A menina de vidro - Jodi Picoult
>> sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
PICOULT, Jodi. A menina de vidro. São Paulo: Editora Verus, 2011. 529p. Título original: Handle with care: a novel.
"Quando se trata de lembranças, as boas e as ruins nunca se equilibram. Não sei coo acabei medindo sua vida pelos piores momentos - cirurgias, fraturas, salas de emergência - em vez dos momentos de calmaria. Talvez eu seja pessimista, talvez realista. Ou talvez seja simplesmente mãe." p. 312
Eu amei a maioria dos livros da Jodi Picoult que já li, embora tenha tido algumas decepções no meio do caminho. Esse é um livro que eu queria ler há muito tempo, mas acabei não tendo oportunidade. Confiram o que achei de A menina de vidro.
Charlotte O' Keefe era uma mulher cheia de sonhos. Uma confeiteira talentosa que sonhava em abrir sua própria confeitaria. Até que a realidade se impôs e seus sonhos ficaram para trás.
Ela foi mãe solteira muito cedo e Amelia, sua filha mais velha, já tem 12 anos. Hoje ela é casada com Sean O' Keefe e apaixonada pelo marido e sua família. Mas a vida de todos mudou depois da chegada de Willow, sua filha mais nova de 5 anos. Willow nasceu com osteogênese imperfeita de nível III, uma doença grave que moldou a vida de Willow e de todos eles.
Willow tem ossos extremamente frágeis. Ela nasceu com 11 fraturas e depois disso, esse número cresce a cada ano. Aos cinco anos de idade, eram mais de 50 fraturas. Para Willow, escorregar em um guardanapo e cair, significou quebrar as duas pernas. E foi assim durante a vida toda, fraturas dolorosas, fraturas expostas, todo o tipo de fratura. Ela já quebrou a coluna, a omoplata, ela já quebrou ossos que ninguém imaginaria que pudessem quebrar. Ela passa a maior parte da vida com talas ortopédicas que muitas vezes a impedem de andar. E quando os ossos curam, ela precisa de muita fisioterapia para conseguir andar novamente.
Para cuidar da filha, a família está à beira da falência. Com duas hipotecas, muitas dívidas e a casa toda precisando de reparos. Sean é policial e trabalha o tempo todo para conseguir pagar as contas. Charlotte parou de trabalhar e vive para cuidar da filha. Com essa rotina complicada e cuidados intensivos, Willow tem uma vida com dor constante. Porém, ela é também uma menina inteligente, precoce, que ama ler e decorar fatos aleatórios sobre qualquer coisa. Já Amelia, a criança saudável que devia ser feliz, tem mais problemas a cada dia. Ignorada pelos pais, ela começa a se cortar, comente vários pequenos furtos e desenvolve bulimia. Sem ninguém saber, ela também está se quebrando.
Depois de uma tentativa desastrosa de férias na Disney, Sean quer processar todos que causaram tanto sofrimento para a família. Os advogados informam que ele não terá sucesso, mas oferece aos dois um outro tipo de processo. Os pais podem processar a obstetra da família por nascimento indevido. Ou seja, por não diagnosticar a doença de Willow cedo o suficiente, para que a mãe pudesse optar por um aborto. O dinheiro da indenização poderia salvar a família e garantir cuidados melhores para Willow. Mas para isso Charlotte precisava fazer duas coisas: dizer ao mundo que não queria que sua filha tivesse nascido, e processar sua melhor amiga.
Piper Reece conheceu Charlotte por acaso, no ringue de patinação onde suas filhas frequentam. Elas se tornaram melhores amigas. Foi Piper quem apresentou Charlotte para Sean, foi ela que ajudou a amiga quando eles tiveram dificuldades para engravidar. Ela acompanhou tudo, sofreu junto com a amiga durante toda a gravidez e era a madrinha de Willow. Sua filha Emma e Amelia eram melhores amigas. Até que ela descobre que sua melhor amiga a está processando por nascimento indevido.
Depois disso, tudo muda...
~~~~~~~~~
Eu gosto muito da autora, seus dramas são bem escritos e quase sempre arrasam com o coração do leitor. Já li também alguns livros da autora que não gostei tanto, e este aqui foi dos mais tristes e pesados que já li dela. Eu amei o começo, sofri por boa parte do livro e acabei não gostando tanto do final.
Mas vamos começar do início... gostei muito da complexidade de todos os personagens. Todos muito humanos, muito falhos, mas também cheios de qualidades. Charlotte que faria de tudo pela filha, até mesmo, o impensável. Sofri muito pela protagonista o livro todo, por mais que entendesse o fato dela estar desesperada e querer muito melhorar a qualidade de vida da filha, sua escolha causou apenas sofrimento para todos. Seu casamento se desfez aos poucos, ela perdeu sua melhor amiga ao acusá-la de erro médico, magoou as duas filhas. Amelia que tinha que ouvir horrores sobre a mãe na escola, que perdeu a melhor amiga e ela ignorada com todos os seus problemas. E Willow, que mesmo aos cinco anos já entendia muito daquilo e entendia que sua mãe, preferia que ela não tivesse nascido. Ela só queria ser normal, ser como a irmã, poder correr, brincar, patinar. Sua vida quase sempre se resumia à cama, ao sofá e à sua cadeira de rodas. Sean me irritou algumas vezes, apesar de eu entender o lado dele. Ele era contra o processo e isso acabou afastando os dois.
E eu morri de pena de Piper! Ela não merecia isso. Ela esteve ao lado da Charlotte sempre, nos momentos bons e nos ruins. Ela ajudava a amiga em tudo, amava Willow e tinha sempre um cuidado especial com ela. Piper acreditava que o aborto não seria nunca uma opção para a amiga, que era casada. Mas sendo uma opção ou não, ao não enxergar algo no ultrassom, ela impediu que Charlotte tivesse uma escolha.
A discussão principal do livro é muito forte e complexa. Até onde vai o direito da mãe de optar por um aborto? Obviamente Charlotte não conseguia pensar em não ter Willow, ela amava a filha e faria de tudo por ela, o processo era pelo dinheiro. Mas e se ela soubesse antes? Antes de conhecer Willow, antes de amar a filha, ela teria optado pelo aborto? Ela pouparia a filha de tanta dor e sofrimento? Nem ela sabe responder. E a discussão ética sobre o tema é enorme. Até onde vai este limite? Quer dizer que os pais podem abortar qualquer deficiência? Se um bebê não for perfeito, ele não tem direito de nascer? No livro eles apresentam uma estatística de que no ano em questão, 90% das crianças com síndrome de Down eram abortadas no país. É justo interromper a vida de tantas crianças que terão sim uma deficiência, mas terão também uma vida repleta de amor, alegria e felicidade? Onde está o limite? Quem decide quais vidas merecem ser vividas? É uma discussão que me fez refletir muito durante todo o livro.
O início do livro emociona muito, já comecei a leitura chorando, com pena da Charlotte durante a gravidez e o parto. Do bebê recém nascido já com tantos ossos quebrados. E depois com muita pena de Piper, que para mim não merecia nada daquilo. O livro inteiro eu tentava compreender Charlotte e suas escolhas, mas também senti raiva dela por magoar todas as pessoas que amava. E Willow, que criança linda, amorosa, como era triste vê-la sofrer tanto. Quanto mais eu lia, mais raiva eu sentia dela.
O que me decepcionou no livro foi o final, para mim a autora fez as escolhas erradas depois de tudo o que aconteceu, ela queria uma reviravolta, como vemos muito no final, mas acabou estragando tudo. O livro tem inúmeras semelhanças com um dos meus livros favoritos dela, A guardiã da minha irmã e acabou que ficou parecido demais para o meu gosto. Nos dois temos um processo judicial que divide a família, nos dois a mãe é julgada por suas atitudes extremas e afasta todo mundo. Nos dois temos irmãos ignorados e que desenvolvem vários problemas sem que ninguém dê atenção. E no meio de tudo isso, uma criança doente que sofre. E os dois tem finais impactantes. Mas no outro livro funcionou, aqui foi um balde de água fria. Ficou parecendo que o livro todo não serviu de nada! Fiquei com muita raiva do final.
Bom, tirando o final kk, foi um livro forte e que mexeu muito comigo. Levanta discussões polêmicas e importantes. Afinal, quem somos nós para julgar a atitude de uma mãe que vê a filha sofrendo todos os dias desde que nasceu? É uma leitura triste, dramática, mas que ao mesmo tempo levanta reflexões importantes. Leiam!!
Adicione ao seu Skoob!
Compre na Amazon: A menina de vidro
Avaliação (1 a 5): 3.5
Comente, preencha o formulário, e concorra ao Top Comentarista de dezembro!