A natureza da mordida - Carla Madeira

>>  quarta-feira, 22 de março de 2023

 


MADEIRA, Carla. A natureza da mordida.  São Paulo: Editora Record, 2022. 240 p. 


Não é mistério para ninguém que sou fã de Carla Madeira desde que li Tudo é rio. Também me encantei por Véspera (ao contrário da Alice, como você pode conferir aqui, rs). Logo, minha ansiedade para ler A natureza da mordida era tão grande que não aguentei esperar o livro físico e fui logo comprando o e-book para que pudesse ler mais rápido, rs. Agora, conto para vocês o que achei de A natureza da mordida. 


Olívia está em um péssimo momento da vida e está se afogando em seus pensamentos e mágoas quando, de repente, em um domingo  em um sebo improvisado em uma banca na Savassi, em Belo Horizonte, é abordada por uma senhora, octogenária que pergunta: "O que você não tem mais que te entristece tanto?" 

A senhora em questão é Emma, que se apresenta como Biá (nome de louca, como ela própria diz), uma psicanalista aposentada, leitora voraz e que também está em um momento difícil da vida. 

A pergunta feita por Biá dá início a uma amizade profunda, capaz de salvar ambas de seus "afogamentos". Mas será que a vida, aquela senhora banguela que ri debochadamente da gente, vai deixar que Biá e Olívia se livrem de seus ressentimentos, arrependimentos,  acontecimentos? Você descobre lendo A natureza da mordida!


"- Quando ele foi embora, houve uma hora precisa... em que ele estava de partida e de lanterna que não sabia ir, aos pedaços. Há muito lutávamos, eu e ele. Fui eu quem disse: "Vá". Somos felizes, Olívia,  até o dia em que deixamos de ser. Aí notamos que a felicidade não é uma coisa abstrata, nem poética, nem complexa. Ela apenas está lá disponível e é sobretudo a ausência do irreversível.  Mais cedo ou mais tarde acontece o que não pode ser desfeito. Você acorda e pensa: até ontem eu era feliz, e sabe que isso não terá mais conserto. Nada a fazer. O cachorro morde. O cachorro fere na mordida. A carne se rasga na mordida. A fome se mata na mordida. O sangue escorre na mordida. Os dentes se encostam na mordida. As marcas se fazem na mordida. Nada a fazer. A natureza da mordida está lá. Não importa o quanto sejamos civilizados. A natureza da mordida é implacável,  e o gato arranha. O rato rói.  O homem sonha. E os sonhos não podem ser dominados. E eu disse: "Vá "." (Posição 731)


Depois de ler as duas outras já lançadas pela Carla Madeira: Tudo é rio e Véspera,  ficou muito mais fácil saber o que esperar de A natureza da mordida. E, mais uma vez, a autora não decepcionou. 

A linguagem dura, cruel, marrenta nos atinge em cheio a cada página assim como nos demais livros. 

Nessa história,  primeiro o leitor é jogado em um turbilhão de acontecimentos na vida de Biá e Olívia (que narram a história de forma alternada)e é sacudido sem que nada seja explicado.  Fiquei aturdida no início da leitura, mas de um jeito positivo. 

A ansiedade se tornou imensa para saber o que tinha levado ambas a sofrerem daquele jeito. A imaginação correu solta, é claro, mas Carla Madeira tem o dom de não trazer o óbvio. 

A medida que o livro vai passando as coisas vão sendo explicadas e os plot twist me deixaram de boca aberta, como não podia deixar de ser em livros da autora, que gosta de trazer a complexidade do ser humano para as histórias e faz isso com maestria. 

Mais uma vez, a maternidade não é romantizada na história, a violência está presente e as memórias,  os sentimentos dos personagens são quase palpáveis. Em diversos trechos eu precisei marcar, pois me lembrou muito minha infância e coisas pelas quais passei. Impossível não se identificar. É um livro sobre perda, perdão, ausência, desejo, arrependimentos,  ressentimentos. 

Antes de me despedir, acho legal mencionar que a história se passa em Belo Horizonte e isso ajudou muito a minha imaginação. Adoro quando a história se passa em um lugar que já fui ou que conheço,  é como se estivesse ouvindo a história de um conhecido, rs. 

Mais um livro da Carla Madeira que indico fortemente! Não, não se tornou meu favorito, que continua sendo Véspera,  mas merece e deve ser lido como todos os outros da autora. Leiam!


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Avaliação (1 a 5): 








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