Entre Dois Amores - Agatha Christie
>> sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
CHRISTIE, Agatha. Entre Dois
Amores. Porto Alegre: Editora L&P, 2014. 448p. Titulo original:
Giant's Bread.
Entre Dois Amores é o décimo
terceiro livro do PROJETO AGATHA CHRISTIE, sendo o primeiro da autora escrito
sob o pseudônimo Mary Westmacott, usado ao longo da carreira para publicar
obras de ficção romântica ou até mesmo dramas. O livro foi publicado em 1930 e
nos conta uma trágica história de amor, perda e paixão artística, seguindo a
vida do brilhante e problemático compositor Vernon Deyre. O Projeto Agatha
Christie é uma iniciativa do Blog Viagem Literária para reunir leitores fãs da
autora e que desejam ler ou reler a sua obra, seguindo a ordem cronológica de
lançamento dos livros. Lemos juntos um livro por mês e nesse período
conversamos sobre nossas impressões e compartilhamos experiências. Ainda dá
tempo de entrar, é só acessar as informações do Projeto no post de
apresentação, que você encontra AQUI.
"Entre Dois Amores" é
o primeiro dos 6 livros de Mary Westmacott. O uso de pseudônimos não é estranho
à autores de sucesso, sendo diversos os motivos para se publicar sob outro nome.
Por exemplo, são conhecidos os casos de autoras mulheres que publicaram sob
nomes neutros ou masculinos para que as obras fossem consideradas mais comercializáveis
ou atraente para os leitores, vide os feitos das irmãs Brönte. Há casos também
de autores que querem proteger sua privacidade e vida pessoal, o que foi
relatado por J.K Rowling ao publicar a série do detetive Cormoran Strike sob o
nome Robert Gailbraith (e você confere as resenhas dos livros AQUI). Ao que
tudo indica, Agatha Christie usou deste recurso para separar seus livros de
estilos diferentes. Quando "Entre Dois Amores" foi publicado em 1930,
a autora já tinha fama como uma excelente e popular escritora de mistério e
história de detetives. Assim, entendo a expectativa do leitor ao procurar um
livro com ‘Agatha Christie’ na capa e a frustração que seria encontrar um drama
romântico.
Seguindo esse raciocínio, a
autora publicou os seguintes livros sob o pseudônimo de Mary Westmacott:
Mas comecemos por “Entre Dois
Amores”. Aqui temos a história de um músico talentoso e ambicioso, Vernon
Deyre, que é assombrado pelas suas memórias e criação na infância. Apesar de
alcançar sucesso e reconhecimento como compositor, Vernon não consegue
encontrar felicidade e realização em sua vida pessoal. O livro explora temas de
amor, perda e a busca da paixão artística, bem como as consequências das ações
e decisões de alguém.
Começamos o livro na National
Opera House de Londres, que apresenta uma composição modernista chamada
"The Giant", que provoca reações mistas do público. Após uma
narrativa girando em torno da identidade e origem do compositor, vamos para a
infância de Vernon Deyre. Entre altos e baixos, ele cresce como filho único de
um soldado e de sua mãe pegajosa em Abbots Puisannts, onde alguns amigos
imaginários. A irmã de seu pai, Nina, vem morar com eles quando seu casamento
desmorona, e Vernon torna-se amigo de sua filha, Josephine. Quando Vernon herda
a propriedade, as circunstâncias fazem com que ele se reconecte com o amigo de
Josephine, Sebastian, e outra velha amiga, Nell Vereker. E a partir daí o amor
e diversas dificuldades para os relacionamentos entram em cena, incluindo as
ambições artísticas de Vernon.
O livro definitivamente é
diferente de muitos outros trabalhos de Agatha Christie pois definitivamente
não gira em torno de um grande mistério, apesar de trazer elementos surpresas e
dramáticos na conclusão da história. É completamente diferente do que lemos até
agora, sendo um romance autônomo basicamente concentrado na vida e nos
relacionamentos de seus personagens, com a vocação artística e aquela
composição musical como temas centrais que desencadeiam a história. Além disso,
o livro também se difere ao apresentar uma narrativa não linear, com a história
sendo contada em uma série de flashbacks e através das perspectivas de
diferentes personagens. O estilo de escrita também é outro, o que acaba se
refletindo no tamanho do livro, claramente maior do que os demais até então
publicados. A autora se atém mais a detalhes e descrições, com cuidado ao dar
dramaticidade e diversos adjetivos às cenas descritas.
Foi uma interessante
experiência ver o que mais a autora consegue entregar, e definitivamente há
talento de sobra. Os personagens aqui possuem maior nuance e complexidade e os
temas são mais maduros e profundos. Porém, o livro definitivamente não é
divertido, o que foge da razão pela qual eu procuro o nome Agatha Christie. Achei
as descrições demasiadamente pedantes e cansativas, e foi um livro truncado. A
história tem camadas e complexidade, mas peca na desenvoltura.
Por essa razão fico feliz de
voltar ao nome Agatha Christie e a novas histórias de detetive, desta vez com a
introdução de Miss Marple em “Assassinato na Casa do Pastor”.
Até a próxima!
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Avaliação (1 a 5): 2.5
Giant's Bread.
“Vernon deu um
suspiro de alívio. Uau, claro! Um sentimento de gratidão tomou conta dele por
sua babá. Ela era confiável. Eu sabia. Graças a ela, o universo contraditório
tornou-se coerente. Ela não estava brincando, como sua mãe. Ela o informou
sobre as questões importantes com toda a seriedade e não riu dele pelas costas.
Certa vez, ela ouviu sua mãe dizer a alguns de seus amigos: ‘Ele me pergunta as
coisas mais inesperadas. Ouça isso, por exemplo... Não é verdade que os
pequenos são adoráveis e engraçados:’ Mas Vernon não se considerava adorável ou
engraçado. Estava apenas fingindo saber. Saber é necessário. Sem ele, você
nunca deixa de ser criança. E quando deixa de ser tudo fica mais fácil, porque
você sabe de tudo e seus bolsos estão cheios de soberanos de ouro”.
- "Entre Dois Amores" (Giant's Bread), 1930
- "Retrato inacabado" (Unfinished Portrait), 1934. Leitura de setembro/2023
- “Ausência na Primavera” (Absent in the Spring), 1944. Leitura de outubro/2025
- “O Conflito” (The Rose and the Yew Tree), 1948. Leitura de maio/2026
- “Filha é Filha” (A Daughter's a daughter), 1952. Leitura de Janeiro/2027
- “O Fardo” (The Burden), 1956. Leitura de julho/2027
Avaliação (1 a 5): 2.5