Ripley Subterrâneo – Patricia Highsmith

>>  sexta-feira, 13 de agosto de 2021


HIGHSMITH, Patricia. Ripley Subterrâneo. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 345p. (Ripley, v.2). Título original: Ripley Under Ground. 

Recentemente eu tive a oportunidade de ler e resenhar o clássico da literatura policial O Talentoso Ripley (que vocês podem conferir AQUI). A autora publicou esse livro em 1955, nos apresentando àquele que viria a ser seu personagem mais famoso: Tom Ripley. Nele, conhecemos mais sobre o vigarista americano que vive de aplicar pequenos golpes em ricos distraídos e quando chega à Europa descobre um mundo novo, um novo estilo de vida e desejos até então adormecidos, sendo capaz de tudo para satisfazê-los. Agora, o personagem está de volta em Ripley Subterrâneo, que ganhou uma edição espetacular em capa dura nas mãos da Editora Intrínseca. 

Não sei se Patricia Highsmith concebeu Tom Ripley pensando em tornar sua aventura uma série de livros ou se a ideia surgiu mais tarde. O fato é que temos uma distância considerável entre o lançamento de O Talentoso Ripley e aquele que viria ser a segunda obra da agora série, Ripley Subterrâneo. Ela, lançada em 1970, se passa apenas 6 anos após os acontecimentos do primeiro livro, apesar dos 15 anos que separam seus lançamentos. 

Eu normalmente não resenho série de livros, então estava um pouco apreensiva sobre como apresentar a história desse livro sem estragar o primeiro para aqueles que repudiam qualquer tipo de spoiler. Na verdade, a própria existência de um segundo livro chega a ser um spoiler do primeiro. Mas bem, algumas coisas realmente são inevitáveis e elas estão fora do meu controle. O que posso fazer aqui é deixar um alerta de SPOILER SOBRE O PRIMEIRO LIVRO para as pessoas que detestam saber até mesmo detalhes pequenos da história. Deixo claro que preservarei a integridade dos acontecimentos principais tanto da primeira obra quanto desta que resenho. Mas se você quer ler O Talentoso Ripley sem qualquer interferência, sugiro que pare por aqui e retome essa resenha após ler esse livro! 

Em Ripley Subterrâneo somos logo de cara apresentados a um Ripley curtindo a vida boa de um americano abastado aproveitando o que a Europa tem de melhor a oferecer. Os 2 primeiros capítulos são muito acelerados e já entram na história a mil, então temos que respirar fundo e nos atualizar: Ripley está morando num belo casarão na França chamado Belle Ombre. Engraçado como as casas literárias sempre tem um nome, como se tivessem personalidade própria, não é mesmo? Enfim, aos 30 e poucos anos Ripley adora sua propriedade e a mantém com alguns de seus novos pequenos prazeres, como jardinagem e colecionar obras de arte, hábito que certamente aprendeu com Dickie Greenleaf. Agora ele também é um homem casado, com a herdeira francesa Héloïse Plisson, com quem ele até demonstra alguns sentimentos afetivos, se é que ele é capaz de senti-los. Ripley se sustenta com o dinheiro de golpes passados bem como golpes novos, como interceptação de joias de seus convidados ricos e, especialmente, um negócio lucrativo de falsificação de obras de arte que criou com alguns britânicos que conheceu na Grécia. E é essa sua participação nas falsificações das obras que nos dá o enredo desse livro. 

Um dia, Ripley recebe uma ligação solicitando sua presença em Londres para resolver um potencial problema na empresa Derwatt Ltda., da qual é sócio. A empresa surgiu alguns anos antes, quando Ripley conheceu na Grécia alguns amigos do famoso pintor inglês Philip Derwat, que cometeu suicídio. Os amigos – o fotógrafo Jeff Constant, o jornalista Ed Banbury e o artista Bernard Tufts – possuíam algumas obras do pintor e conseguiram vende-las por um bom preço, até que todas se esgotaram. Então, por sugestão de Ripley, divulgaram que Derwatt estava vivo e vivendo em reclusão no México e que continuava a pintar, trabalho agora do excelente falsificador Bernard. Com o sucesso da empreitada, a empresa formalizou o esquema com uma galeria e licenciou o uso de quadros em artigos comerciais, dando um bom dinheiro para todos. Derwatt inclusive ganhou muito mais fama e notoriedade do que quando em vida, o que acabou por deixar Bernard com a consciência pesada e repensando suas escolhas como falsificador de arte. 

Tudo ia bem até que um colecionador milionário estadunidense, Thomas Murchison, entra em contato com a galeria alegando que suspeita que um quadro de Derwatt seja uma falsificação. Segundo ele, há inconsistências com técnicas utilizadas entre essa obra e outras anteriores, suspeita suficiente para o fazer visitar Londres encontrar a galeria e conversar com especialistas. Ripley então resolve utilizar mais uma vez seus incríveis dotes de disfarce e imitação para dar vida à Derwatt, tentando evitar com que Murchison estrague seu lucrativo negócio. 

Eu gostei bastante de O Talentoso Ripley, e minha relação com Tom Ripley se estabeleceu como um saudável amor-ódio literário. Eu repudiava tudo que ele fazia, mas torcia para que ele conseguisse escapar. Ripley Subterrâneo é um pouco diferente: com 15 anos de lançamento entre os livros, a autora conseguiu dar mais maturidade e definição ao personagem. Ele não é mais um jovem assustado dando asas à sua psicopatia. Agora ele é um adulto bon vivant com uma quantidade confortável de dinheiro que se delicia em fazer coisas erradas. Neste livro ele alcançou seu potencial e tem recursos para deferir seus golpes, ao contrário do menino um pouco temeroso do primeiro livro. Assim, a experiência é outra: não estamos mais diante de um personagem em desenvolvimento, procurando se estabelecer. Ripley agora tem suas características e objetivos bem definidos, e a história passa a acompanhar suas artimanhas, seus golpes e como funciona a sua mente nessas situações. 

Nada é tão surpreendente quanto o fato de Ripley agora ser casado! Muito das discussões em torno do primeiro livro se relacionavam à sexualidade de Ripley ou até mesmo a ausência dela. Não sei o que acho da adição de Heloise à história, pois ela é um empecilho a esse interessante aspecto do personagem. Talvez ele pode estar com ela pelo dinheiro, mas ao longo da história percebemos que Ripley não desgosta da esposa, e preza pelo seu estilo de vida e discrição. Seria isso amor? Eu ainda sou do time que acredita que Ripley não é capaz de amar, mas estou disposta a conversar sobre o assunto e mudar de opinião dependendo dos argumentos. 

Em geral, eu gostei de Ripley Subterrâneo. O início inclusive é melhor que O Talentoso Ripley, mais acelerado e rapidamente desenhando a história. Eu acho que o livro se perde um pouco do meio para o final, pois muitas das coisas que acontecem passam a ser muito mais por incompetência da polícia do que habilidades de Ripley, e essas definitivamente são as melhores partes do livro. Mas em geral foi muito bom ver uma continuação que não deixa muito a desejar, é bem escrito, de fácil leitura e não fica muito atrás do original! Agora estou aqui aguardando ansiosamente o lançamento dos demais livros da série! 

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Série Ripley: 
  1. O talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley), 1955 
  2. Ripley subterrâneo (Ripley Under Ground), 1970 
  3. O jogo de Ripley (Ripley’s Game), 1974 (os demais ainda não lançados nessa edição) 
  4. O garoto que seguiu Ripley (The Boy Who Followed Ripley), 1980 
  5. Ripley debaixo d'água (Ripley Under Water), 1991 
Avaliação (1 a 5):



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