A Biblioteca da Meia-Noite – Matt Haig

>>  sexta-feira, 15 de abril de 2022


HAIG, Matt. A Biblioteca da Meia-Noite. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020. 308p. Título Original: The Midnight Library.
 
“– Entre a vida e a morte, há uma biblioteca – disse ela. – E dentro dessa biblioteca, as prateleiras não têm fim. Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que você poderia ter vivido. De ver como as coisas seriam se tivesse feito outras escolhas... você teria feito algo diferente, se houvesse a chance de desfazer tudo de que se arrepende?” p. 41
 
Ah, aquele caso do livro certa na hora certa. É tão bom quando os cosmos trabalham e te entregam a obra que você precisava ler e não fazia ideia! Esse foi “A Biblioteca da Meia-Noite”, o premiado e bem sucedido livro do inglês Matt Haig originalmente lançado em 2020, e tenho certeza que diversas pessoas também sentiram isso.
 
Como é cada vez mais comum para mim, conheci o livro no formato de áudio pelo aplicativo Audible da Amazon, minha maneira preferida de praticar o inglês. A versão é narrada pela atriz inglesa Carey Mulligan e é simplesmente fantástica, tanto que fiz questão de comprar o livro para ter em minha biblioteca (e um pouco pela reiteração de ter um livro sobre uma biblioteca na minha biblioteca). A edição da editora Bertrand Brasil é linda, em verde neon e bilha no escuro (o que descobri a noite, achando que tinha um vagalume no meu quarto). O fato é que em qualquer versão esse livro é irresistível, e eis uma excelente dica de presente que definitivamente vai agradar várias pessoas!
 
“A Biblioteca da Meia-Noite” foi o meu segundo livro lido em 2022. Estava na minha lista desde o final de 2020, quando ganhou alguns prêmios e já figurava nas listas de best sellers imperdíveis. Eu simplesmente o coloquei ali pelo burburinho, e não fazia ideia da história. Se soubesse, talvez tivesse lido ainda antes, pois é um enredo que simplesmente amo. Ele se encontra em uma categoria que eu particularmente adoro, mas acho difícil de se definir. Gosto de chamar de “ame sua vida”. Não é autoajuda (sei que não é esse o nome utilizado, mas é uma boa descrição, temos que admitir), é um gênero dentro da ficção. Esse estilo sempre me agradou, liga um interruptor na minha cabeça que imediatamente aquece meu coração e gera inúmeras reflexões. Minhas resenhas dos livros de Matthew Quick (que vocês conferem AQUI) estão aí para mostrar o quanto gosto de livros assim, que trazem histórias de pessoas que sofrem e aos poucos descobrem que há coisas na vida que valem muito a pena. Eu já me senti quebrada algumas vezes, e consegui com muita luta encontrar essas pequenas felicidades, então histórias assim me tocam bastante. Esse é o caso deste livro de Matt Haig.
 
Aqui, temos a história de Nora, uma mulher que desistiu da vida, mas é presenteada com a oportunidade de vivenciar diversas versões de si mesma. Com um pouquinho da teoria dos multiversos da Teoria das Cordas (pense como um mundo Marvel, nada complexo), somos apresentados à Biblioteca da Meia-Noite, um lugar que seria mais que um limbo, quase uma “clínica de reabilitação” da sua alma. Ali, Nora encontra a simpática bibliotecária, a Sra. Elm (e mando um beijo para todas as lindas bibliotecárias da minha vida), que a guia pelas regras do lugar. Há inúmeros livros catalogados, livros que representam diversas versões de Nora. Vidas diferentes baseadas em escolhas distintas, diferentes versões de quem ela é. E há também um “livro guia”, o Livro dos Arrependimentos, uma enorme lista de coisas que Nora se arrepende e amargamente carrega em sua vida.
 
Ali na biblioteca, o tempo é relativo, e Nora consegue visitar os outros livros e conhecer suas diferentes versões, as vidas que ela teria levado caso tivesse feitos outras escolhas, aquelas que hoje estão listadas como arrependimentos. E nós vamos acompanhando as suas diferentes vidas e versões. O que teria acontecido se ela continuasse com a natação? Se seguisse a carreira musical? Se estudasse oceanografia? E com isso, ao mesmo tempo que a personagem vai riscando seus arrependimentos, vamos com muita leveza e interesse torcendo para sua vontade de viver reacender, para que ela encontre a sua melhor versão. Mas não é tão fácil...
 
“A Sra. Elm abriu um sorriso irônico.
– Eis aí uma prova, não é mesmo?
– Prova de quê?
– De que você pode escolher as opções, mas não as consequências. Mas mantenho o que disse. Foi uma boa escolha. Só não foi o resultado desejado.” (p. 96)
 
O peso dos arrependimentos é algo que desde cedo carrego com alguma dificuldade. É cansativo e dói. Então uma história que gira em torno da oportunidade de vivenciar resultados de escolhas diferentes foi algo que me tocou. Eu amaria visitar uma biblioteca da minha vida, ver as diversas versões de mim, as inúmeras possibilidades de escolhas. A tentação é incrível. E eu não pude deixar de pensar um pouco na minha vida quando a protagonista fazia o mesmo com a dela. Eu simplesmente amo livros que me transportam, que me fazem refletir sobre a minha vida e escolhas. Aqui temos uma linguagem tão simples, uma história que tem tudo para ser batida e superficial, mas funciona incrivelmente bem.
 
Como disse, essa foi a minha segunda leitura de 2022, e veio logo após um livro que me dilacerou de um jeito que achei que demoraria a me recuperar (vocês descobrem qual livro acessando a resenha AQUI). E eu fiquei chocada após ler “A Biblioteca da Meia-Noite”, pois me senti completamente curada e inteira novamente. Esperei alguns meses para resenhar com medo de ser efeito do momento literário que estava vivendo, mas hoje, 3 meses depois, consigo com mais imparcialidade dizer que mantenho a minha opinião de que o livro realmente é bom e me marcou positivamente. A nota só não é total pois você começa o livro já sabendo tudo que vai acontecer, não há qualquer segredo ou desenvoltura literária nesse sentido. Mas ele entrega com perfeição o que objetivou, e eu amei cada minuto.
 
A história é óbvia e o objetivo é claro: ame sua vida. E eu tento, a gente tenta, todos os dias. E eu gosto de livros assim para tirar o peso, leituras que mostram que ninguém está sozinho no que quer que seja.
 
E, nas palavras da Sra. Elm, “a única maneira de aprender é vivendo” (p. 97).
 
Adicione ao seu Skoob!
 
Avaliação (1 a 5): 4.5 estrelas


Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO