A família Mandible - Lionel Shriver

>>  quarta-feira, 3 de março de 2021

SHRIVER, Lionel. A família Mandible 2029-2047. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 448 p. Título original: The Mandibles: A family, 2029-2047.

Antes de começar a resenha de hoje, tenho uma novidade e um convite para você, caro leitor que acompanha minhas resenhas por aqui desde 2017. Agora eu, Evelyn, além de colunista do Viagem Literária, agora também tenho um canal no YouTube: Evelyn Butignoli - Traça Literária! Gostaria de convidar todos para se inscrever, curtir os vídeos e ativar o sininho para não perder nenhum conteúdo. Para conhecer, clique aqui! Se você está se perguntando se, com isso, estou deixando o Viagem Literária, a resposta é: de jeito nenhum! Seguiremos juntos aqui também, firmes e fortes e com muito amor pela literatura!

Dito isto, vamos à resenha!

Quem acompanha minhas resenhas sabe que sou chegada em uma distopia. Não perco a oportunidade de ler uma. Então, quando recebi A família Mandible, livro do mês de janeiro do Clube Intrínsecos, nº 028, vi que se tratava de uma "sátira distópica", e a curiosidade foi tão grande, mas tão grande, que eu quis devorar o livro assim que tivesse oportunidade. A curiosidade aumentou ainda mais quando soube que, em vez de uma distopia futurista sobre uma invasão zumbi ou alienígena, o livro tratava de um apocalipse financeiro que simplesmente afundou os Estados Unidos da América, uma das maiores potências do mundo. Mas será que, ao final da leitura, achei que valeu a pena toda essa curiosidade? Vem que te conto!

A família Mandible é abastada, sendo que seu patriarca, Douglas, mais conhecido como Magno Grand Man, fez fortuna por uma profissão que, para muitos, poderia ser considerado inusitado: sendo agente literário. A verdade é que, com 97 anos de idade e uma saúde ainda plena, a maior parte da família Mandible já não vê a hora de o patriarca falecer e todos poderem colocar a mão na gorda fatia de herança que os aguarda.

Acontece que, em 2029, exatamente cem anos após a quebra da Bolsa de Nova York, os Estados Unidos estão novamente passando por uma grave e inimaginável crise econômica e financeira. O dólar está superdesvalorizado, e há uma segunda moeda, o Bancor, tentando conquistar o mercado e superar o dólar. Para piorar, os americanos já não são tão bem vistos em outros países. O governo está tão quebrado, tão mal das pernas, que medidas drásticas começam a ser tomadas.

Ao ver o caos tomar o país, as pessoas perderem os empregos e o sonho de receber a herança da família reduzido a pó, os membros da família Mandible terão que se unir para conseguir se manter e, mais do que isso, sobreviver.

Ironicamente, quando começa a decadência financeira, os membros da família mais abastados começam a se aboletar na casa de Florence, uma das netas do velho Magno Grand Man, considerada a mais "pobre" da família, seja porque perderam suas posses, seja porque tiveram que vender suas casas, ou mesmo porque tiveram que retornar ao país para conseguir sobreviver. Fato é que uma casa que tinha três moradores passa a, de repente, ter cerca de 14. Sendo hóspedes, eles precisam obedecer a regras, contribuir com o que tiverem para o sustento da casa e ainda conviver com a ausência de água (que estava muito escassa e por isso muito cara), ausência de produtos de higiene e até mesmo alimentos, que estão ou muito caros ou extintos.

E assim vamos acompanhando uma família ir da riqueza à miséria em pouco tempo, ao mesmo tempo que acompanhamos uma potência como os Estados Unidos ver toda sua riqueza e influência escorrer pelo ralo.



A premissa do livro me conquistou de cara. Imagina, de repente, você assistir a um discurso do presidente da maior potência do mundo informando que o país está devendo até as calças e tudo aquilo que você investiu ou ganhou na vida, daquele dia em diante, passa a ser do governo. (Possivelmente, você vai se lembrar de um episódio ocorrido no Brasil há não muitos anos quando as poupanças dos trabalhadores foram "confiscadas"). De repente, os Estados Unidos passaram a ocupar o lugar que, na realidade, é ocupado por tantos e tantos países subdesenvolvidos que vivem em crise econômica e social. Foi inevitável me interessar pelo que a autora estava apresentando.

O leitor é simplesmente jogado em um Estados Unidos do futuro, com um monte de acontecimentos, gírias da época sem um glossário que as explique, sem a menor contextualização. Não fiquei incomodada, já que esse padrão é comum em outras distopias. A ideia da autora não é te explicar tudo, mas te jogar em meio ao caos que os personagens estão vivendo para que você também sinta e viva esse caos. O mais interessante, contudo, é que, apesar de ser um futuro em tese desconhecido, poderia estar muito bem acontecendo atualmente, e isso é o que acho mais incrível nas distopias (ainda que satíricas, rs). Afinal de contas, distopia incrível mesmo é aquela que chega o mais próximo da nossa realidade possível, com que conseguimos nos conectar, comparar com nossa própria realidade, certo?


O livro é narrado em terceira pessoa e, até que eles passem a morar todos juntos, a narrativa vai alternando entre as casas dos membros da família Mandible, que se divide inicialmente em três núcleos: temos a família pobre, de mãe solteira com um filho adolescente e um companheiro, que é criticada pelos outros membros porque não teve grandes ambições na vida e acabou morando no subúrbio e tem uma vida medíocre (pelo menos na visão deles). De outro lado, temos a irmã bem casada, com marido bem-sucedido e três filhos adolescentes saudáveis e cheios de energia, mas que na verdade não passam de um bando de adolescentes mimados e chatos para %$#@WMS (com o perdão da palavra, rs). Por fim, temos os pais delas e o avô Magno Grand Man, patriarca da família que vive melhor que todo mundo. Isso sem falar na tia-avó escritora, idosa, mas cheia de vida, que vive em outro país e ganhou rios de dinheiro com seu livro que ninguém da família leu. Eles bem que parecem um retrato da sociedade, ou seja, pessoas que podem ser facilmente reconhecidas em qualquer família, seja abastada ou não.

Em relação aos personagens amados do livro, meus destaques vão para: Florence (acho que a autora foi um pouco injusta com essa personagem, mas só quem lê entenderá por quê); Willing, filho da Florence, que é um gênio no corpo de um adolescente, de uma forma que não me incomodou; e Enola, ou simplesmente Nollie, a tia-avó escritora (para mim, essa é a melhor de todos os personagens!). Para Top Muro de Chapisco já acrescentei Lowell e Goog, pai e filho da família "abastada"; não sei qual dos dois me deu mais nos nervos o livro inteiro.

Além do futuro caótico retratado no livro e que poderia muito bem acontecer hoje na nossa realidade (depois da pandemia de Corona vírus, não ouso mais dizer que "isso só acontece nos livros"), o que mais me interessou na história foram os termos e as explicações sobre investimentos, finanças e sistema financeiro, e eu gostei bastante de ver um pouco mais a respeito. Mas não é terminogia chata de economia. Quem tem o hábito de juntar dinheiro e investir vai, com certeza, se identificar e até entender bem mais a parte da crise econômica e como ela afetou as pessoas.


O que não curti foram os diálogos muito extensos e, na maioria das vezes, cansativos. Por muitas vezes eu me peguei conferindo as páginas seguintes para ver quando terminariam a discussão ou o assunto, o que me cansou um pouco. Outro incômodo foi que os acontecimentos não foram narrados de uma forma exatamente emocionante. Em distopias sempre tenho essa expectativa. Exceto pelo final: a autora esperou até as últimas páginas para soltar um plot twist que me deixou de boca aberta e me perguntando como eu fui idiota de não ter percebido aquilo antes. Compensou a maior parte da canseira da história e contribuiu para um leve aumento na nota final, rs.

Indico para todo mundo que curte distopia satírica (ou distopias em geral), que gosta de livros ficcionais sobre finanças e economia, para quem curte a autora (que escreveu também O mundo pós-aniversário e Precisamos falar sobre o Kevin) e para quem curte literatura em geral.

O livro ainda não foi lançado para o grande público externo ao Clube Intrínsecos, mas quem quiser assinar para comprar a caixa antiga, pode fazer isso clicando aqui, ou quem quiser comprar na pré-venda da Amazon, pode comprar usando o link abaixo!

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Avaliação (1 a 5): 3.5




 




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