O apanhador no campo de centeio - J. D. Salinger

>>  quarta-feira, 19 de janeiro de 2022


SALINGER, J.D.O apanhador no campo de centeio. São Paulo: Editora Todavia, 2019. 256 p. Título original: The catcher in the rye.

A primeira vez que ouvi falar desse livro foi por meio de uma amiga, que o havia lido na adolescência e me disse que era uma história incrível e que precisava ler. Confesso que na época que ela me indicou (há uns 7 anos, rs) eu cheguei a começar a ler, mas não passei da página dois. Desde  o final do ano de 2020, contudo, o livro vinha martelando na minha cabeça e prometi que a leitura não passaria de 2021. A leitura veio, quase no apagar das luzes do ano, rs, mas veio. E passou de quase última leitura do ano para o Top 10. Como isso aconteceu? Vem que te conto!



Holden Caulfield é um adolescente como qualquer outro. Vive em contradição, odeia todos os adultos e quase todos os de sua idade. Não se conforma com a forma com que os adultos agem e vivem, fala muito palavrão e tem um vocabulário próprio. Além disso, sofre com fluxos contínuos de pensamento que, de repente são interrompidos para tomar outro rumo, terminando em um monte de pensamentos e raciocínios não concluídos. Reclama do mundo, mas não faz nada para mudá-lo.


Ele acaba de ser expulso do segundo colégio interno seguido em que foi matriculado pelos pais e, ao menos por enquanto, quer poupá-los da notícia. Ou poupar a si mesmo, pois imagina o quanto os pais surtarão ao saber da expulsão.


Para que eles não saibam, Holden decide esperar até o dia que deveria chegar em casa nas férias para somente então voltar para casa. Inicialmente, ele fica no colégio, perambulando, visitando professores, conversando com colegas que mal suporta. Mas ele acaba se irritando com essas pessoas e decide ir embora do colégio (que fica na Pensilvânia) e ir para Nova York, onde os pais vivem, "matar o tempo" até o dia de retornar para casa.


E é esse tempo que você, leitor, é convidado a passar com Holden Caulfield.


"Eu leio montes de clássicos, que nem O retorno do nativo e tal, e gosto, e leio pilhas de livros de guerra e de mistério e tal, mas esses não me derrubam tanto assim. O que me derruba mesmo é um livro que, quando você acaba de ler, você queria que o escritor fosse teu amigão de verdade, para você poder ligar pra ele toda vez que desse vontade." p. 27



Ao contrário da primeira vez que não consegui ler, me prendi à história logo no primeiro capítulo. Iniciei a leitura com expectativa baixa, já que todo mundo que conheço que já tinha lido o livro vivia me dizendo que o livro é ótimo, mas que o Holden é muito chato. Desse jeito, quando comecei a ler, já esperava não ter a menor paciência com ele.


O que aconteceu, na verdade, foi que a cada vez que precisava deixar de lado o livro para fazer outra coisa eu era surpreendida com uma saudade terrível da história, e não via a hora de retomá-la.

No início foi um pouco difícil me acostumar com o jeito de Holden falar, mas depois de um tempo ele assumiu até uma voz, com trejeito e tudo, que narrava a história na minha cabeça de uma forma que raras vezes me aconteceu durante uma leitura.


Acabei revisitando a Evelyn adolescente dos anos 2000, que tinha suas manias, suas paranoias, suas irritações, seus anseios sobre o futuro.


O mais incrível da história é que, apesar de não ter um enredo complexo, plot twist arrasador, bem como não ter um grande ápice do início ao fim, Salinger nos entrega o personagem mais real e verdadeiro que poderíamos querer em um livro de ficção! Um adolescente comum, com os mesmos trejeitos e reclamações e anseios e dúvidas que são tão características da adolescência, aquele momento da vida em que, no geral, perdemos a "inocência", descobrimos que a vida não é só brincar; que a vida é dura e cheia de responsabilidades,falsidade, sexualidade.E o que Holden quer ao sofrer essa perda? Que outras crianças não passem por isso, o que o leva a querer ser um apanhador no campo de centeio, referência a um poema de Robert Burns, "Comin thro the rye" para impedir que as crianças sejam corrompidas, percam essa inocência. 


Algumas curiosidades que achei bacana trazer para vocês é que essa foi a primeira vez que um autor se preocupou em abordar o tema da adolescência, que é uma das fases mais difíceis da vida de uma pessoa. Em razão disso ele marcou toda uma geração e continua marcando a vida de várias pessoas no mundo todo.


Mas essa "marca" nem sempre foi positiva, infelizmente, já que o livro esteve supostamente "envolvido" em alguns eventos trágicos da história, como a morte de John Lennon e Ronald Reagan. Ele teria servido de inspiração para os atiradores, o que me causa arrepio só de pensar.


Uma outra curiosidade, agora sobre o autor, é que após o lançamento e explosão de sucesso do livro, J.D. Salinger se tornou um cara bastante recluso, raramente aparecendo para a imprensa. Além disso, dizem que ele morria de ciúmes do livro, tanto que nunca foi adaptado para o cinema, bem como ficou décadas sendo publicado pelas mesmas editoras (com uma capa bem feia, a edição brasileira, diga-se de passagem), até que recentemente foi publicado por uma nova editora, com a mesma capa da edição original americana, agora, sim, muito mais bonita.


E o que posso dizer após escrever tudo isso, é que o livro superou, e muito, as minhas expectativas e acabou sendo impossível odiar Holden. Pelo contrário! Foi pela empatia que ele me causou e pela simplicidade marcante do livro que ele se tornou um dos favoritos da vida. No fim das contas o que se percebe é que Holden ainda traz muito da inocência consigo, ainda que não saiba disso.


Mas aí você me pergunta: "Como ele se tornou um favorito sendo um 4.5 estrelas?". Eu te explico. Há um ponto do livro que me incomodou levemente e não pude deixar passar a perda da meia estrelinha. Mas não se preocupem, possivelmente ninguém vai notar o que me incomodou, então, nem vou mencionar para não contaminar sua leitura (e seu julgamento, rs).  


Se você ainda não leu esse livro, ainda que já tenha vivenciado o caos que é a adolescência, eu sugiro que leia.


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Avaliação (1 a 5): 4.5




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