A cinco passos de você - Rachael Lippincott
>> sexta-feira, 4 de março de 2022
LIPPINCOTT, Rachael. A cinco passos de você. São Paulo: Editora Globo Alt, 2019. 288p. Título original: Five feet apart.
"É pior do que todas as cirurgias, as infecções, ou acordar de manhã sem conseguir respirar direito. Até pior do que a dor de estar no mesmo quarto que Stella e não poder tocá-la.
Morte.
É isso que eu sou. É isso que sou para Stella." p. 150
A literatura sick-lit, um termo criado para classificar os livros que falam principalmente sobre alguma doença complexa e/ou terminal, fez sucesso no mercado editorial, principalmente depois de A culpa é das estrelas ou para o público adulto, do polêmico A guardiã da minha irmã. Ambos adaptados para o cinema, assim como o livro de hoje. Eu vejo muita gente elogiando e finalmente consegui ler A cinco passos de você da Rachael Lippincott.
Stella Grant, 16, é uma adolescente linda, guerreira, muito inteligente. Ela tem um canal no Youtube de sucesso, que inspira milhares de pessoas diariamente. Está desenvolvendo um aplicativo para ajudar as pessoas com alguma doença crônica a controlar seus tratamentos e medicamentos. Mas Stella é definida principalmente pela sua doença. Desde criança ela luta contra a fibrose cística, uma doença crônica que impede que seus pulmões funcionem como deveriam. Depois de inúmeros tratamentos, internações e cirurgias ao longo dos anos, ela precisa continuar seguindo o tratamento até que consiga finalmente seu transplante de pulmões.
Seus pais e sua irmã mais velha, Abby, sabiam que sua expectativa de vida não seria longa, ela não sabia quantos anos ainda teria de vida. E tentaram se preparar para isso. Agora, depois de uma tragédia abalar a família, ela precisa ser ainda mais forte e seguir seu tratamento com afinco. E assim ela se interna mais uma vez, para tratar uma infecção e uma gripe que não melhora.
Will Newman está prestes a completar 18 anos e espera ansiosamente pela sua liberdade. Sua vida também foi definida pela doença. Seu pai caiu fora quando ele era ainda bem pequeno, não conseguiu lidar com a doença. Sua mãe, uma mulher muito rica, faz de tudo para que o filho vença a doença. Já fez inúmeros tratamentos experimentais, já se tratou em vários lugares do mundo, países em que ele só conheceu as paredes de hospitais diferentes. Ele está cansado de não viver... enquanto tenta sobreviver. Will está pronto para desistir de tudo e viver o tempo que lhe resta aproveitando a vida, viajando pelo mundo. Ele não leva o tratamento a sério e não está nem aí pra nada. Isso o coloca sempre em guerra com os médicos e com sua mãe.
Para piorar, Will contraiu B Cepácia, uma bactéria resistente a antibióticos e que ainda não tem cura. Isso diminui ainda mais suas chances de vida, praticamente o tira da lista de transplante e o torna um perigo para os outros portadores de fibrose cística. Uma bactéria que não tem perigo nenhum para uma pessoa saudável, pode ser letal para um portador da doença.
Por isso a regra entre portadores de fibrose cística é ficar sempre a uma distância segura um do outro, os médicos pedem que eles mantenham sempre 6 passos de distância, sempre! Contrair uma bactéria pode ser letal. Enquanto eles podem abraçar, beijar e se relacionar normalmente com pessoas saudáveis, precisam manter distância um dos outros.
E isso fica cada vez mais complicado, quando Stella e Will se tornam amigos. E mais ainda quando essa amizade evolui e eles se apaixonam.
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Confesso que eu esperava bem mais desse livro! Minhas expectativas eram maiores também, já que vi inúmeros elogios sobre ele em várias resenhas, no final não achei nada que já não tenha visto em inúmeros livros do mesmo estilo que li, e achei o desenvolvimento bem raso. Gostei da leitura, a história é "bonitinha", mas não é essa Coca Cola toda não...
Os protagonistas são legais, gostei principalmente de Stella. Tão nova e uma lutadora desde sempre, uma pessoa que tenta enxergar tudo pelo lado positivo. Sua luta para vencer a doença diariamente, para fazer o melhor possível por si, principalmente, para não causar sofrimento aos pais é uma inspiração para quem luta contra uma doença séria. A forma como ela usa o melhor de si, sempre. Seja no seu canal do Youtube, ou no aplicativo que criou, ela é um exemplo. Achei linda sua amizade de anos com Poe, outro portador da doença que ela conheceu ainda criança no hospital. Sua relação com a irmã, com as duas melhores amigas e com os pais, Stella é uma pessoa admirável.
Já Will amadurece muito durante o livro. No início ele é só mais um adolescente revoltado, que quer abandonar tudo para fazer o que der na telha. Stella, claro, foi uma influência muito positiva na forma dele enxergar a vida. E no caso dele, ainda tem toda a complicação em torno da B Cepácia, que minou suas esperanças de transplante e de uma vida mais longa.
Os outros personagens são bem pouco explorados. Eu queria muito mais sobre Poe, um imigrante que perderia seu plano de saúde ao completar 18 anos, cuja mãe foi deportada por ser ilegal no pais e que, de certa forma, lutava sozinho. Ele é homossexual e tinha terminado com o namorado que amava, já que se achava um peso para o rapaz, uma pena o personagem não ter tido mais destaque.
A fibrose cística é uma doença terminal ainda sem cura, a maior esperança para os portadores é o tão esperado transplante de pulmões. Uma cirurgia complicada e que muitas vezes termina com o falecimento do paciente. Até conseguir o pulmão eles tomam shakes diários com vitaminas e inúmeros remédios, utilizam do oxigênio portátil para ajudar na respiração e usam diariamente o colete de fisioterapia, que ajuda o paciente a eliminar secreções que os pulmões não conseguem eliminar sozinhos. Eu li um pouco sobre a doença também em Talvez agora, onde a protagonista tem um pouco de "Will", leva a doença com pouca seriedade.
Duas coisas me incomodaram muito no livro. É uma história triste, mas que não me emocionou. Talvez por ser um pouco raso, achei a narrativa da autora muito crua. Eu costumo morrer de chorar nesses livros e neste, nem lágrimas surgiram em hora nenhuma. Achei muito seco, corrido. Os dois maiores dramas do livro passam num sopro. Até pelo tamanho do livro vocês podem imaginar, é muita história para 200 e poucas páginas. Uma pena, porque o enredo é bom, podia ser melhor trabalhado. Outra coisa que não me convenceu foi o romance. Nesse tipo de livro o leitor quer torcer pelo casal, suspirar por eles. Mas como gente? Eles não poderiam se tocar NUNCA, não poderiam se beijar, nada. É um romance muito fadado ao fracasso, torcer por eles é torcer para ela se infectar. Eu li pensando, fique longe desse menino minha filha, você já tem problemas demais na vida! kkkk. Não comprei o casal!
E o final foi legal, mas tãooo surreal. Eu sinceramente achei impossível isso dar certo depois de tudo.... [ALERTA DE SPOILER] A Stella caí num lago congelado, quase morre afogada. Para salvá-la, Will precisa fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca... gente, se ele não podia ficar perto dela? Não podia encostar 1 dedo? e ela não pega nada! E logo em seguida corre para o transplante de pulmão que estava esperando por ela o dia todo e tudo dá certo. Sinceramente, achei meio conto de fadas a cirurgia dar certo depois de tudo isso. Até porque no final a autora cita a história real de uma moça em quem ela inspirou Stella, uma blogueira famosa e que acabou falecendo no transplante...[ FIM DO SPOILER].
Bom, o livro foi adaptado para o cinema no filme homônimo, Five feet apart. O filme estreou em 2019 com Haley Lu Richardson (Stella) e Cole Sprouse (Will).
Enfim, para mim é uma versão pobre de livros bem melhores de sick-lit. Quem leu me conte se curtiu! É legal, mas não é imperdível...
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Avaliação (1 a 5):