Holocausto brasileiro - Daniela Arbex

>>  quarta-feira, 3 de novembro de 2021

ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 280 p.



Já havia ouvido falar deste livro há muito tempo e assistido a uma resenha que me deixou delirando de vontade de ler. O que me impediu mesmo foi o medo que eu tinha do que Daniela Arbex tinha para contar nas 280 páginas do livro e, também, o meu pezinho atrás com livros de não ficção. Agora que ambos os medos foram superados, finalmente li Holocausto brasileiro. Vamos saber o que achei?



Em Barbacena/MG, foi fundado um hospital psiquiátrico cuja finalidade era muito mais política do que de saúde. As pessoas que lá eram internadas nem sempre tinham problemas mentais a serem tratados. Eram pessoas tímidas, pessoas que estavam atrapalhando a vida de alguém influente ou rico. Eram pessoas encontradas vagando sem documento. Eram prostitutas, meninas grávidas de seus patrões e enviadas para lá para esconderem o vexame. Essas pessoas eram simplesmente jogadas no hospital e esquecidas. Passaram 20, 30, 50 anos internadas simplesmente porque de repente alguém se atentou para a existência delas. Algum parente finalmente as encontrou, ou simplesmente morreram de fome, de frio, de doenças, de esquecimento.


O Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, também conhecido como Colônia, fundado em 1903, foi considerado por várias pessoas, até mesmo psiquiatras importantes, como um campo de concentração nazista. As pessoas lá internadas, perdiam suas identidades, tinham a cabeça raspada, eram vestidas com um uniforme azul e ali ficavam jogados, esquecidos. Passavam por tratamento de eletrochoque, aos quais nem todos sobreviviam, comiam ratos, bebiam água do esgoto, dormiam sobre feno, ou uns sobre os outros para aquecerem durante a noite gelada de Barbacena.


Daniela Arbex entrevistou vários dos antigos internos que tiveram suas vidas prejudicadas de forma irreversível. Adultos inutilizados pelos maus-tratos, pelo sofrimento. Aqueles que sequer tinham algum problema mental acabaram psicologicamente afetados e os que tinham acabaram tendo seu problema agravado pelo tratamento que recebiam.


É lamentável e muito chocante ver como um lugar pode tratar pessoas assim durante décadas e ninguém fazer nada! Várias pessoas, inclusive funcionários, denunciaram as condições em que os pacientes viviam no hospital, mas as autoridades, justamente por interesse político, faziam vista grossa.


Quando a autora decidiu escrever o livro, ela ficou entre a cruz e a espada, já que o filho dela tinha cinco meses de vida e ela precisava tomar a importante decisão: desmamar o filho e correr acolher a oportunidade de contar essa história, ou seguir como estava. Com apoio do esposo e o pensamento de que, se fosse uma história boa, o filho teria orgulho dela, ela decidiu por nos contar essa história. E que bom que o fez! É um relato cruel, doloroso, que revira as entranhas de quem o lê do avesso e causa uma revolta tão grande, mas tão grande que o leitor (pelo menos eu) acaba sentindo uma vontade imensa de gritar de ódio, de raiva, daqueles que, considerados "normais" trataram seres humanos não como loucos, mas pior que animais.


E se das outras vezes reclamei dos livros de não ficção desprovidos de imagens, em Holocausto brasileiro o que vi foi um rico e ao mesmo tempo terrível acervo de fotos retratando o descaso, os maus-tratos, o abandono, capaz de deixar o leitor ainda mais impressionado com os relatos. Trago alguns exemplos de fotos que vocês encontrarão ao longo da leitura.





Fiquei com muita vontade de conhecer o Museu da loucura, fundado em Barbacena e que traz imagens, instrumentos, relatos desse período obscuro da psiquiatria no Brasil.



Agradeço à Daniela por ter escolhido escrever esse livro, com certeza hoje em dia, depois de tantas edições do livro, de prêmios e do alcance desse livro em universidades e escolas, seu filho, com toda certeza, deve ser só orgulho!


E como a própria Daniela diz ao final do livro: "Escrever Holocausto brasileiro foi a forma que encontrei de lembrar que não podemos jamais nos esquecer das vítimas da omissão coletiva. Afinal, a literatura é um dos caminhos para o reencontro com a nossa humanidade". p. 277.


Assim, só me resta a dizer que essa á uma leitura mais do que necessária para todos!


Adicione ao Skoob!
Compre na Amazon: Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil  


Avaliação (1 a 5)




 

            Comente, preencha o formulário, e concorra ao Top comentarista de outubro!

Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO