Admirável mundo novo - Aldous Huxley
>> quarta-feira, 23 de junho de 2021
Admirável mundo novo é um livro que me causava medo desde a adolescência. Eu já tentei lê-lo uma vez e não consegui sair da segunda página; isso depois de passar horas lendo só a primeira, rs.
Há uns dois meses, comprei essa edição da Biblioteca Azul na Amazon por um preço bem camarada e desde então a vontade de dar uma nova chance ao livro surgiu. Mas ela só se tornou insuportável, fazendo com que o livro furasse minha fila imensa de leitura, após assistir à série de mesmo nome disponível no Globoplay. Gostei tanto da série que corri para ler o livro, assim que terminei. E agora conto para vocês o que achei de ambos!
O ano é 632 depois de Ford. Sim, o Henry Ford, da linha de produção de automóveis. O mundo agora é superorganizado, as pessoas são geradas assim como são gerados os carros, por meio de produção em massa do Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central. E são geradas de formas distintas, a fim de que componham castas distintas que vão desde a linhagem mais refinada e inteligente dos Alfa+, até a mais burra, porém bem útil, casta dos Gama.
Tudo está em perfeito alinhamento. As pessoas são, desde bem pequenas, remetidas a condicionamentos para que se contentem em fazer aquilo para que foram destinadas e, consequentemente, não reclamem dessa condição, bem como são condicionadas a rejeitar determinadas situações, sentimentos, objetos, lugares, a fim de se manter o controle e a tranquilidade da sociedade.
Para lidar com as situações que podem sair do controle, há o soma, uma droga destinada a manter as pessoas em pleno controle de seus sentimentos e pensamentos.
Nesse novo mundo, ninguém vive em monogamia. Todo mundo pertence a todo mundo, e o sexo não é só permitido, como incentivado.
Bernard Marx é um dos funcionários de alto escalão do Centro de Incubação e é um Alfa+, embora as pessoas acreditem que ele tenha sido uma experiência que deu errado, já que ele sequer tem o porte físico de um Alfa.
Ele está interessado em uma das responsáveis pela incubação dos óvulos, Lenina Crowne, e quer muito que ela aceite ir com ele a um passeio no meio do mundo selvagem, que fica no Novo México. Um lugar que serve mais como parque de diversões para lembrar como era o mundo antigamente.
Lenina aceita o convite e eles vão ao passeio. Contudo, não contavam com o que encontrariam ao chegarem ali. Eles conhecem Linda e John, dois selvagens que acabariam por virar a vida de ambos e de todos de pernas para o ar.
"- Mas se os senhores não ignoram Deus, por que não falam nele? - perguntou o Selvagem, indignado - Por que não permitem a leitura desses livros sobre Deus?
- Pela mesma razão por que não apresentamos Otelo: eles são antigos. Tratam de Deus tal qual era há centenas de anos, não de Deus como é agora.
- Mas Deus não muda.
- Acontece que os homens mudam.
- Que diferença faz?
- Um mundo de diferença. (...)" p. 276
Eu leio, e leio, e leio ficção científica, e ainda assim me pego sendo surpreendida pela forma como autores escreveram livros tão atuais tantas décadas atrás.
Admirável mundo novo foi originalmente escrito em 1932, mas poderia ter sido escrito e lançado pela primeira vez ano passado, ou até mesmo em 2021, uma época em que não há mais sobretudo a busca pelo aprofundamento de relações interpessoais.
É impressionante a forma como o autor aborda a alienação. As pessoas condicionadas a amarem o destino social da qual elas não podem escapar. Alienadas no sentido de não compreenderem e não aceitarem a religião, as diferenças, o amor. Eles querem apenas cumprir a função que o Estado definiu para sua vida, sendo submetidos a diversas terapias para simplesmente odiar o que o Estado quer que elas odeiem e fazer aquilo que o Estado quer que façam.
As pessoas são pessoas e ao mesmo tempo robôs, na medida em que o controle que lhes é imposto se dá em nível genético, biomolecular.
O Selvagem John, por sua vez, nada mais é do que uma representação do ser humano na sua mais pura essência. Um ser abastecido de sentimentos bons e ruins, de imaginação, de fé, amor, dor, contradições, construído de uma forma que passamos a nos sensibilizar por sua causa.
Em relação à adaptação para a TV, acho que a essência da história contada no livro, que é o que basicamente importa, foi colocada na série. Contudo, senti muita falta de maiores explicações sobre por que as coisas funcionavam daquele jeito, como foram criados os lugares, porque cada pessoa era de um jeito. Como assisti à série primeiro, sabia que encontraria respostas no livro, e não me enganei.
De uma forma geral, tanto a série quanto o livro são muito bons como obras distintas, e acabam por se complementar de alguma forma, mas não achei a série exatamente fiel ao livro. Para quem pretende assistir, vale avisar que a série contém muitas cenas de sexo, talvez pelo que foi mencionado a respeito da liberdade sexual no livro, mas não narrado ou descrito (muito provavelmente devido à época em que o livro foi escrito). Isso talvez tenha sido compensado na série. Deixo aqui o trailer para quem não sabia da existência da série e ficou interessado em assistir.
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Avaliação (1 a 5):