Viagem Literária: Identidades cruzadas

COBEN, Harlan. Identidades cruzadas. São Paulo: Editora Arqueiro, 2023. 304p. Título original: The match.

"Reality shows pegam vidas de verdade e as transformam em histórias interessantes. Não precisam ser verdadeiras. Só precisam fazer as pessoas assistirem. A maioria dessas celebridades entende que a ideia é essa. É preciso alimentar o monstro do drama. Mas o personagem de Peter havia se tornado meio sem graça. Fazia algum tempo que ele estava casado sem filhos. Meu palpite é que alguém do programa armou isso para dar uma agitada. Maximizar o interesse do público." p.189

A primeira coisa a se dizer sobre o novo livro do Harlan Coben, é que ele é uma continuação direta de O menino do bosque! Achei que deveria ter essa informação na capa ou na contra capa, mas não temos nada. E muito do que eu reclamei no primeiro livro que fica no ar, só descobrimos aqui, então não é um livro independente. Dito isso, confiram o que achei do novo suspense do autor com Identidades cruzadas!

Esta resenha não contém spoilers sobre o livro anterior!

Em O menino do Bosque, conhecemos Wilde, um homem de 37 anos que sabe muito pouco sobre o seu passado, e nada sobre sua família. Ele foi encontrado com mais ou menos 7 anos (nunca soube sua idade exata), sozinho, vivendo na floresta. Ele invadia casas de veraneio que ficavam vazias no inverno, comia o que encontrava, roubava roupas e comida. Wilde já adulto, ainda morava em uma cápsula (uma espécie de barraca auto sustentável) na floresta e raramente interagia com o restante do mundo.

Quando criança ele foi adotado, e acabou se tornando melhor amigo de um dos filhos de Hester Crimsten, a famosa advogada de defesa. Hester foi a única figura materna, ou algo do tipo, em sua vida. Mas agora ele resolve investigar seu passado, e acaba enviando uma amostra de DNA para esses sites de banco de dados genealógicos que procuram correspondências.

E é assim que Wilde conhece "PB", um suposto primo, e acaba achando uma correspondência alta com um homem que ele acredita ser seu pai. Com ajuda de sua irmã adotiva, Lola, e de Hester, ele descobre as identidades que precisa. Ele procura seu suposto pai, e acaba saindo com mais perguntas do que respostas. E descobre também que PB é Peter Bennett. E começa a investigar.

Peter trocou alguns e-mails com Wilde, mas em seu refúgio na floresta, ele acabou demorando muito a responder. E agora Peter parece estar desaparecido, ou morto. Pesquisando, descobre que o "primo" é um ex-participante de um famoso reality show. E que ele foi acusado de várias coisas e "cancelado" na Internet. Ele quer descobrir se Peter era culpado ou se houve uma conspiração. Nessa trilha, ele descobre um homem que trabalhava criando falsos perfis e destruindo celebridades online. Para essa pesquisa bem diferente do seu mundo, ele conta com a ajuda do afilhado, Matthew e da nova namorada do rapaz. Isso acaba o reaproximando de Laila, mãe de Matthew e por quem ele é apaixonado. Laila é também viúva de David, filho de Hester, o que complica tudo.

Enquanto Wilde persegue suas origens, se mete no meio de uma investigação de assassinato e começa a correr perigo. Ao mesmo tempo, precisa lidar com os novos desafios de sua vida adulta e um passado secreto.

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Uau! Este "conserta" praticamente tudo em que o primeiro livro falhou (risos), não sei se o autor tinha a ideia da continuação desde sempre, ou se atendeu aos pedidos de seus leitores. Mas finalmente descobrimos o que aconteceu com Wilde no passado, e paralelo a isso, Harlan cria um suspense moderno, envolvido com as novas mídias e a forma como, hoje, a internet pode mudar ou destruir a vida das pessoas.

Aqui não temos um acontecimento do passado, aleluia, sem contar, é claro, a investigação de Wilde sobre sua família. Mas a trama principal gira em torno do desaparecimento/morte de Peter Bennett e todas as loucuras que acontecem nos reality shows e a vida dessas novas celebridades. Que possuem uma fama de curta duração e querem tirar o máximo proveito disso. Atuando, mentindo, criando, fazendo o que for necessário para não sair dos holofotes.

Gostei muito desse enredo moderno, girando em torno dos pseudos famosos e toda a armação por trás do que o público vê e acredita. Peter era o mocinho, logo o reality precisava de um vilão. E como era um reality precisava de um casamento no final, Jenn Cassidy, precisava escolher o cara certo. E depois que o "final felizes" dele não interessava a mais ninguém, bom, alguém achou que precisava de um escândalo para mudar isso. Temos os cancelamentos na Internet, os boots, os falsos perfis, os robôs detonando ou criando um local com falsas avaliações. Gostei bastante dessa crítica ao quanto tudo é falso nas mídias virtuais. E o quanto a maioria das pessoas acredita em tudo aquilo.

Hoje as "fake news" fazem parte do nosso dia a dia. Esse cenário afeta a política, as ditas "celebridades" e a vida do cidadão comum. São tantas mentiras, golpes para obter lucro ou para causar pânico, que ninguém sabe mais em que acreditar. E aí, mais uma vez, está a importância de ler e se informar, seja por lazer, seja fora da ficção! :-)

Voltando a história, eu só achei a motivação de Wilde para entrar nesse mundo e descobrir o que aconteceu com Peter, bem fraca. Achei também a motivação para os assassinatos, com exceção do primeiro, pouco convincente. Não acertei o culpado, mas passei bem perto hehe. Por outro lado, o livro prende do início ao fim, os personagens são bons e o final foi ótimo.

Achei os segredos, em geral, bem interessantes, principalmente a revelação sobre o passado de Wilde. Adorei esse plot e a crítica a quem faz de tudo pela fama, o poder disso para mudar uma pessoa e tudo sobre as novas mídias.

Esse eu indico de olhos fechados, e sabendo que tem uma continuação, o livro 1 ganha outros olhos para mim. Leiam!

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Duologia Wilde: