Belo Mundo, Onde Você Está – Sally Rooney

>>  sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

ROONEY, Sally. Belo Mundo, Onde Você Está. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. 332p. Título original: Beautiful World, Where Are You.
 
“Querida Eileen. Esperei tanto tempo para você responder ao meu último e-mail que estou mesmo – imagine só! – escrevendo outro antes de receber a sua resposta. Em minha defesa, reuni bastante material agora e, se eu esperar mais, vou começar a me esquecer das coisas. Você deve saber que a nossa correspondência é meu jeito de me agarrar à vida, fazer anotações sobre ela e assim preservar alguma parte da minha – de resto quase inútil, ou até completamente inútil – existência neste planeta que se degenera rapidamente... Incluo neste parágrafo principalmente para deixá-la com sensação de culpa por não ter me respondido antes, e assim conseguir uma resposta mais rápida desta vez. Em todo caso, o que é que você anda fazendo que não pode me mandar e-mail? Não fala que está trabalhando” (p. 19)
 
Não há outro jeito de introduzir Sally Rooney a não ser como uma grande sensação do mundo literário. A autora irlandesa publicou seu primeiro livro, “Conversa entre Amigos” em 2017 e virou um best seller com sua segunda obra, “Pessoas Normais”, lançada em 2018 e adaptada para a televisão em 2020. A Evelyn resenhou esse livro, e vocês conferem AQUI. Após grande sucesso de vendas e um frenesi com “Pessoas Normais”, que viralizou nos meses iniciais da pandemia, seu terceiro livro, “Belo Mundo, Onde Você Está”, chegou em 2021 com muito alarde. As críticas anteriores, especialmente em torno do segundo livro, colocaram a autora como um dos grandes nomes dos autores millenials, e ganhou o raríssimo status de lançamento mundial sincronizado, algo reservado para obras no calibre de Harry Potter ou mais recentemente na faladíssima biografia do Príncipe Harry. O fato é que Rooney vende livros e tem um fiel grupo de seguidores, o suficiente para chamar atenção. Certamente eu fiquei interessada.
 
Adoro desbravar clássicos, me aventurar por títulos obscuros que me conquistaram pela capa ou uma intrigante sinopse. Mas eu também fico bastante interessada quando livros conquistam leitores mundo afora e ganham destaque nas estantes. Acho que uma parte de mim gosta de “estar por dentro”, poder falar que leu um livro famoso e participar de conversas, ou até discordar do consenso que aparece surgir em torno dos “mais vendidos”. Isso porque muitas pessoas automaticamente consideram livros de sucesso como boas leituras (e a lista é tão vasta que tenho até preguiça de citar). E eu sinto um estranho prazer de dar a minha opinião honesta dessas obras sensações. Sally Rooney foi exatamente isso, uma avaliação da autora super popular e dos livros que todos amam. E foi... diferente.
 
Conheci Rooney por “Pessoas Normais”, e talvez a minha experiência tenha sido um pouco melhor que a da Evelyn. Achei a história um pouco parada e gostaria de um desenvolvimento diferente, mas o estilo de escrita da autora, apesar de não ser meu favorito, chamou minha atenção. Rooney demonstra uma sinceridade meio aloprada mas com completo controle de suas capacidades mentais. É, como falei, diferente. Está dentro da normalidade (e brinco aqui com o título), mas essa normalidade tem vários pequenos desvios que fazem a vida a loucura controlada que é. Essas características definitivamente estão presentes em “Belo Mundo, Onde Você Está”.
 
O livro nos trás Alice Kelleher, uma escritora romancista irlandesa e sua melhor amiga Eileen Lydon, editora de uma revista literária. A estrutura do livro é construída alternando alguns acontecimentos na vida das duas bem como os e-mails que elas trocam. Lembro bem da época de trocar longos emails com amigos, algo muito comum antes do surgimento do whatsapp. Eu mesma passava horas escrevendo relatos da minha vida e atualizando todos das minhas andanças, isso quando não tínhamos essa vantagem trazida pelas redes sociais. Definitivamente esse aspecto saudosista fez o livro conquistar importantes pontos comigo. Com esses relatos, um pouco epistolar (saudades de você, Drácula), somos apresentadas à Felix Brady, novo interesse amoroso de Kelleher, mas uma pessoa um pouco diferente dela, e Simon Costigan, amigo de Eileen.
 
Com as correspondências e os acontecimentos, vamos aprendendo mais da dinâmica do relacionamento Alice – Felix e de Eileen – Simon, dois mundos diferentes e que muito nos mostram sobre as amigas, especialmente suas inseguranças, seus anseios, seus princípios e suas vidas. Eu me identifiquei com alguns desses, ou consegui perceber situações similares próximas a mim. Na verdade, toda a experiência de leitura desse livro me fez ter certeza da minha alma ser completamente e irremediavelmente millenial, sendo Rooney uma fiel representante dos anseios dessa geração.
 
Eu gosto do fato de Rooney escrever sobre temas próximos a mim e com os quais eu tenho uma conexão. Talvez isso seja ainda mais claro aqui do que em “Pessoas Normais”. Enquanto “Belo Mundo, Onde Você Está” talvez tenha uma maior preocupação em trazer uma resolução feliz, mesmo que esse feliz não seja o final mais romântico possível (e isso não é um spoiler, é apenas um devaneio), “Pessoas Normais” talvez esteja mais focado em trazer como é difícil crescer e chegar a vida adulta com uma mente saudável. Claro, quando trago esses temas assim mastigados, tenho que ressaltar que nada da escrita da autora é direto ou intencional em causar essas reflexões, mas é assim que eu avaliei as obras. Rooney tem nuances ao desenvolver suas histórias e seus relacionamentos com pessoas gente-como-a-gente, que talvez a vida simplesmente não permita um “felizes para sempre”.
 
Chamo a escrita de Rooney de diferente pois este é um livro que você gosta ao mesmo tempo que não gosta. Enquanto é uma leitura simples e fluida, que rapidamente te consome e quase impossível de abandonar, me encontrei inúmeras vezes frustrada com uma narrativa que não saía do lugar. Sentia uma mesmice nas personagens, uma repetição de divagação e problemas que contradizem com a leitura rápida que a escrita impõe.
 
Não sei, estou realmente confusa.
 
E sabe qual a pior parte? Com certeza eu lerei outros livros da autora!
 
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