Quarto de despejo - Carolina Maria de Jesus
>> quarta-feira, 23 de março de 2022
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2021. 264 p.
Quando ouvi falar de Quarto de despejo pela primeira vez, há alguns anos, era impossível encontrar algum exemplar para fazer a leitura. Quando encontrei o exemplar em sebos na internet para comprar, o valor estava astronômico. Quando desanimei, consegui encontrar no site Estante Virtual o exemplar por míseros 19,00, o que me causou verdadeiro espanto. Comprei correndo antes que o vendedor mudasse de ideia (vai quê, né? kkk) e finalmente pude matar minha curiosidade. Saibam, agora, o que achei de Quarto de despejo.
Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, MG, e foi bem novinha para São Paulo, assim como faziam (e fazem) milhares de brasileiros todos os anos, em busca de uma vida melhor. Já em São Paulo, conseguiu um trabalho como empregada doméstica, que durou até que ela engravidasse do primeiro filho. A partir de então, perdeu o emprego e passou a viver na rua. Em seguida, passou a viver no terreno que se tornaria a favela do Canindé.
Para se sustentar (e aos filhos que foram nascendo, 3 ao todo) virou catadora de papel. Saía de casa sem hora para voltar, retornando apenas quando conseguia dinheiro e alimentos (muitas vezes tirados do próprio lixo), para alimentar os filhos.
Foi dos livros, que também encontrava no lixo, que Carolina tirou o sustento para sua fome de conhecimento. Ela cursou apenas dois anos do colégio, mas aprendeu muito mais com a vida e com os livros que leu.
Além de ler muito, Carolina escrevia muito, principalmente diários sobre sua vida na favela. Até que um dia, seu desabafo sobre a vida que levava, narrado nos diários que escrevia, foi descoberto por um repórter, Audálio Dantas, que precisava escrever uma reportagem sobre a vida nas favelas. Sua vida cruzou com a de Carolina, mudando a vida de ambos para sempre.
Contando assim, parece um livro de ficção, não é mesmo? Mas o livro é real, a vida de uma brasileira preta, favelada, nada tem de ficção. A fome não é fictícia, os filhos que sofrem não são fictícios, a vontade de ter uma vida melhor também não é fictícia. É o triste relato de uma brasileira e que, infelizmente, pouco mudou de 1955 para os dias de hoje.
A história é narrada entre julho de 1955 e termina em 1º de janeiro de 1960, com alguns espaços no diário. Esse livro é uma denúncia tão atual que assusta. Deve e merece ser lido por todos. Carolina, apesar da pouca instrução, tem, graças à leitura de livros e jornais, uma visão de mundo de uma clareza que espanta!
Genial é a sua ideia de divisão da cidade de São Paulo em cômodos, como ela descreve no trecho a seguir:
"... Eu classifico São Paulo assim: O palácio, é a sala de visita. A prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela, é o quintal onde jogam os lixos."
Achei muito interessante que, para manter a originalidade da escrita de Carolina Maria de Jesus, nenhuma editora que publicou seu livro alterou a forma como ela escrevia.
O triste, mas que vem sendo modificado, é que Quarto de despejo é um clássico que passou muito tempo esquecido e pouco reconhecido pelos leitores brasileiros. Apesar de ter vendido milhões de exemplares, ter sido traduzido para mais de 14 idiomas e, até pouco tempo atrás, ter sido um dos livros mais difíceis de encontrar em livrarias e sebos, como eu disse no início desta resenha.
Lendo Casa de Alvenaria, livro que sucedeu Quarto de despejo, descobri que foi lançado, em 1961, um álbum com canções cantadas por Carolina, de músicas compostas por ela. Mais uma de várias escritas da autora. É bem legal, vale a pena conferir. Deixo o link aqui, caso queira ouvir!
E assim, me despeço não indicando, mas pedindo que vocês leiam esse livro, esse relato. É importante, é real e inesquecível.
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Avaliação (1 a 5): 4.5