O espião e o traidor - Ben Macintyre
>> segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
MACINTYRE, Ben. O espião e o traidor. Rio de Janeiro: Editora Arqueiro, 2021. 384p.Título original: The spy and the traitor.
"O panteão de espiões que mudaram o mundo é pequeno e seleto, e Oleg Gordievsky faz parte dele: ele revelou o funcionamento interno da KGB em um momento histórico crucial, expondo não apenas o que a inteligência soviética estava fazendo (e não fazendo), mas o que o Kremlin estava pensando e planejando. Assim, transformou a maneira como o Ocidente enxergava a União Soviética." p.185
A resenha de hoje é diferente, um livro de não-ficção, algo que vocês não veem muito por aqui. Recebi o livro de cortesia da editora e peguei para ler sem grandes expectativas e me surpreendeu muito! Ben Macintyre tem uma narrativa ótima, que prende o leitor, cria algum suspense e emoção durante o desenrolar dos fatos. Confiram o que achei de O espião e o traidor!
Oleg Gordievsky seguiu naturalmente os passos do pai e do irmão mais velho, e se tornou um oficial da KGV, após se destacar nas melhores instituições de ensino da URSS. Em 1966 ele assumiu seu primeiro posto de inteligência russa, em Copenhague, ao lado da esposa, Yelena Gorbievsky. Muito inteligente e sempre muito crítico, Oleg queria mais para si mesmo e para a sua pátria. Ele não entendia porque tantas músicas eram proibidas, tantos livros, toda a dificuldade da população no dia a dia para conseguir alimentos e outras coisas básicas.
"O novo muro causou uma impressão poderosa naquele Oleg de 22 anos: Só mesmo uma barreira física, reforçada por guardas armados em suas torres de vigilância, poderia manter os alemães orientais em seu paraíso socialista e impedi-los de fugir para o Ocidente." p.22
A capital da Dinamarca era linda, moderna, limpa, rica e sedutora. Mas foram dois fatos históricos importantes que convenceram Oleg a querer se tornar um espião para o ocidente: a construção do Muro de Berlim, em 1961, e a Primavera de Praga, 1968. Os dois fatos mostraram a opressão socialista e as consequências para quem buscasse algo diferente. Mas só em 1974 ele conseguiu efetivar esta aproximação, e se tornou agente duplo, espionando para o serviço de inteligência britânico, o MI6.
"A KGB - o Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti, ou Comitê de Segurança do Estado - era a agência de inteligência mais complexa e ampla já criada. Sucessora direta da rede de espionagem de Stalin, coletava informações estrangeiras e domésticas e implementava a segurança interna, assim como tinha função de polícia estatal. Opressiva, misteriosa e onipresente, a KGB alcançava e controlava todos os aspectos da vida soviética. A organização erradicou a dissidência interna, protegeu a liderança comunista, montou operações de espionagem e contrainteligência tendo como alvo os poderes inimigos e intimidou os povos da URSS a lhe prestarem uma obediência abjeta. Recrutou agentes e plantou espiões no mundo inteiro, reunindo, comprando e roubando segredos militares, políticos e científicos de todo lugar. No auge do poder, quando contava com mais de um milhão de oficiais, agentes e informantes, a KGB moldou a sociedade soviética de forma mais profunda do que qualquer outra instituição." p.14
Dez anos depois, Gordievsky era o principal agente da União Soviética em Londres. Ele cresceu na carreira, e suas promoções, garantiam acesso a informações mais sigilosas e importantes. Ele ajudou o ocidente a virar o jogo contra a KGB durante a Guerra Fria. Suas informações foram importantíssimas para frustrar inúmeros planos de espionagem, prender agentes russos infiltrados no mundo todo, dimensionar o tamanho e o poder real da liderança soviética. E até mesmo impedir o que poderia ter sido a Terceira Guerra Mundial. Suas relações próximas com Londres, permitiram que Margaret Thatcher se aproximasse de Mikhail Gorbatchov e entendesse melhor como agir diplomaticamente com a URSS.
O MI6 fez de tudo para proteger o seu espião mais importante. Segurou informações, monitorou espiões conhecidos sem desmascará-los, jogou muito "milho para as galinhas", como eles chamavam as informações que poderiam ser concedidas aos espiões, para levarem a KGB, mas que não trariam problemas. Pouquíssimas pessoas sabiam o verdadeiro nome do agente secreto, todos os contatos eram secretíssimos. Mas mesmo com todo o cuidado, com o passar dos anos a ameaça chegou. E quando o risco aumentou, tudo o que eles podiam fazer era tentar um plano de extração. Tentar tirar um agente da KGB, de dentro da URSS, algo perigosíssimo e que provavelmente daria errado... eles esperavam não precisar utilizar este plano...
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Que surpresa boa! Um livro de espionagem tão bem narrado que você até esquece que não é uma ficção, e quando lembra, fica mais receoso do que pode acontecer em seguida. Afinal, não era uma história que eu conhecia, então não sabia nada do que o futuro reservava para aquelas pessoas. Adorei Gordievsky e sua traição à KGB, sua coragem para lutar contra o comunismo e sua esperança de um futuro melhor para a Rússia.
Gordievsky é uma pessoa muito inteligente e interessante. Ele estudou várias línguas, leu inúmeros livros proibidos em seu país e se tornou um crítico ferrenho ao comunismo. Tudo sempre em segredo, ninguém sabia de sua vida dupla. Ele enganou a primeira esposa, Yelena, por muitos anos, em um casamento frio e distante. A URSS não aprovava divórcios, então quando ele se apaixonou e quis se casar novamente, foi rebaixado de cargo e ficou anos com um emprego sem graça, mexendo com informações inúteis e esperando sua chance de voltar a ser promovido para espionar. Ele continuou escondendo tudo da esposa que amava, Leila, com quem teve duas filhas. Solitário e perseverante, ele seguiu em frente, por um "bem maior", acredito que sem pensar muito nas consequências para sua família caso fosse descoberto. Ele sabia que estaria morto, mas e os outros?
Como livro biográfico, algumas partes são lentas e maçantes. O autor construía uma mini biografia, apresentando cada uma das pessoas que apareciam na história. Vários espiões, agentes, chefes de Estado e etc. E, claro, temos também o grande traidor, mas não vou falar sobre ele para não estragar a leitura de vocês. O livro contém também várias fotografias muito interessantes que mostram fatos, pessoas e acontecimentos históricos. Quem for ler o livro, aconselho a ler as legendas das fotos só no final, para evitar "spoilers de uma história real" hahaha.
Eu adorei essa história real, amei a narrativa do autor que transformou tudo em um "thriller" muito interessante! Indico para todo mundo que curte história, biografias, espionagens e thrillers, afinal, ele não deixa nada a desejar para as histórias de ficção. Super indico, leiam!
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