A revolução dos bichos - George Orwell

>>  quarta-feira, 31 de março de 2021


ORWELL, George. A revolução dos bichos. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 243 p. Título original: Animal farm.

Meu primeiro contato com A Revolução dos Bichos foi há alguns anos, em um livro velhinho, capenga, adquirido em um sebo. Desde então ela se tornou uma daquelas histórias que não sai da cabeça, sabe?! Isso foi há aproximadamente cinco anos. Agora, tive a oportunidade de ler novamente, porém na edição recém-saída do forno da editora Intrínseca. Como será que foi a experiência de me reencontrar com esta história? Vem que eu conto para você.


Os animais que vivem na Granja do Solar acordam todos os dias cedo, fazem suas tarefas e estão sempre prontos para fazer tudo mais que precisa ser feito, o que não quer dizer que estejam felizes e satisfeitos com a vida que levam.

Já estão cansados de receber apenas alimentação suficiente para mantê-los saudáveis (afinal de contas, além do trabalho, eles servem também como alimento na mesa dos humanos) e acreditam que o melhor seria que houvesse um tempo sem os humanos. Com o solo fértil, sobraria mais espaço e mais alimentos para os animais.

Para alcançar esse grande feito, seria necessário promover uma verdadeira rebelião e decretar que tudo que vivesse sobre duas pernas seria inimigo dos animais. É isso então que acontece: estabelece-se um regime de “Animalismo”, em que o lema é “quatro pernas bom, duas pernas ruim”.

E, assim, os animais da fazenda vivem felizes por um bom tempo, produzindo o próprio alimento e organizando o trabalho de forma melhor. A Granja do Solar passa a se chamar O Solar dos Bichos. Contudo, toda comunidade precisa de um líder, e nesse caso específico as ordens e organizações ficavam por conta dos porcos.

Com o passar do tempo, os animais da Granja do Solar começam a se dar conta de que, assim como toda comunidade tem um líder, há também opositores e rebeldes.

E o pior, acabaram por perceber que, ao contrário do que jamais imaginaram, seu “mundinho”  só de animais acabou por se tornar semelhante a um lugar só de humanos.

~~~~~~~~~~~~

Primeiro, eu preciso espalhar para o mundo inteiro o meu encantamento por esta edição da editora Intrínseca. É de encher os olhos! A jacket (capa removível que envolve o livro) é linda, a capa, a contracapa, as ilustrações, a diagramação, a trilateral vermelha, a fitinha preta... São detalhes que juntos formaram uma grande edição. Parabéns, Intrínseca!

Antes de prosseguir, mais uma vez eu reforço que Sansão sempre será meu personagem favorito, enquanto Napoleão sempre me causará arrepio.

Agora sim, seguindo, é impressionante como reler um livro tanto tempo depois me fez ficar ainda mais fã da história! Ainda hoje me surpreendo com o desfecho e com a proximidade que o livro guarda com a realidade. A obra é um clássico porque, embora seja uma crítica originalmente direcionada ao governo soviético na época em que foi escrita, ela é atemporal e universal. Inclusive, me fez lembrar muito o que temos passado desde o início dos tempos na política brasileira: um pretenso candidato critica a forma como o país está sendo governado pelo atual presidente; faz promessas aparentemente melhores que seus adversários; diz que todos serão considerados iguais no seu governo, e blá, blá, blá; então, ganha a eleição e, algum tempo depois, o povo constata que, sim, todos são iguais, mas "alguns são mais iguais que outros", e tudo continua na mesma ou piora. Qualquer semelhança com o governo do país em que você vive não é mera coincidência.

Voltando à crítica feita por Orwell ao governo soviético, me chamou muita atenção o prefácio escrito pelo autor, que ajuda a entender o contexto histórico da época. Ele fala sobre as dificuldades que enfrentou para lançar o livro na época da II Guerra por ser considerado anti-russo. Conta que chegou a ser rejeitado por quatro editoras e ainda sofreu censura do governo inglês, que aconselhou o editor, prestes a fechar o contrato de edição do livro, a não fazê-lo diante do conteúdo explicitamente crítico à ditadura russa. Isso porque, na história, um determinado animal da fazenda, com seu comportamento, era uma clara referência a governos ditatoriais. O autor ainda conta que na época da Guerra a censura não era tão dura; era, em sua maior parte, implícita, subentendida, velada. Naquela época, o que se pregava era a admiração à União Soviética, e tudo que demonstrasse minimamente o contrário ou que fosse uma crítica ao governo soviético era considerado impublicável.

Deixo abaixo um trecho do prefácio que me interessou muito e que acho digno de destaque, o que demonstra que esse livro é um arraso, desde o prefácio.

“Se liberdade significa alguma coisa, é o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir. O cidadão comum ainda concorda vagamente com essa doutrina, e age de acordo com ela. Em nosso país – e não é igual em todos os países: não era assim na França republicana e não é assim nos EUA hoje em dia – são os liberais que temem a liberdade e os intelectuais que querem jogar terra no intelecto”. P. 21

Esse prefácio me lembrou certas tentativas do governo atual de censurar livros, jornalistas, o que só confirma a minha tese de atemporalidade de clássicos como este.

Mudando de assunto, passemos às ilustrações feitas por Ralph Steadman, renomado ilustrador, premiado internacionalmente, que ilustrou também livros como Medo e delírio em Las Vegas, Alice no país das maravilhas, dentre outros. Na capa e ao longo do livro, Ralph nos presenteia com ilustrações da fazenda, dos animais, em um jogo de cores e expressões que ajuda, e muito, a provocar os sentimentos mais diversos no leitor. Achei interessante que ao longo do livro também aparecem rascunhos de ilustrações, esboço dos animais, que depois aparecem no cenário pronto e colorido. Isso pode ser facilmente observado na capa, que traz o esboço da mesma ilustração que vem na jacket. Massss... o plus vai para o cartão-postal que vem dentro e que vai para o meu mural e não vai sair nunca mais de lá. Obrigada, Intrínseca! Deixo um aperitivo das ilustrações para que vocês fiquem com ainda mais vontade de adquirir esta edição!
Foto: Divulgação Amazon

                                                  
Foto: Divulgação Amazon

                                                
Foto: Divulgação Amazon
                                                                              
Foto: Divulgação - Amazon
                                        

Para aqueles que nunca leram A revolução dos bichos, eu só tenho a dizer: vocês não sabem o que estão perdendo. Se você já leu, releia!


Adicione ao Skoob!


Avaliação (1 a 5):








 Comente, preencha o formulário, e participe do Top Comentarista de março!



Postar um comentário

  © Viagem Literária - Blogger Template by EMPORIUM DIGITAL

TOPO