O bem-amado - Dias Gomes

>>  quarta-feira, 29 de março de 2023

 


GOMES, Dias. O bem-amado. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2018. 126 p. 


Desde uma época que não me recordo quando, eu ouvia falar da novela O bem-amado. Não sabia, à época, que isso aconteceu,  que se tratava da adaptação de um livro, uma peça escrita pelo autor Dias Gomes. Quando descobri, claro, meu interesse pela história se tornou ainda maior. Após uma longa espera, rs, fiz a troca do livro pelo Skoob e, agora, com a curiosidade já morta e enterrada, posso dividir com vocês minhas impressões sobre O bem-amado. Bora lá?


A cidade é Sucupira, no interior baiano e, quando a história se inicia, um morto não pode ser enterrado na cidade, simplesmente porque não há um cemitério no local. Para enterrar seus defuntos, é necessário que a população vá à cidade vizinha mais próxima. Odorico Paraguaçu, político candidato a prefeito da cidade, usa essa ausência de cemitério para fazer sua campanha e ganhar a eleição. 

O povo, simples e carente de um cemitério desde a fundação da cidade, elege Odorico que passa a fazer de tudo para que o cemitério seja construído.  E ele é.  O problema é que, para inaugurar o campo-santo, há necessidade de que haja um defunto. E essa é uma carência mais difícil de sanar, já que ninguém na cidade parece disposto ou perto da morte. 

Começa, então, uma corrida contra o tempo para conseguir um defunto, para acalmar os ânimos dos cidadãos sucupiranos e calar a boca da oposição.



Costumo dizer em minhas resenhas que alguns autores, mais do que escritores, são visionários. É o caso de Dias Gomes. Uma história escrita na década de 1960 é tão, mas tão atual em relação à política no Brasil, e os delírios, demagogias e até mesmo as fake news, que parece que ele teve uma visão, um presságio do futuro do Brasil enquanto escrevia.

Infelizmente,  isso é ao mesmo tempo impressionante e triste. Saber que tantas décadas depois o Brasil se encontra parado no mesmo lugar em relação à política. Que ainda contamos com os mesmos tipos de políticos delirantes, perigosos pagando de malucos, é muito triste, para dizer o mínimo. 

Mas O bem-amado não é uma história triste. Muito pelo contrário.  É cômica,  antes de ser trágica. É possível se permitir se divertir com  as loucuras de Odorico Paraguaçu, tão focado em suas metas de campanha que é capaz de prejudicar a cidade inteira sem a menor piedade (claro, a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco). 

Ele é o típico político falastrão que usa até mesmo uma linguagem difícil para se mostrar superior ao povo da cidade. 

Gostei muito da história. Por ser uma peça, é rápida e muito fácil de ler. Sempre gosto de ler acompanhando a adaptação para ajudar a visualizar melhor, já que a peça é,  geralmente,  só composta de falas. Assim, assisti à uma das séries (o livro já foi adaptado várias vezes e essa é a adaptação mais recente) disponível no Globoplay, em 4 episódios, que traz Marco Nanini brilhantemente no papel de Odorico. Estou ansiosa para assistir à novela também.

Deixo o link para vocês assistirem ao trailer e, quem sabe, animar em também a ler essa "farsa sociopolítico- patológica em 9 quadros". Qualquer semelhança com o nosso país, não é mera coincidência. 


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Avaliação (1 a 5): 





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