A casa soturna - Charles Dickens por Elaine Gomes

>>  segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

DICKENS, Charles. A casa soturna. Tradução de Oscar Mendes. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018. 800p. Título original: Bleak House.



Olá viajantes literários, meu nome é Elaine Gomes, sou de São Paulo, advogada, louca por gatos e apaixonada por livros. Os livros sempre fizeram parte da minha vida, só não me perguntem qual meu livro favorito da vida, não tenho essa resposta, mas tenho meu estilo literário favorito, sou completamente curiosa em desvendar os encantos dos clássicos da literatura mundial e me divirto muito com livros de terror, horror e suspense.




A CASA SOTURNA, foi o clássico da literatura mundial escolhido para encerrar o ano de 2022 do Blog Viagem Literária. Publicado originalmente em fascículos entre os anos de 1852 e 1853, considerado pela crítica o romance mais perfeito de Charles Dickens, consagrado romancista inglês da era vitoriana.

São 800 páginas de uma trama recheada de intrigas, mistérios, assassinatos, suicídios, traições, conspirações, dramas, desejos, abandonos, orfandades e essencialmente de amor, tudo em meio ao característico estilo narrativo de Dickens, que entrelaça toda a narrativa com muito senso de humor, sarcasmo e pitadas saborosas de ironia. Em um emaranhado de personagens caricatos, espalhado em núcleos diversos, histórias aparentemente desconexas, até me pareceu impossível conectar tantas vidas intricadas, mas todos os personagens são ricamente construídos e cada personagem teve sua história entremeada com os demais em um trabalho primoroso de Dickens.

Como pano de fundo do romance e fio condutor da história, temos um eterno processo judicial “Jarndyce x Jarndyce” com seus procedimentos legais intermináveis, e garantia de entrega da INJUSTIÇA, transformando um sem número de herdeiros em gerações alquebradas, demandantes e querelados doentes, que passam a levar uma vida morta, triste, solitária, engaiolados, arruinados, onde a esperança de liberdade está no eterno aguardar a pauta, para se alcançar uma possível herança, expectativa que só faz crescer a disputa e o ódio ao próximo. Toda a morosidade do sistema judicial e o cenário forense burocrático é descrito como essencial diante da evolução daquela grande sociedade, uma Inglaterra do século XIX em franco crescimento. Ou seja: quanto maior o crescimento do país maior a distância com a preocupação da efetiva entrega de justiça o que faz aumentar ainda mais as diferenças sociais, mas o narrador faz um alerta:

 “ suporte toda e qualquer injustiça que lhe hajam feito, em vez de vir pedir justiça aqui!” (pag. 9)

E assim, Dickens vai nos apresentando uma Londres do século XIX, cercada de espesso nevoeiro, cinza e lúgubre, de terras estéreis, descrevendo cenários com rica ambientação de modo a levar o leitor para dentro do livro, me senti aos esbarrões nos limites do beco do Tribunal, como também pude sentir o fétido odor do bairro Tom-All-Alone´s.

Ponto comum nas obras de Dickens é a forte crítica social e aqui os contrastes foram colocados de forma muito interessante, diante de um embate social, cada qual com seus grilhões, pois temos a descrição das dores e sofrimento tanto de personagens de classe social alta como de personagens paupérrimos, e como sofri e me emocionei com a misteriosa lady Dedlock e com o pobre Jo.

Foi um livro que demorou um pouco para roubar minha atenção, por ter um ritmo de leitura inicial mais lento, mas logo já estava completamente envolvida e curiosa com a narrativa misteriosa e poética. É um livro absolutamente diferente de tudo que já li do autor, difícil superar o amor que construí por David Copperfield, a emoção com Pip em Grandes Esperanças a beleza narrativa de Um Conto de duas cidades ou a poesia esperançosa de Um conto de natal, mas sem dúvida, A casa soturna se tornará igualmente inesquecível, seja pela divertida Resmungadoria, ou pela prazerosa aventura investigativa, que no decorrer das 800 páginas me fez imaginar diversas possibilidades de desfechos, mas, Dickens conseguiu me surpreender, com um final emocionante além de uma linda história de amor.

Obrigada meninas do Blog Viagem Literária, pelo convite para participar da leitura coletiva deste clássico da literatura inglesa e mundial, especialmente pelo convite para resenhar uma obra tão encantadora, foi delicioso acompanhar este surpreendente quebra-cabeça literário.

 “Um sorriso iluminou-lhe a face quando ela se curvou para beijá-lo. Lentamente encostou ele seu rosto no seio dela, enlaçou-lhe mais fortemente o pescoço com seus braços, e com um soluço de despedida começou a viver. Não esta vida, oh, esta não! A vida que conserta esta” (pag. 786).

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