Viagem Literária: Eu, valentão

PARISI, Giusi. Eu, valentão. São Paulo: FTD Educação, 2022. 112 p. Título original: Io, bullo: da una storia vera.

Desde que o mundo é mundo toda sala de aula tem aquele aluno que se acha engraçado, chefão todo-poderoso que todos devem respeitar. Aquele que apelida todos os demais com nomes que acha engraçado, mas não passam de ofensas à condição física, social ou mental do colega. Se você não ganhou um apelido desses na vida escolar (como eu ganhei) possivelmente colocou em alguém. Ou não ganhou e não colocou, mas ouvia sem se manifestar. Antigamente, isso não tinha um nome, mas hoje, o bullying não só veio dar um nome a essas atitudes absurdas e pesadas como a dar informação e proteção àqueles que passam por isso. E a ação contra o bullying ganhou até uma data: 07.04, quando se comemora o Dia Nacional de combate ao bullying e à violência na escola! Com tudo isso, recebi com muita satisfação o livro da autora Giusi Parisi, lançado aqui no Brasil pela FTD Educação. Um livro que mais que falar sobre as vítimas de bullying, traz a visão do próprio agressor. Sem mais delongas, apresento para vocês Eu, valentão.

Alessandro Caruso é um adolescente que se acha o chefe da turma, que chega se impondo, que tem explosões de raiva, que coloca apelido em cada um dos colegas de classe, e se impõe sobre professores, que não cumpre regras da escola e que, acima de tudo, não gosta de ser contrariado.

Ele vive com sua família na periferia de Palermo, na Itália, e está passando por um momento difícil com seu pai preso e sua mãe com mais dois filhos para criar. Assim, ele acha que não recebe a devida atenção dela e ainda tem a certeza de que seu pai está preso injustamente.

E assim vamos acompanhando seu dia a dia no colégio e em casa, suas atitudes em relação aos colegas e até mesmo em relação à família.

Essa é a primeira vez que leio sobre bullying pela visão do agressor. Sinceramente, não sei se existe outro livro escrito dessa forma, mas o que senti foi que, apesar de entender o lado de Alessandro, ele, na condição de narrador não confiável, não me convenceu 100%.

Afinal, apesar de saber que o psicológico pode afetar a forma com que a pessoa veja o mundo e as outras pessoas, bem como que, por vezes, o agressor não saiba que está cometendo uma agressão efetivamente, fato é que, por vezes, tive minhas dúvidas se ele não estava mesmo era sendo irônico diante das situações.

Contudo, no final, acabei me surpreendendo positivamente com o personagem.

A mensagem que a autora pretendeu passar com o livro é muito necessária e importante de se abordar com os alunos, sobretudo em um momento em que estamos vivenciando tanto terror em escolas pelo país todo.

Demonstrar até onde uma situação de bullying pode levar uma pessoa, que todos devem se unir para evitar esse tipo de atitude e fazer o agressor entender o mal que ele faz pode prejudicar inclusive a si mesmo e uma mensagem que deve ser levada a todos com a finalidade de erradicar o bullying nas escolas e

em todos os lugares.

A autora tirou de sua própria experiência como professora a inspiração para contar essa história e o resultado foi um livro fluido, instigante e necessário.

As ilustrações de Minna Miná deram ao texto um toque ainda mais especial e nos conectou ainda mais com a realidade mostrada na história.