Os Dois Morrem no Final – Adam Silvera
>> sexta-feira, 5 de novembro de 2021
SILVERA, Adam. Os Dois Morrem no Final. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 416 p. Título original: They both die at the end.
“Estou um pouco preocupado sobre passar meu Dia Final com alguém que já aceitou a morte, alguém que cometeu erros. Não o conheço, claro, e ele pode acabar sendo totalmente destrutivo – afinal, ele está lá fora no meio da noite no dia em que está predestinado a morrer. Mas não importa quais decisões nós tomarmos – sozinhos ou juntos -, nosso final continua sendo o mesmo. Não importa quantas vezes olharmos para os dois lados antes de atravessar. Não importa se não formos pular de paraquedas só por medo, embora isso signifique que nunca vou voar como meus super-heróis preferidos. Não importa se vamos abaixar a cabeça ao passarmos por uma gangue em um bairro perigoso. Não importa como escolhemos viver, nós dois morremos no final.” (p. 90)
As vezes aparece um lançamento nas estantes da livraria que te atrai. A primeira coisa que me chamou atenção foi esse título peculiar: Os dois morrem no final. De cara a minha imaginação foi a mil, elaborando inúmeras teorias sobre uma história contada já revelando os acontecimentos. Acho uma ideia tanto interessante quanto audaciosa, capaz de unir duas tribos que vivem em constante guerra: os que gostam de spoilers e os que o abominam. Ao declarar assim de cara o final da história, quem já procuraria essa informação está plenamente satisfeito, enquanto quem gosta de surpresas (como eu) fica intrigado em saber os motivos para o autor tomar essa escolha. E assim cheguei ao livro, uma leitura rápida, fácil e interessante.
“Mateo, sinto muito em lhe informar que em algum momento ao longo das próximas 24 horas você terá um encontro prematuro com a morte. E, embora não haja nada que nós possamos fazer para evitar isso, você ainda tem a oportunidade de viver.” (p. 14)
De cara somos apresentados a Mateo Torrez, um jovem de 18 anos que recebeu a ligação que todos temes: ele vai morrer hoje. Calma, não é uma ameaça de um criminoso serial (definitivamente não é esse tipo de livro), mas sim é a sociedade distópica em que a história se passa. Aqui, temos a empresa “Central da Morte”, capaz de ver (não sabemos como) o dia que a pessoa vai morrer. Assim, a partir de meia noite eles fazem ligações para as pessoas (conhecidas então como Terminantes) avisando do acontecimento. Eles não fazem isso para ajudar a pessoa a se salvar: isso é impossível, pois o destino está definido e vai acontecer de um jeito ou de outro. Como o próprio livro descreve, “a Central da Morte só avisa a data da morte, mas nunca o minuto exato ou a causa” (p. 15). O motivo da empresa existir é proporcionar às pessoas uma chance de se despedir dos amados, organizar algumas pendências imediatas e até mesmo participar do próprio velório. Além disso, a cidade conta com pontos de entretenimento para Terminantes, como centrais de atividades especiais (nadar com tubarões, saltar de paraquedas, etc) e um pequeno centro de volta ao mundo. Um comércio gerado para aqueles que querem viver a vida no seu último dia.
Também conhecemos Rufus Emeterio, outro jovem que recebe a ligação logo nos primeiros minutos do dia e que está diante das suas últimas horas na terra. Quando recebe a fatídica chamada, Rufus está batendo no atual namorado de sua ex, e seus amigos legais – os Plutões – são pegos de surpresa com a tristeza de perder aquele que foi um irmão para eles. Temos então dois Terminantes, e as circunstâncias da história acabam juntando-os pelo aplicativo Último Amigo. Como o próprio autor explica, “o aplicativo Último Amigo foi criado para Terminantes solitários e para qualquer bom samaritano que queira acompanhar um Terminante em suas horas finais. Não confunda com o Necro, que é voltado para pessoas em busca de uma rapidinha com um Terminante – o aplicativo supremo para quem quer pegar sem se apegar” (p. 52).
Ao narrar as aventuras, conversas e conexões entre Rufus e Mateo em seu último dia de vida, o livro nos traz reflexões sobre nossas próprias vidas. É impossível ler sem pensar no que você faria se fosse alvo dessa situação. Eu certamente deixaria tudo organizado para ajudar a minha família nesse momento difícil, faria uma última refeição favorita (comida italiana sem pensar em calorias, aí vou eu) e talvez assistiria um filme favorito com aqueles que amo. Mas vai além disso: é como lidar quando um ente querido recebe a ligação, pensar em como você reagiria, o que faria, e descobrir novas camadas dessa sociedade onde a morte chega avisando bem alto. É intrigante, interessante. Eu gosto de livros que nos trazem essas camadas de criatividade que nos fazem pensar sobre como agir na situação. Foi assim quando li um favorito, As Quinze Vidas de Harry August e foi assim nesse livro.
Para mim, esse é o grande ponto positivo da história: ela é bem bolada, bem casada e com diversos elementos que conversam (há um diagrama nas últimas páginas que nos mostra como tudo está conectado). Adorei viajar nesse mundo novo, um mundo do luto antecipado, um mundo até caridoso e complacente. Por isso para mim o livro é excelente até aproximadamente a metade. Após isso, comecei a ter alguns problemas com a leitura. Passado a apresentação inicial da situação e do contexto, a história foca mesmo na vida dos personagens principais, formando uma conexão gigantesca dado à situação única: os dois morrem no final! Logo, não há o que mentir, o que esconder... a conexão é instantânea, honesta e pura. É um livro bonito a partir dessa parte, mas não é o motivo pelo qual ele me atraiu. Consigo ver diversas pessoas completamente apaixonadas pela história, mas eu simplesmente não estou mais nessa fase literária, a fase da paixonite, da leveza. A Alice de até seus 25 anos amaria de paixão esse livro, mas eu hoje acho apenas um livro bonito. Acho que minha conclusão é que mesmo as histórias mais puras e doces têm seu público alvo, e eu estava mais interessada em descobrir as razões do spoiler do título. Por isso eu não me interessei muito a partir da terceira divisão do livro.
Porém, é um livro que eu fortemente indico para quem deseja ler algo bonito, apaixonante e diferente. Acho que é um livro excelente para jovens adultos e talvez até adolescentes, especialmente pela inclusão: temos histórias positivas, inclusivas, e foi muito bom ver tantos personagens latinos. Esse é o lado bom da diversidade – sentimos conexão com o que nos representa. E esse livro conversará com diversas pessoas!
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