O passeador de livros - Carsten Henn

 

HENN, Carsten. O passeador de livros. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,  2022. 224 p. Título original: Der buchspazierer. 

Não foi preciso ler muito sobre O passeador de livros para me interessar por sua história.  Curiosa que só eu sei ser em relação a livros que falam sobre livreiros/livrarias/sebos/amantes de Literatura,  tive que correr para adquirir meu exemplar para conhecer com urgência Carl, Schascha e os demais personagens do livro. Então, agora, conto para vocês o que achei de O passeador de livros.

Carl Kollhoff é um senhor de 72 anos que ama e trabalha com livros desde que se entende por gente. Ele trabalha como livreiro na única livraria da pequena cidade onde vive e sua maior alegria é,  todos os dias, embrulhar os livros comprados pelos clientes mais especiais da loja e entregá-los diretamente em sua residência. A cada uma dessas pessoas especiais Carl deu um nome de um romance ou um livro que ele achou que combinasse e o apelido caiu tão bem que para ele é difícil lembrar o nome verdadeiro dessas pessoas.

Ao longo do tempo eles foram construindo uma boa relação e, para Carl é fácil observá-los pela lente da lucidez e da imaginação ao mesmo tempo. 

Contudo, como essas pessoas reagiriam se soubessem que a visita literária de Carl, suas preciosas indicações de livros e suas entregas cujos embrulhos sempre foram feitos com tanto esmero, está prestes a se encerrar e o livreiro, prestes a perder o emprego?

Carl acha que o fim da linha está chegando para ele, mas mantém sua vida dentro de seus hábitos, horários e trajetos, sempre variando muito pouca coisa. Mas tudo isso está prestes a mudar quando ele conhece Schascha, uma menina de 9 anos cheia de vida e ainda mais imaginativa que Carl e que está prestes a virar a vida dele do avesso, modificando o que ele pensa da vida, das pessoas e até mesmo dos livros. E o pior é que ele pode gostar disso!

Poucos parágrafos bastaram para esse livro me conquistar de uma forma que há um tempo não vejo um livro fazer. 

Imagina você tentar, por anos a fio, explicar por alguém seu amor pelos livros, explicar que você acha que os personagens estão vivos e transitam entre os meros mortais, explicar tantas e tantas coisas sobre literatura, todas sem sucesso e, de repente, você ver tudo isso muito bem explicado em um livro? Para mim foi um bálsamo. 

O passeador de livros é mais que um livro sobre um amante da literatura. É uma exaltação aos livros, aos leitores. As referências,  as frases, os pensamentos de Carl sobre livros, leitores, sobre quem não lê são basicamente tudo o que penso sobre o assunto. Foi muito incrível me ver, me encontrar nesse senhorzinho que ganhou para sempre meu coração. 

Mas o livro também é um livro sobre o conflito de gerações,  sobre o novo tentando superar o velho, o antigo, como se eles não pudessem habitar no mesmo planeta. Como se fossem móveis que não pudessem compor o mesmo cômodo. Esse conflito fica aparente de forma negativa, por assim dizer, por meio da dona da livraria,  Sabino, filha do antigo patrão de Carl e atual dona da livraria. Que mulherzinha insuportável,  credo. 

Por outro lado, também nos é trazido esse conflito de uma forma positiva, com respeito, carinho, por meio da amizade de Carl e Schascha, como se fossem avô e neta, bem como de Carl com os clientes mais jovens que o tratavam sempre com tanto carinho. 

Schacha é uma criança muito esperta, sabida na medida certa e criativa. Fixa difícil não se encantar com tanta fofura!

E foi assim que Carsten Henn me fez me apegar a todos os personagens, até mesmo aos clientes que Carl visitava todos os dias, a quem ele deu nomes como Mister Darcy, senhora Pippy Meialonga, Hércules. Achei bacana como o autor dá destaque na medida certa para cada um deles, fazendo com que deixem sua marca cada um à sua maneira. No fim das contas me peguei imaginando que personagem eu seria para  Carl caso me tornasse uma de suas clientes!

O autor também conseguiu fazer uma história completa dentro das 224 páginas que escreveu e com certeza não foi por achar que faltou alguma coisa (embora apenas um pequeno detalhe sobre um ocorrido tenha me incomodado um pouco, mas não vale a discussão em meio a tanta perfeição) que me vi querendo que o livro tivesse muitas e muitas páginas a mais, mas porque, assim como descrito no próprio livro: "mesmo quando um livro maravilhoso termina na hora certa - com as palavras  estas e quando qualquer outra palavra a mais simplesmente destruiria essa perfeição -, a gente sempre deseja maus algumas páginas.  Essa é a esquizofrenia da leitura".

Esse é um livro para todas as idades e , se você é um amante dos livros, sem dúvida precisa ler. Se não é e quer entender a cabeça de um leitor apaixonado,  acho que esse livro vai te explicar muito bem!

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