O exercício da incerteza - Drauzio Varella

>>  quarta-feira, 25 de maio de 2022

 

VARELLA, Drauzio. O exercício da incerteza. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 296 p.

Não sei qual foi a primeira vez que vi o Dr. Drauzio Varella dando entrevista na TV. Sei que sempre associei seu rosto ao Fantástico e às informações que ele dava (e dá) sobre várias doenças no programa. Cheguei a ter contato com suas histórias na faculdade ao ler trechos de Estação Carandiru, livro que me deixou por muito tempo com vontade de ser advogada voluntária em presídios  (sonhos de estudante caloura). Agora,  com a chegada de seu novo livro, tive a oportunidade de conhecer suas memórias como homem e médico fora (e também dentro) do presídio e conto para vocês como foi a experiência.  


Drauzio Varella passou em segundo lugar em medicina na USP, com 18 anos e precisou esconder dos pais a decepção de não ter sido aprovado em primeiro. 

Em 50 anos de profissão (e 79 anos de vida),  viu muita coisa, estudou muito,  errou algumas vezes, acertou tantas outras, manteve a humildade como médico,  exerceu a empatia, lutou para introduzir os mais variados assuntos e pesquisas no mundo médico e lutou para disseminar informações importantes para a população, diante de seu amplo acesso a meios de comunicação (e graças a ele), pois o governo e a forma como a medicina é tratada e guiada no Brasil trouxe os mais diversos obstáculos para que informações chegassem à  população (que o diga a pandemia de c   Coronavírus e a falta de diálogo e  informação por parte do governo).

Adepto da medicina preventiva, Drauzio menciona várias vezes ao longo do livro que esta seria a melhor solução para as doenças e gastos com saúde que o país enfrenta. Prevenir é o melhor remédio, mas o Brasil, apesar do ditado ser tão conhecido, não é aplicado na saúde do país.

Ao longo do relato sincero e franco do médico, que é especializado em oncologia (informação que descobri apenas ao ler este livro, justamente por vê-lo sempre abordando e explicando os mais diversos assuntos da medicina), vemos o quanto a curiosidade, a proatividade de um profissional, a vontade de estudar e correr atrás de informação e conhecimento pode ajudar a desenvolver uma área. 

Por ter se formado em uma época em que o país e o mundo ainda não contavam com tanta tecnologia e descobertas de medicamentos,  aparelhos e conhecimentos sobre doenças novas ou pouco conhecidas como o HIV, a tuberculose, o câncer que ainda mal tinha medicação para tratamento. Drauzio presenciou muitos acontecimentos: como a criação do SUS, a criação de vacinas importantes,  criação do coquetel que revolucionou o tratamento do HIV, que o ensinaram muito e contribuíram para exercício da medicina. 

O mais legal foi ver que ele não assistiu a esses acontecimentos calado ou apenas tratando os doentes com o que tinha. Ele se esforçou para contribuir com o avanço das formas de tratamento e medicação, ainda que não tivesse quase experiência nenhuma no assunto por não ser sua especialidade. 

O único ponto negativo do livro foi que em alguns dos relatos, ele dá algumas explicações usando termos médicos que achei levemente cansativos, possivelmente por ser uma leiga e não entender patavina dos termos que ele empregou para contar a experiência. 

Mesmo assim, foram poucos os casos. Em sua grande maioria, o relato nos permite compreender o outro lado da medicina, da dor, das doenças. O lado de quem estudou para conhecê-las e auxiliar, tratar e, se possível, curar  aqueles que sofrem. O  lado daquele que teria a responsabilidade de contar ou não ao doente que ele está com câncer, daquele que sente pela dor do paciente,  mas precisa passar calma, firmeza, a fim de não desmoronar mais aquele que sofre. 

Ao final dessa leitura, a visão que eu tinha de médicos sempre tão frios, sem empatia, começou a mudar. Sei por experiência própria que eles existem. Mas é bom saber que, por aí, existem médicos que têm um coração e usam o conhecimento médico em prol de seus pacientes independente da cor, idade, doença. Ao Dr. Drauzio Varella, meu agradecimento por isso. 


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