primeira vez, em seu lançamento lá em 2000, foi o único que eu não devorei, sem passar noites acordadas. Talvez ele tenha me dado mais medo do que os anteriores (eu sou uma pessoa bastante medrosa e considero esses livros bem assustadores), ou talvez eu simplesmente quisesse mais do que havia sido entregue até então: aventuras de um menino pré-adolescente, descobrindo o mundo mágico ao mesmo tempo que sempre conseguia se livrar de seus inimigos, com a ajuda de amigos especiais e cativantes. Já de cara, "Harry Potter e o Cálice de Fogo" mostra que é diferente. Todos os antecessores começam a história narrando o aniversário de Harry Potter na sofrível casa dos Dursleys, uma parte que sempre adorei. Dá uma satisfação incrível ver a família sofrer algo relacionado à magia, apenas para Harry Potter fugir e iniciar suas aventuras na escola. Mas não dessa vez...
 
O livro começa diferente, com a narrativa de Frank Bryce, um zelador/jardineiro idoso, que trabalha há anos para a família Riddle. Desde “Harry Potter e a Câmara Secreta” (cuja resenha vocês conferem AQUI), sabemos muito bem a relevância desse nome, e o sinal de que esse sim será um livro centrado naquele-que-não-deve-ser-nomeado. É um capítulo muito interessante e importante, pois nos apresenta um pouco da história da família e também da interação trouxas-bruxos, algo que é um tema importante na primeira parte do livro. O fato é que eventos perturbadores e estranhos aconteceram na casa, coisas que os trouxas não conseguem explicar racionalmente. E, parece, novas coisas estão prestes a acontecer. Frank Bryce, ao perceber uma movimentação estranha na casa há muito abandonada, vai investigar, apenas para encontrar 2 pessoas conversando em o que ele achou ser código, por conter palavras e conteúdos completamente estranhos para o trouxa. Quadribol, o que é isso? Harry Potter? Nunca ouvi falar. Até que uma certa cobra gigante aparece e... bem, essa conversa estranha e arrepiante é a última coisa que ele escuta. Ao mesmo tempo que Harry acorda na casa dos seus tios com sua cicatriz dolorida. E aí então temos a história voltando para o que tínhamos como o normal até então: Harry odeia viver com os tios, que odeiam mágica. Agora, ele precisa seguir uma dieta detestável para “ajudar” seu primo Duda a perder peso. O que o ajuda um pouco a ganhar vantagens é a figura de Sirius Black, que agora seus tios sabem ser seu padrinho, mas não sabem que ele na verdade não é o assassino perigoso que todos pensam ser. É a mesma vida, um dia após o outro esperando as férias acabar para voltar para Hogwarts. Mas dessa vez, a saída de casa será um pouco mais rápida do que antes.
 
Molly Weasley, a carinhosa matriarca da família mais amada do mundo mágico, envia uma hilária carta para os Dursleys pedindo autorização para levar Harry para a Copa do Mundo de Quadribol, sediada pela Inglaterra. Após uma engraçada e bem escrita passagem da família pelo mundinho trouxa dos Dursleys, Harry se junta a seus amigos na Toca, onde em breve partirão para assistir a esperada final entre Bulgária e Irlanda. A narrativa pré-jogo é incrível, e aprendemos um pouco mais sobre o mundo bruxo, sempre ao mesmo tempo de Harry, um recurso narrativo que considero primoroso e muito bem usado no decorrer dos livros. Aqui, aprendemos mais sobre os “meios de transporte bruxos”, com fotos da dificuldade da aparição e no uso regulado de chaves de portais, objetos comuns que transportam o usuário para um local pré-determinado por magia. E é com esse que todos vão para a copa do mundo, definitivamente a minha parte favorita desse livro (e talvez de todos os outros livros também)!
 
A competição internacional de Quadribol foi um imenso acerto da trama. Ao mesmo tempo que contém o já consagrado elemento da descoberta de detalhes do mundo mágico, introduz personagens importantes e o enredo que conduzirá a história. É ali que conhecemos:
 
Cedrico Diggory. Ok, tecnicamente não conhecemos Diggory ali, já que ele aparece brevemente no livro anterior numa partida de quadribol, quando Lufa-Lufa ganha da Grifinória, na primeira derrota de Harry. Mas é na Copa do Mundo de Quadribol que temos a oportunidade de aprender mais sobre ele, sua família e toda a expectativa que o cerca. É inegável que Diggory é especial e muito amado, e representa um certo rival ao Harry adolescente, cheio de incertezas por trás de toda a trama de “o bruxo das trevas mais poderoso da história quer me matar”.
 
Viktor Krum. A estrela da Bulgária, o apanhador do time, também aparece em Hogwarts para o ano letivo, como o selecionado pelo Cálice de Fogo para representar o Instituto Durmstrang, do misterioso diretor Igor Karkaroff. Aqui que um subenredo é introduzido: a idolatria de Ron Weasley com Krum e como isso o afeta quando o búlgaro se interessa romanticamente por Hermione Granger.
Bartemius "Barto" Crouch Sr. Um personagem central, é um alto funcionário do Ministério da Magia, conhecido por sua rígida aderência às regras e regulamentos, o que o faz ser visto como um austero defensor da lei. Também é o chefe de Percy Weasley, que agora trabalha no Ministério. Crouch apresenta uma fachada fria e inflexível, mantendo uma reputação imaculada no mundo mágico, mas o enredo se desenrola de forma a ligar sua história aos acontecimentos da trama.
 
Ludovic "Ludo" Bagman. Eu adoro esse personagem, pois consigo visualizar direitinho na minha mente quem ele era um antigo esportista de sucesso e hoje comentarista de Quadribol (e outras coisas mais), ele tenta se apegar as glórias passadas, construindo uma história paralela não muito relevante aos acontecimentos centrais, mas interessantes de se acompanhar para quem tem aquele espírito fofoqueiro aguçado (eu!).  Junto com os fantásticos gêmeos Weasley, ele é o responsável por trazer leveza e humor ao livro com ares bem mais escuros e pesados que os antecessores. Ex-jogador de Quadribol de grande talento, antigo apanhador da Inglaterra, agora trabalha no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos do Ministério da Magia e se envolve com a organização do Torneio Tribuxo. A personalidade expansiva e calorosa de Bagman o torna imediatamente agradável, e sua paixão pelo Quadribol e pelos jogos em geral é contagiosa. No entanto, ele também é um personagem com mais camadas do que sua atitude alegre e despreocupada inicialmente sugere, e sua ética profissional e escolhas pessoais são bastante questionáveis.
 
Winky. A segunda elfa-doméstica que conhecemos pessoalmente, após Dobby em “A Câmara Secreta”, ela é peça fundamental para entender os acontecimentos do livro. Ela oferece uma visão mais aprofundada da complexa dinâmica entre bruxos e elfos domésticos no mundo mágico. Winky é extremamente dedicada à família Crouch, a quem serve, e sua devoção é uma representação tocante, porém melancólica, do sistema de servidão imposto aos elfos domésticos.
 
Além da introdução dos personagens, a trama ganha elementos importantes. Após a final do campeonato entre Irlanda e Bulgária, os devotos de Voldemort, conhecidos como Comensais da Morte, lançam um ataque violento, resultando em um grande tumulto. O céu é então marcado com a Marca Negra, que descobrimos ser proibida, instigando terror em todos os presentes, uma vez que é o primeiro avistamento dela em mais de uma década. No tumulto subsequente ao ataque, Harry é separado de sua varinha, que é encontrada nas mãos de Winky e foi de alguma forma usada para conjurar a marca.
 
O fato é que sabemos que a cicatriz de Harry está doendo, e os comensais da morte estão à solta. Sirius Black é informado constantemente sobre os acontecimentos, e fica bastante preocupado com os planos que se formam. Todos estão atentos aos sinais e esperando algo acontecer. E acontece, no Torneio Tribruxo. Uma competição mágica de prestígio e perigo, o torneio conta com três escolas de magia - Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang - cada uma representada por um estudante, escolhido pelo Cálice de Fogo para participar de três tarefas desafiadoras e potencialmente mortais. O Torneio é conhecido por testar a coragem, o intelecto, a engenhosidade e as habilidades mágicas dos participantes por meio de tarefas que variam de lidar com criaturas mágicas perigosas até resolver enigmas complexos. O campeão que tiver sucesso em todas as tarefas e acumular a maior pontuação é premiado com o prêmio Tribruxo, além de honra e reconhecimento. Devido à sua natureza perigosa, o Torneio foi suspenso por um longo período antes dos eventos do livro, mas aparentemente acharam ser uma boa ideia o retomar, com a “segurança” adicional de ser permitida a participação apenas de estudantes com 17 anos completos. E, claramente, algo de muito errado acontece quando Harry Potter é escolhido para participar, então com 14 anos e como o quarto participante. Torneio Quadribruxo, mais adequado.
 
Crouch alega que o Cálice gera um contrato legalmente vigente e que obriga as partes a participar, por isso Harry deveria competir. Como advogada, eu consigo pensar de cara em diversos motivos para questionar a sua legalidade, mas aparentemente ninguém conseguiu alegar algo, e Harry é obrigado a participar. Não quero nem comentar a burrice dessa decisão, mas é a grande trama central do livro. Além das tarefas em si, distribuídas ao longo do ano letivo, a situação também introduz outro tema de certa forma importante – um certo abalo na amizade entre Ron e Harry. A ideia do Torneio e as tarefas mágicas é legal e adorei a releitura, mas lembro de não gostar nada nada quando li pela primeira vez. Ora, eu queria mais quadribol e a competição entre as casas (e ver que jeitinho Dumbledore daria para conceder a vitória a Grifinória no final das contas). Mas agora, conhecendo toda a trama, a leitura do livro fluiu bem melhor e me divertiu muito mais. E também temos que agradecer o Torneio por nos apresentar melhor a outro personagem formidável: Alastor “Olho-Tonto” Moody.
 
Não seria um novo livro Harry Potter sem um novo professor da matéria Defesa Contra as Artes das Trevas. Dessa vez as honras vão para Moody, um personagem memorável e muito bem construído. Como um ex-auror de renome, ele é reconhecido por sua intensa dedicação ao combate das forças das trevas, um compromisso que lhe custou muito fisicamente, deixando-o com uma aparência marcante e aterradora. Seu olho mágico, que lhe permite ver através de paredes e objetos, e sua perna de madeira são testemunhas de uma longa carreira de batalhas perigosas. Embora pareça duro e intransigente à primeira vista, Moody possui uma forte convicção moral e um compromisso inabalável com a justiça, algo que é atestado por diversos personagens ao longo da história, inclusive Sirius. Ao longo da história, ele exerce um papel crucial, proporcionando aos leitores uma visão mais profunda da guerra iminente contra as forças das trevas e o que isso realmente custa àqueles na linha de frente. Eu adorei tanto e acho que ele deveria ter uma série especial. Assistiria (ou leria) tudo com o maior prazer!
 
Pensando na adaptação do livro para o cinema, esse livro é de longe o que, até agora, sofreu mais alterações. O enredo é lapidado para dar mais dinamismo, e muitos detalhes são alterados. Por exemplo, Dobby não aparece na história, e no livro é ele o responsável por ajudar Harry na segunda tarefa, não Neville. Toda a resolução final é alterada e simplificada, o que é uma pena, pois a solução é inteligente quase no mesmo nível que o livro anterior. O filme, porém, dá mais ação e dinamismo ao livro, que por muitas vezes se arrasta e deixa o leitor tenso e ansioso para obter respostas. Talvez por isso a releitura foi mais agradável: eu já sabia o que acontecia, e apenas saboreei procurando pistas e aproveitando todos meus minutos preciosos em Hogwarts.
 
Com uma solução devastadora, imediatamente iniciei a leitura do próximo, “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, adorando essa minha redescoberta com nossos olhos. Eu recomendo!
 
Até a próxima!
 
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Série Harry Potter: 
  1. Harry Potter e a Pedra Filosofal(30/06/1997)
  2. Harry Potter e a Câmara Secreta(02/07/1998)
  3. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban(08/07/1999)
  4. Harry Potter e o Cálice de Fogo (08/07/2000)
  5. Harry Potter e a Ordem da Fênix (21/06/2003)
  6. Harry Potter e o Enigma do Príncipe (16/07/2005)
  7. Harry Potter e as Relíquias da Morte (21/07/2007).

Avaliação (1 a 5):

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