O Fantasma da Ópera – Gaston Leroux

>>  sexta-feira, 29 de outubro de 2021


LEROUX, Gaston. O Fantasma da Ópera. Cotia: Editora Pandorga, 2021. 393p. Título Original: Le Fantôme de L’Opéra. 

O Fantasma da Ópera foi o clássico escolhido em votação no Instagram para a 11ª Leitura Coletiva do Blog Viagem Literária. Parece que foi ontem que começamos esse projeto e cá estou eu, resenhando o 11º livro a passar por nossas mãos! Como vocês devem saber, o projeto da Leitura Coletiva possibilita a leitura de clássicos da literatura mundial com metas curtas e conversando descontraidamente com outros participantes, compartilhando impressões, ideias e expectativas. Dessa vez, voltamos à literatura francesa com a obra de Leroux, mais conhecida por sua famosa adaptação teatral que deixou seu produtor Andrew Lloyd Webber para sempre dormindo em uma cama de dinheiro. Publicado como serial entre 1909 e 1910, o livro se baseou em boatos e eventos históricos da Ópera de Paris e nos traz elementos de triângulo amoroso e vingança que muito me fizeram lembrar O morro dos ventos uivantes e O Corcunda de Notre Dame

O livro se passa em 1880 na Ópera de Paris, lugar que aparentemente era assombrado pelo Fantasma da Ópera. Algumas coisas estranhas e macabras aconteciam no lugar, como o acontecimento onde o ajudante de palco Joseph Buquet é encontrado enforcado, mas sem o laço no pescoço. Logo somos apresentadas à protagonista da história, Christine Daaé, uma soprano sueca não muito conhecida, mas que possui um talento nato para a música. Em uma apresentação de gala, Christine é chamada para cantar no lugar de Carlotta, a soprano principal. A apresentação da moça é um sucesso e chama atenção do visconde Raoul de Chagny, que a reconhece como sua amiga de infância e não demora muito a perceber seu amor. Ele vai até os bastidores para a cumprimentar e acaba escutando Christine sendo cumprimentada por um homem dentro de seu camarim. Ele entra e investiga a sala, mas não acha ninguém lá. Posteriormente ele confronta a moça sobre a situação, e ela acaba confessando que foi treinada pelo Anjo da Música, de quem seu pai costumava falar. 

Acho que essa sinopse é suficiente para dar um contexto geral sobre a história. Temos um fantasma, Christine e Raoul e um professor misterioso e ortodoxo. A história de desenvolve com muito drama em torno deste triângulo e seu apelo visual realmente justifica as adaptações que fizeram desse livro um clássico reconhecido da literatura mundial. 

Desde 2018 eu tenho procurado ler mais clássicos da literatura e adorei o projeto da Leitura Coletiva, pois me dá a oportunidade de conversar sobre os livros. Na maioria das ocasiões, realmente podemos observar o por quê de uma obra ter resistido ao tribunal do tempo para ser reeditava para a posterioridade e continuar uma história querida e importante. Infelizmente esse não foi o caso desse livro: a história é fútil e rasa, o que me faz crer que o status de clássico do livro tenha sido adquirido pela sua adaptação teatral. Eu sou fã de carteirinha de musicais – tanto teatros quanto filmes – e já assisti “O Fantasma da Ópera” 5 vezes, tanto no Brasil quanto no exterior. Até vi o filme, que, embora não seja espetacular, certamente não é de todo ruim. É uma experiência linda e inesquecível ver a famosa cena do lustre despencando (que está presente no livro mas sem a grandiosidade que o auxílio visual proporciona) e as músicas são maravilhosas. Já a história... na verdade a história jamais me agradou: Christine sempre foi apresentada como fraca e irritante, o Raoul um belo de um bobo e é impossível gostar do Fantasma, pois ele realmente não é uma boa “pessoa”. Na verdade, eu jamais tinha percebido o quanto a história da peça NÃO me cativou até eu ler o livro! E senhoras e senhores, vocês estão diante de uma resenha negativa da Alice. Sou famosa entre minhas amigas por meu rigor excessivo nas avaliações e por ser implacável nas críticas de livros que não gosto. Caso alguém queira observar o estrago que posso fazer, sugiro espiar a resenha de Perfume da folha de Chá. O fato é que eu realmente não gostei da leitura de O Fantasma da Ópera, mas ele definitivamente não está entre os piores que já li. Trago agora aqui os motivos para a minha avaliação e o que considero ser os pontos positivos da história: 

Pode conter SPOILERS, caso você desconheça completamente o enredo 

OS PERSONAGENS. Há gente desnecessária demais no livro e gente estúpida, diga-se de passagem. Nisso o livro é pior que o teatro, que conseguiu “enxugar” um pouco a quantidade de pessoas e enredos. O autor acha que surpreende com a revelação da identidade do Anjo da Música, o que foi muito arrogante de sua parte. Na 30ª página já conseguimos entender tudo, e o grande mistério e revelação do livro é fraco e um pouco patético. Mesmo se eu não tivesse visto nenhuma outra versão, tenho certeza que teria descoberto: a história é sobre pessoas tentando descobrir a identidade de um ser misterioso e o título do livro é O Fantasma da ópera... não é algo ao qual devemos chamar Hercule Poirot para decifrar, certo? Além disso, eu não consegui me identificar com ninguém ali: a Christine entra para o rol de ranços literários por ser realmente desligada da vida, e o Raoul é um cara muito egoísta. Não creio que isso tenha sido proposital, eu realmente acho que a escrita do autor não está no nível de outros clássicos que lemos por aqui. 

O ANTI-HERÓI. Olha, eu adoro um anti-herói, de verdade! Adoro torcer para quem não deveria (como vocês podem ver em O Talentoso Ripley). O problema é quando não conseguimos encontrar características agradáveis pelas quais podemos formular a redenção do personagem. Não consegui encontrar motivos para torcer pelo Fantasma, ele só me deixava desconfortável. Eu posso ser opinião minoritária nesse sentido, mas para mim a história se tornou um conto sobre três pessoas que eu pessoalmente bloquearia da minha vida e colocaria na irrelevância. E isso é muito problemático, especialmente se tratando dos personagens principais. Um certo nível de carisma é necessário, um quê de paixão literária. Emily Brontë conseguiu isso no seu triângulo amoroso não saudável de O Morro dos Ventos Uivantes, então é possível. Só não é o caso dessa história. 

O RITMO. Falando sobre o estilo de escrita do autor, realmente meu estilo não encaixou com o dele. Os dramas e emoções que ele constrói são arruinados por mudanças abruptas de cena (talvez um resquício de sua publicação serial), e toda a emoção e clímax construído é perdido. Especialmente no final onde, convenhamos, não é hora de relembrar detalhes do início da história. Alexandre Dumas em O Conde de Monte Cristo faz esse jogo muito bem, relembrando o passado sem perder o ritmo da conclusão. Esse problema é resolvido na adaptação teatral, pois ali a história é montada de um jeito mais acelerado e as únicas interrupções que temos são músicas bem bonitas e agradáveis. 

Dito isso, o livro tem um ponto positivo bastante forte, que o faz garantir a avaliação que dou hoje: 

O APELO VISUAL. Eu só consegui terminar a história pois me encontrava divagando sobre Paris, a Ópera, os canais, os cenários dos espetáculos, o bendito do lustre, os labirintos, os truques de espelho... Nisso Leroux acertou em cheio: ele criou uma história chata, mas uma história linda e atrativa. Além disso, ele apostou e ganhou ao trazer fofocas e boatos da vida real para seu livro, o que certamente atraiu muitos leitores na época. O visual que ele construiu é tão interessante que o livro conseguiu a sua maior proeza: ser adaptado para o talvez maior musical da história e, assim, para sempre ser lembrado nas estantes e ganhar edições MARAVILHOSAS como essa da Pandorga. Ouso dizer que se não fosse por isso, jamais saberíamos de sua existência. 

E vocês, conhecem a história? Já leram o livro? O que acharam? Incrivelmente as minhas resenhas negativas chamam mais atenção e rendem mais engajamento em compra de livros do que as minhas positivas. Será esse o caso? 

Até a próxima leitura coletiva com A MULHER DE BRANCO! Contamos com vocês! 

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Avaliação (1 a 5): 1.5 





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