“– Entre a vida e
a morte, há uma biblioteca – disse ela. – E dentro dessa biblioteca, as
prateleiras não têm fim. Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar
outra vida que você poderia ter vivido. De ver como as coisas seriam se tivesse
feito outras escolhas... você teria feito algo diferente, se houvesse a chance
de desfazer tudo de que se arrepende?” p. 41
Ah, aquele caso do livro certa
na hora certa. É tão bom quando os cosmos trabalham e te entregam a obra que
você precisava ler e não fazia ideia! Esse foi “A Biblioteca da Meia-Noite”, o
premiado e bem sucedido livro do inglês Matt Haig originalmente lançado em
2020, e tenho certeza que diversas pessoas também sentiram isso.
Como é cada vez mais comum
para mim, conheci o livro no formato de áudio pelo aplicativo Audible da
Amazon, minha maneira preferida de praticar o inglês. A versão é narrada pela
atriz inglesa Carey Mulligan e é simplesmente fantástica, tanto que fiz questão
de comprar o livro para ter em minha biblioteca (e um pouco pela reiteração de
ter um livro sobre uma biblioteca na minha biblioteca). A edição da editora
Bertrand Brasil é linda, em verde neon e bilha no escuro (o que descobri a
noite, achando que tinha um vagalume no meu quarto). O fato é que em qualquer versão
esse livro é irresistível, e eis uma excelente dica de presente que
definitivamente vai agradar várias pessoas!
“A Biblioteca da Meia-Noite”
foi o meu segundo livro lido em 2022. Estava na minha lista desde o final de
2020, quando ganhou alguns prêmios e já figurava nas listas de
best sellers
imperdíveis. Eu simplesmente o coloquei ali pelo burburinho, e não fazia ideia
da história. Se soubesse, talvez tivesse lido ainda antes, pois é um enredo que
simplesmente amo. Ele se encontra em uma categoria que eu particularmente
adoro, mas acho difícil de se definir. Gosto de chamar de “ame sua vida”. Não é
autoajuda (sei que não é esse o nome utilizado, mas é uma boa descrição, temos
que admitir), é um gênero dentro da ficção. Esse estilo sempre me agradou, liga
um interruptor na minha cabeça que imediatamente aquece meu coração e gera
inúmeras reflexões. Minhas resenhas dos livros de Matthew Quick (que vocês
conferem
AQUI) estão aí para mostrar o quanto gosto de livros assim, que trazem
histórias de pessoas que sofrem e aos poucos descobrem que há coisas na vida
que valem muito a pena. Eu já me senti quebrada algumas vezes, e consegui com
muita luta encontrar essas pequenas felicidades, então histórias assim me tocam
bastante. Esse é o caso deste livro de Matt Haig.
Aqui, temos a história de
Nora, uma mulher que desistiu da vida, mas é presenteada com a oportunidade de
vivenciar diversas versões de si mesma. Com um pouquinho da teoria dos
multiversos da Teoria das Cordas (pense como um mundo Marvel, nada complexo),
somos apresentados à Biblioteca da Meia-Noite, um lugar que seria mais que um
limbo, quase uma “clínica de reabilitação” da sua alma. Ali, Nora encontra a
simpática bibliotecária, a Sra. Elm (e mando um beijo para todas as lindas
bibliotecárias da minha vida), que a guia pelas regras do lugar. Há inúmeros livros
catalogados, livros que representam diversas versões de Nora. Vidas diferentes
baseadas em escolhas distintas, diferentes versões de quem ela é. E há também
um “livro guia”, o Livro dos Arrependimentos, uma enorme lista de coisas que
Nora se arrepende e amargamente carrega em sua vida.
Ali na biblioteca, o tempo é
relativo, e Nora consegue visitar os outros livros e conhecer suas diferentes
versões, as vidas que ela teria levado caso tivesse feitos outras escolhas, aquelas
que hoje estão listadas como arrependimentos. E nós vamos acompanhando as suas
diferentes vidas e versões. O que teria acontecido se ela continuasse com a
natação? Se seguisse a carreira musical? Se estudasse oceanografia? E com isso,
ao mesmo tempo que a personagem vai riscando seus arrependimentos, vamos com
muita leveza e interesse torcendo para sua vontade de viver reacender, para que
ela encontre a sua melhor versão. Mas não é tão fácil...
“A Sra. Elm abriu um sorriso irônico.
– Eis aí uma prova, não é mesmo?
– Prova de quê?
– De que você pode escolher as opções, mas não as
consequências. Mas mantenho o que disse. Foi uma boa escolha. Só não foi o
resultado desejado.” (p. 96)
O peso dos arrependimentos é
algo que desde cedo carrego com alguma dificuldade. É cansativo e dói. Então
uma história que gira em torno da oportunidade de vivenciar resultados de
escolhas diferentes foi algo que me tocou. Eu amaria visitar uma biblioteca da
minha vida, ver as diversas versões de mim, as inúmeras possibilidades de
escolhas. A tentação é incrível. E eu não pude deixar de pensar um pouco na
minha vida quando a protagonista fazia o mesmo com a dela. Eu simplesmente amo
livros que me transportam, que me fazem refletir sobre a minha vida e escolhas.
Aqui temos uma linguagem tão simples, uma história que tem tudo para ser batida
e superficial, mas funciona incrivelmente bem.
Como disse, essa foi a minha
segunda leitura de 2022, e veio logo após um livro que me dilacerou de um jeito
que achei que demoraria a me recuperar (vocês descobrem qual livro acessando a
resenha
AQUI). E eu fiquei chocada após ler “A Biblioteca da Meia-Noite”, pois
me senti completamente curada e inteira novamente. Esperei alguns meses para
resenhar com medo de ser efeito do momento literário que estava vivendo, mas
hoje, 3 meses depois, consigo com mais imparcialidade dizer que mantenho a
minha opinião de que o livro realmente é bom e me marcou positivamente. A nota
só não é total pois você começa o livro já sabendo tudo que vai acontecer, não
há qualquer segredo ou desenvoltura literária nesse sentido. Mas ele entrega
com perfeição o que objetivou, e eu amei cada minuto.
A história é óbvia e o
objetivo é claro: ame sua vida. E eu tento, a gente tenta, todos os dias. E eu
gosto de livros assim para tirar o peso, leituras que mostram que ninguém está
sozinho no que quer que seja.
E, nas palavras da Sra. Elm, “a
única maneira de aprender é vivendo” (p. 97).
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