Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban – JK Rowling
>> sexta-feira, 19 de maio de 2023
ROWLING, J.K. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000. 394p. Título original: Harry Potter and the Prisioner of Azkaban. (Harry Potter, V.3).
A saga Harry Potter exala a mais pura nostalgia mágica, com perdão pelo trocadilho proposital. Certamente é um dos maiores fenômenos da cultura popular moderna e ocupamum lugar especial na paisagem literária, primeiramente, e com adaptações cinematográficas inesquecíveis. Desde o lançamento do primeiro livro, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", em 1997, esta série extraordinária tem levado os leitores a uma jornada encantadora pelo mundo mágico, cativando a imaginação de milhões. Eu sou uma dessas leitoras para sempre marcada pelos livros, tanto que agora resolvi relê-los durante a minha temporada em Edimburgo, na Escócia (e vocês podem conferir as origens dessa aventura AQUI). Essa tem se mostrado uma ótima maneira de reviver uma época feliz da minha vida enquanto enfrento um novo capítulo. Para mim, Harry Potter é sinônimo de conforto, de alegria, da certeza de diversão. E não tem sido diferente com essa releitura. E agora é a vez do terceiro livro da série, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban".
Escrevo essa resenha com os olhos de uma releitura, então alguns desenvolvimentos de enredo e personagens posteriores a esse livro podem ser abordados. Tomei cuidado para não falar diretamente sobre acontecimentos importantes do livro, mas mesmo assim fica o recado de que essa resenha pode conter spoilers. Assim, caso você não conheça os detalhes, sugiro que pare a leitura por aqui. Além do mais, essa é a resenha do terceiro livro da série, então certamente contém spoilers dos dois livros anteriores. Caso você tenha conseguido passar a vida ileso ao enredo da saga, o que eu acho um verdadeiro milagre, fica aqui a minha sugestão para imediatamente parar a leitura dessa resenha para não estragar deliciosas surpresas que fizeram parte da vida de tantas pessoas. Confie em mim: você certamente gostará de descobrir por conta própria!
O terceiro livro da série, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", tem um lugar especial no meu coração. Após a primeira leitura, ainda quando do lançamento original dos livros, sempre declarava ser este o meu favorito, aquele que me cativou desde a primeira página e me deixou ao final com o coração quente e cheio de esperança. De certa forma, esse livro é fundamental no desenvolvimento da história da saga. Aqui, novamente Harry encontra diversos desafios, alguns em ligação com seu passado e a razão por ser o bruxo mais conhecido do mundo mágico, aquele que derrotou você-sabe-quem e ganhou uma cicatriz de raio na testa. Mas, ao mesmo tempo, temos as dificuldade e os problemas de um adolescente que quer passar mais tempo com os amigos, como a tão falada autorização para visitar Hogsmeade, um vilarejo bruxo próximo de Hogwarts (e mais uma localização que a autora se inspirou na cidade de Edimburgo). Desta vez, o foco da história é a fuga do notório bruxo Sirius Black da prisão bruxa de Azkaban, o que parece ser algo de grande risco para Harry. Com um enredo cativante e muitíssimo bem desenhado, o livro tem um surpreendentemente rico desenvolvimento de personagens e exploração de temas de forma leve e concisa, marcando aquele que parece ser o último livro de fantasia infanto-juvenil com toques de aventura da série. E cumpre esse papel de forma espetacular.
A estrutura é semelhante à dos dois primeiros livros. Começamos com Harry passando uma péssima férias de verão na casa de seus tios extremamente trouxas e avessos a qualquer menção ao mundo mágico. A narrativa dos primeiros capítulos, quando Harry tenta ao máximo aguentar a vida naquele mundo que definitivamente não é para ele, é uma das minhas partes favoritas da série. Eu simplesmente adoro ver os tios sofrerem alguma forma de justiça nas mãos da magia, e aqui temos um clássico incompreendido: a tia malvada que infla e sai voando pelo céu de Surrey. Desculpa, quem não soltou ao menos um sorriso ao ler essa passagem que dá um destino bem dado aquela maldosa mulher está de alguma forma morto por dentro!
O livro é bolado de um jeito aos acontecimentos se desenvolverem, para ao final termos uma solução quase completa de tudo o que acontece. É essa sagacidade que faz esse um livro divertido e bem bolado. Muitas coisas acontecem, as vezes coisas demais, mas ao final descobrimos que tudo está relacionado e nada foi colocado ali por acaso. É satisfatório ler um livro com um plano bolado e cumprido conforme o script, e não com acontecimentos apenas para surpreender o leitor sem razão de ser. E "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" faz isso de um jeito delicioso, esperto e muito divertido. Talvez por não termos necessariamente a figura de Lorde Voldemort como o "vilão" da vez, o livro tem um ar mais leve, ganhando maiores tons de uma aventura de adolescentes ("Stranger Things", talvez?) e o leitor consegue relaxar e curtir a história, para saber o que vem pela frente. Eh um livro impossível de largar, daqueles para devorar em uma sentada, um dia apenas. Até agora, ele definitivamente é o mais cativante e o mais divertido, ganhando até mesmo do início do primeiro livro, quando Harry descobre a existência do mundo mágico. Muito disso se deve aos cativantes e interessantes personagens inseridos e a uma divertida e eletrizante competição de quadribol entre as casas.
Falando primeiramente dos personagens, não podemos esquecer de um essencial para a trama do livro, querido pelos fãs e muito bem desenvolvido ao longo do livro: Remus Lupin. O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas logo conquista os alunos com suas divertidas e didáticas aulas práticas, e desenvolve uma forte conexão com Harry, que certamente tem todos os requisitos necessários para ser o favorito dessa matéria. Lupin definitivamente é experiente, apesar de ficar claro desde o início que ele guarda um segredo. O livro nos mostra uma pessoa compassiva e corajosa, com sua história misturando com a própria história de Hogwarts. Era o contraponto que precisávamos para o personagem de Snape, que volta neste livro ainda mais amargo e nervoso, especialmente com Neville Longbottom.
Outra personagem aqui introduzida e que ganha um importante papel coadjuvante na história é a professora Sybill Trelawney, de Adivinhação. Talvez seu enredo seja desenvolvido melhor no futuro, mas é ela a responsável por ver o perigo que Harry corre (e insistir constantemente nessa fala). Ela é conhecida por seu comportamento dramático e exagerado, muitas vezes fazendo grandes previsões e profecias que são recebidas com ceticismo por muitos, inclusive por Hermione e, às vezes, pela professora McGonagall. Uma interessante personagem que adiciona um elemento de mistério e ambiguidade à história, faz o leitor refletir sobre as profundezas de seus verdadeiros poderes e da veracidade de suas previsões.
Agora, talvez a adição mais significativa ao enredo do livro e de toda a série é a inserção da figura dos dementadores, essas criaturas aterrorizantes desenhadas para trazer à tona os piores sentimentos e sensações de uma pessoa, muito comparados com os sintomas da depressão. Guardas de Azkaban, a prisão dos bruxos, eles são enviados a Hogwarts para se protegerem contra a ameaça potencial de Sirius Black, um fugitivo perigoso. Essa presença é muito refutada por Dumbledore e temida pelos alunos, pois os dementadores têm um efeito arrepiante em seus arredores, causando frio extremo e desespero. A presença deles instiga sentimentos de desesperança, medo e depressão naqueles que os encontram, mas especialmente em Harry, que parece despertar um sádico comportamento nessas criaturas. Ao longo da história, aprendemos mais detalhes sobre a fisiologia e o funcionamento dessas criaturas: eles se alimentam de emoções positivas, deixando suas vítimas em estado de vazio. Também podem performar o Beijo do Dementador, ocasião onde a alma do alvo é extraída, deixando-o em uma existência permanente e vazia.
Dementadores são vilões incríveis para a história e participam incrivelmente bem do enredo. De maneira secundária, a presença desencadeia acontecimentos centrais da trama, como o feitiço patrono, e abrem questionamentos para a atração que Harry exerce sobre eles. O tema da superação do medo e do desespero é central na jornada de Harry, enquanto ele aprende a confrontar e conquistar a influência dos Dementadores. E é revigorante acompanhar essa jornada de fortalecimento.
Outro ponto muito divertido do livro é a taça das casas de Hogwarts, mas especialmente a competição de quadribol. Aqui, podemos ver um Harry mais adolescente com preocupações mais dignas de sua idade, ao contrário de quando está preocupado em salvar o mundo mágico de um incrível mal. A ansiedade e a preocupação de Harry com um simples jogo esportivo é algo que todos nós passamos, pelo menos aqueles que se aventuraram nos esportes, mesmo que na escola. A sensação de não conseguir dormir por doses iguais de animação e medo, o receio de tudo desmoronar com uma simples derrota de uma partida na escola… São momentos assim que nos mostram que Harry Potter é um jovem na escola, com problemas também comuns. E essa fragilidade é ótima para desconstruir o personagem como um super bruxo poderoso e a solução de todos os problemas. Bem, se tem uma coisa que os livros nos ensinaram até agora é que Harry precisa de ajuda, muita ajuda. E talvez se existir um bruxo que tem a solução de todos os problemas, talvez essa pessoa seja Hermione Granger, a melhor mãe pet do mundo bruxo!
Até a próxima com a releitura de "Harry Potter e o Cálice de Fogo". Foi um livro que não me cativou na primeira leitura, então estou empolgada para reler e reavaliar!
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Série Harry Potter:
- Harry Potter e a Pedra Filosofal (30/06/1997)
- Harry Potter e a Câmara Secreta (02/07/1998)
- Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (08/07/1999)
- Harry Potter e o Cálice de Fogo (08/07/2000)
- Harry Potter e a Ordem da Fênix (21/06/2003)
- Harry Potter e o Enigma do Príncipe (16/07/2005)
- Harry Potter e as Relíquias da Morte (21/07/2007).
Avaliação (1 a 5):