Cachorro velho - Teresa Cárdenas

>>  quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 


CÁRDENAS, Teresa. Cachorro velho. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2010. 142 p.


Nunca tinha tido contato com a escrita de um escritor cubano até ler este livro. Depois de assistir a uma resenha sobre ele fiquei muito curiosa e uma promoção da Amazon fez com que o Volume chegasse às minhas mãos. Agora conto para vocês a minha experiência com Cachorro velho.


Cachorro velho nasceu em um engenho e é escravo desde mesmo antes de nascer. Nunca conheceu o mundo além da cancela da fazenda, assim como nunca conheceu o afeto e o amor. 

Cachorro velho é descrente em relação à existência de céu e inferno,  Deus é o diabo e às vezes acha que já viveu desde sempre  o inferno, não precisa morrer para conhecê-lo.

Agora que está velho, fica a tentar se lembrar de coisas e pessoas do passado, principalmente o rosto de sua mãe que, infelizmente, insiste em se manter embaçado em sua mente. 

Cachorro velho já fez de tudo na fazenda e agora, que aparentemente não rende mais tantos "frutos" a seu dono, ele foi transformado em porteiro e exerce a sua atividade aguardando o dia em que poderá finalmente descansar.

Ele só não contava que um acontecimento na fazenda acabaria por acordar sua esperança e sua vontade de ser livre e poder imaginar que, pelo menos uma vez, veria o mundo fora do engenho. Será que ele iria conseguir?


"Agora quase com a morte em seus calcanhares, era porteiro. Mas quando ainda lhe restavam forças, havia trabalhado cortando cana, desmaiando, carregando as carroças com o bagaço, cortando lenha, empilhando carvão,  alimentando os fornos, esfregando os tachos,  lubrificando as peças da.moenda todas as semanas, consertando as portas do barracão, construindo cepos... 
E antes, quando rapazinho, tinha sido encarregado de levar a lenha cortada para a cozinha da casa-grande; de plantar inhame,  cenoura, banana, taioba e abóbora; de limpar os chiqueiros; de levar os cavalos até o rio para lhes dar banho e água; de consertar as carroças; de destravar patos, frangos e porcos; de tirar a lama das botas do senhorzinho...
E quando não média nem três palmos de altura alimentava as galinhas; guiava as mulas da carroça de bagaço; limpava o milho; recolhia a roupa suja da casa-grande; enrolava as tiras de couro para o chicote novo do feitor...
E ao nascer, tivera que trabalhar?
Cachorro velho achava que sim, que já trabalhava desde o ventre de sua mãe.  
Já era escravo desde então. P. 31/32.


Desde que li o livro A filha primitiva no início do ano, não esperava que outro livro tão curtinho sobre um tema tão forte fosse passar por minhas mãos e me arrebatar da mesma forma tão cedo. 

Cachorro velho é um livro triste. Cru, real. É tocante e comovente ver como Cachorro velho fala de si e de outros escravos como pertences, objetos, coisas do patrão. Que podem ser tratados como quiserem e fazerem deles o que quiserem. 

A escravidão foi abolida em Cuba e 1886, mas ainda deixa seu rastro por meio do preconceito racial, da discriminação, assim como acontece aqui no Brasil e pelo mundo todo.

Senti muita empatia por Cachorro velho, cujo nome dado pela mãe ninguém nunca descobriu. Queria que ele pudesse ter uma velhice tranquila e feliz e, sobretudo, livre.

Apesar de ser curtinho e em sua grande maioria devastador, acho que faltou uma pitada de algo que não sei descrever exatamente,  talvez um final menos corrido, algo no texto que se aprofundasse mais na história, não sei. Acabei achando o final um raso e corrido e por isso não dei as 5 estrelinhas.

Mas é um livro que retrata a escravidão e, como tal, merece e precisa ser lido. 

O livro foi vencedor do Prêmio Casa de Las Américas, o mais importante prêmio Cubano de literatura, bem como o mais importante em países de fala hispânica. 

Indico para jovens e adultos. Leiam esse livro tão necessário!


Adicione ao Skoob!


Avaliação (1 a 5): 4.5








Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO