Caçadas de vida e de morte - João Gilberto Rodrigues da Cunha
>> quarta-feira, 16 de junho de 2021
CUNHA. João Gilberto Rodrigues da. Caçadas de vida e de morte. São Paulo: Editora Arqueiro, 2021. 396 p.
Sempre fui muito fã de histórias que se passam no sertão, qualquer que seja ele. Tanto é que meu livro favorito da vida se passa no sertão entre Minas e Bahia. Logo, ao descobrir que Caçadas de vida e de morte também se passava no sertão, fiquei curiosa e ansiosa para conhecer essa história. Vamos saber o que achei? Vem que te conto!
Tonho Pólvora é um sertanejo que tem o sonho de montar um negócio de sal e pólvora. Ele acaba de adquirir a fazenda Alvorada, no sertão do Desemboque, em Minas Gerais, para começar seu negócio. Ele é um cara bom, tranquilo, e todos aqueles que o cercam o admiram e o tratam como se fosse da família.
José Antônio é um cara extremamente ambicioso que não mede esforços para alcançar o que quer na vida: Poder e Fortuna. Ele é egoísta, só pensa em si e nesses dois objetivos que pretende alcançar. Ele trabalha em uma grande empresa em São Paulo e, desde seu início ali, ele faz um serviço bem sujo e obscuro com o intuito de roubar a empresa. Ao conseguir o dinheiro que queria, ele foge e vai parar no sertão do Desemboque. Ele abre um comércio na cidade e, aos poucos, vai conquistando mais fama, mais espaço e mais poder naquele local.
Por estarem na mesma cidade e serem duas grandes potências comerciais do local, os dois acabam não só se conhecendo, como se aproximando. Contudo, a ambição de José Antônio acabará por encontrar na bondade e boa influência de Tonho Pólvora um grande obstáculo para alcançar seus objetivos, e ele fará de tudo para tirá-lo de seu caminho.
"O homem julga o que não conhece - Só Deus julga o que conhece." p. 13
O livro é narrado em terceira pessoa e vamos sendo apresentados, ao longo da leitura, a alguns personagens que vão formando uma verdadeira teia, uma trama para a história. Vamos acompanhando esses personagens, além de Tonho e José, e conhecendo suas histórias, como se tornaram quem são e, ainda, como eles, aos poucos, se encaixam no contexto da história.
Assim, vamos encontrar, ao longo dessa jornada pelo sertão do Desemboque: Manuel Crispim, um ex-policial que se torna detetive particular; Zé Brilino e Zé Anjo, os leais funcionários de Tonho Pólvora; Coronel Macedo, o homem mais influente na política no sertão do Desemboque, e sua esposa, Donana, e, ainda, suas filhas, Mariita e Ana; Joaquim Teodoro, capanga de José Antônio; Querineu, o tarado, filho do farmacêutico mais amável da cidade, senhor Quirino; e Lina, a empregada de Ana.
Todos esses personagens exercem, à medida que aparecem, papel fundamental na história, para o bem ou para o mal. O que vemos claramente ao longo do livro são espécies de caçadas, como o título já indica, seja pelo poder, seja pela fortuna, seja pelo amor, seja pela morte.
O livro tem como pano de fundo o Brasil, em finais de império, já em caminhos para a república, trazendo alguns temas a respeito, como a libertação dos escravos, a discussão da política entre os que são a favor de manter o imperialismo e os que buscam a república. O coronelismo.
Além, claro, de tratar outros temas que quem lê livros que se passam no sertão estão acostumados a encontrar, como a disputa por liderança e poder, a falta efetiva de polícia, que existe, mas é pouco eficiente, e as rixas que acabam se resolvendo por meio da justiça pelas próprias mãos; o estupro e o tratamento objetificado da mulher, tanto por se passar no sertão, quanto pela época em que a história se passa.
O mais interessante é pensar que, apesar de ser uma história que se passa no século XIX, muito do que se vê acontecendo ao longo do livro poderia acontecer e acontece ainda hoje em nosso país.
Meus personagens favoritos da história foram Tonho Pólvora, Zé Brilino, Zé Anjo e Ana.
Alguns personagens passaram por situações bem difíceis e cruéis na história, e por eles eu senti uma grande empatia e chorei litros, pelo menos duas vezes durante a leitura.
Gostei muito da história, do contexto histórico, da ambientação.
O final não foi exatamente da forma como eu esperava. Contudo, não é decepcionante, de forma alguma. Apenas caberá ao leitor imaginar o que acontecerá à cidade e a alguns personagens após o desfecho.
Indico para todo mundo que gosta de literatura nacional e que gosta, assim como eu, de uma boa história que se passa no sertão.
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Avaliação (1 a 5): 4.5