HARRINGTON, Karen. Claros Sinais de Loucura. Rio de
Janeiro: Editora Intrínseca, 2014. 252p. Título original: Sure signs of crazy.
“Você nunca
conheceu alguém como eu. A menos, é claro, que conheça alguém que tenha
sobrevivido a uma tentativa de afogamento pela própria mãe e que agora more com
o pai alcoólatra. Se existem outras pessoas assim, gostaria de conhecê-las de
pronto. Pronto, que é minha palavra favorita nos últimos tempos, é muito usada nos
seriados policiais quando um detetive quer alguma informação depressa. Eu
poderia aprender muita coisa com pessoas assim, especialmente se fossem mais
velhas que eu, que tenho quase doze anos. Do jeito que é hoje, tenho que
aprender a maioria das coisas por conta própria”. p. 9
Eu tenho um estilo bem
eclético no modo geral, especialmente para livros. Eu leio um pouco de tudo e
dentro das minhas leituras prediletas estão livros do estilo “coming of age”,
que podemos traduzir como “amadurecimento”, um subgênero da literatura jovem
adulto ou infanto-juvenil, conforme o caso. Tive incríveis surpresas e livros
que entraram para o rol de favoritos seguindo essa lógica, dentre eles “Quase uma Rockstar” e “Extraordinário” (clique nos títulos para ler as resenhas –
vale a pena!). Para me conquistar é só lançar uma sinopse de uma criança ou
adolescente diante de um problema, onde a história o faz aprender a lidar com a
situação e sair disso uma pessoa melhor. É algo tão edificante e que toca no
fundo do meu coração, que acho que como adulta consigo ainda mais sentir as
dores e a luta interna desta complicada fase da vida de todos. E foi assim que
cheguei a esse livrinho bem peculiar, por sua sinopse que fez meus olhos
brilhar e prometeu exatamente isso. Mas será que entregou?
Claros Sinais de Loucura conta
a história de Sarah Nelson, uma garota de 12 anos de idade que é bastante
excêntrica e interessante. Ao mesmo tempo que é uma típica pré-adolescente
tentando levar a vida escolar pensando na sua melhor amiga, em maquiagem e que
roupa vai usar, ou o fato que ainda não deu seu primeiro beijo, Sarah tem
vários fantasmas familiares. Logo no início da história descobrimos que a mãe
de Sarah tentou afogar a menina e seu irmão gêmeo quando eles tinham apenas 2
anos. Sarah sobreviveu, ao contrário de seu irmão, e aí começou uma vida que
envolvia imprensa sensacionalista, tribunais, hospitais psiquiátricos e
mudanças constantes. Agora ela mora com o pai, basicamente um alcoólatra
funcional que não consegue dar à menina o apoio que ela precisa, e de vez em
quando seus avós vão ajudar. Mas parece que ninguém consegue entender a Sarah.
Quer dizer, ninguém a não ser Atticus Finch, o personagem principal de um
clássico de “amadurecimento”, O Sol É Para Todos. Seguindo as instruções de um
professor de inglês, Sarah começa a escrever cartas para Atticus, o que se
torna a sua terapia. Temos acesso a essas cartas bem como a uma narrativa em
primeira pessoa sob a perspectiva da menina, e conseguimos sentir suas aflições
e angústias, ansiosos para responder às cartas e oferecer algum tipo de
conforto.
O livro me deixou um pouco dividida, pois realmente
gostei da construção da personagem Sarah, muito bem definida em suas características,
anseios e peculiaridades, como sua obsessão por etimologia ou seu apego a um
toco de madeira em frente a sua casa (coisas que eu completamente me vejo
fazendo nessa idade). Porém, não gostei muito do desenvolvimento da história. A
autora é talentosa, pois a primeira parte do livro é muito boa: rapidamente ela
descreve a personagem, sua situação familiar, seus passados e anseios futuros,
trazendo alguns problemas:
· Onde Sarah passará as férias?
· Como ela resolve a relação com o pai alcoólatra?
· E o trabalho de árvore genealógica da escola,
alguém pode descobrir o passado dela, algo que ela quer evitar?
· Como ser uma adolescente normal e viver a vida
com toda essa bagagem?
Em poucas páginas a autora
mostra um dinamismo e capacidade de síntese sem perder a qualidade da escrita,
e logo já estamos cientes de tudo o que engloba o mundinho do livro. Para mim,
o problema foi com a segunda parte do livro – o que a menina faz diante desses
problemas. Aqui, creio que a abordagem foi superficial, e muitos dos enredos
lançados foram abandonados. Do nada, o trabalho da escola que era uma
preocupação absurda é completamente esquecido, e a narrativa perde um pouco de
qualidade ao não ter um foco específico. Isso me decepcionou bastante, pois
histórias de “amadurecimento” precisam de um final impactante que traz esperanças
e lições de vida. Não senti que esse objetivo foi atingido, o que me deixou um
pouco frustrada.
Mesmo assim, indico a leitura
desse livro, especialmente para adolescentes nessa idade da Sarah. Todos
sabemos como a representatividade é importante, e a menina tem mecanismos
interessantes e saudáveis para resolver suas angústias e problemas. Acho que
pode ser um bom modelo para pessoas na mesma situação, buscando uma saída ou
uma forma de diálogo com os pais que seja mais saudável. Queria eu ter lido
esse livro nessa idade, talvez a minha impressão fosse completamente outra e a
nota um pouco mais alta.
E agora continuo a procurar histórias
de “amadurecimento” que aqueçam meu coração. Alguém tem alguma sugestão?
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