Questão de classe - Christina Dalcher
>> quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
DALCHER, Christina. Questão de classe. São Paulo: Editora Arqueiro, 2020. 304p. Título original: Master Class.
Conheci a escrita de Christina Dalcher quando li Vox, uma distopia de volume único que me deixou muito agoniada e aflita o tempo inteiro. Logo, quando fiquei sabendo do lançamento de Questão de classe, claro, fiquei louca para ler! Agora, venho dividir com vocês todas as minhas impressões a respeito da história. Vamos lá?
Em um futuro um pouco distante, depois de o governo arcar com altos custos com professores e de escolas ficarem superlotadas com alunos de diferentes níveis de inteligência e dificuldade de aprendizagem, foi criado o Programa "Família mais apta". Nesse programa, as crianças (e os adultos também) seriam classificadas por seu número Q. Quanto mais alto, maior o status do aluno ou da pessoa e mais benefícios ele ou ela teria. Em relação aos alunos, eles seriam divididos entre escolas amarelas (internatos localizados em lugares ermos, em que não haveria muita perspectiva de vida para a pessoa), onde ficariam crianças com número Q abaixo de 8; escolas verdes, para alunos normais, com inteligência normal e com número Q abaixo de 9; e, por fim, as escolas prata, onde estudam os gênios ou crianças superinteligentes, com número Q acima de 9. Nessas escolas também trabalham professores com número Q no mesmo nível dos alunos.
Tal sistema resultou em economia nos custos do governo, professores que se dedicariam apenas a alunos com o mesmo nível de desempenho e pais que ficariam satisfeitos de ver seus filhos convivendo com colegas do mesmo status de inteligência. Contudo, é preciso se esforçar muito para manter o nível Q, sobretudo porque a avaliação de desempenho é semanal, e, de uma semana para outra, um aluno da escola prata pode cair de nível e ir parar em uma escola verde.
Mas, apesar de o sistema em camadas parecer funcionar e ser aparentemente bem recebido pelas pessoas, há coisas que vão muito além da compreensão até mesmo daqueles que estão envolvidos nele, como é o caso de Elena Fairchild. Ela é professora de biologia e casada com Malcolm Fairchild, o secretário do Departamento de Educação dos Estados Unidos. Muitas das ideias que estão em vigência no sistema de ensino foram introduzidas por Malcolm, que ama o trabalho acima de tudo e de todos e a filha mais velha, Anne, acima até mesmo da própria esposa. Ele mal se dá conta da existência da filha mais nova, Frederica, uma criança que parece ser querida apenas pela mãe.
Elena, contudo, tenta manter o nível de convivência em família o mais próximo da normalidade que acredita ser possível. Até o dia em que Frederica tira nota baixa e precisa ser enviada para uma instituição amarela, sem que o próprio pai, o todo-poderoso da educação, faça nada para impedir, jogando por terra tudo o que Elena pensava estar vivendo em família e acreditava conhecer acerca do novo sistema de ensino.
Ainda assim, ela vai tentar recuperar a filha de volta, custe o que custar.
Embora tenha uma semelhança estética com Vox, já que a edição é branca e com a escrita vermelha na capa, é bom destacar que Questão de classe não é uma continuação. Trata-se de histórias completamente independentes, de modo que, se você não leu Vox, não há qualquer problema em ler Questão de classe.
Com uma narrativa em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Elena, vamos acompanhando a personagem presa em um casamento que não é feliz, única e exclusivamente porque ela não tem outra opção a não ser continuar casada.
O marido, Malcolm, já é o Top 1 do Muro de Chapisco 2021, e, caso não haja outros para a lista este ano, precisarei criar uma só para panfletar para o mundo o quanto esse cara é babaca, egoísta, mesquinho, abusador e tudo o mais de ruim que vocês quiserem incluir. Eu ficava com tanta raiva em alguns momentos, que precisava parar de ler para respirar, ou seria capaz de jogar o livro pela janela, de tanto ódio desse homem!
As filhas, Anne e Freddie, não aparecem muito, embora a mais jovem tenha papel importante no desenrolar do conflito da história.
Elena é uma mãe e tanto, e fiquei admirada com as coisas que ela foi capaz de fazer para tentar encontrar e resgatar a filha.
Assim como quando li Vox, fiquei agoniada do começo ao fim com esta história. Deu muita agonia ver como as pessoas eram tratadas como animais abandonados em abrigos por não serem "boas" e "perfeitas" o suficiente para aquela sociedade. Dá muita raiva pensar em um mundo em que há um controle de natalidade que busca apenas pessoas geneticamente perfeitas.
Contudo, o que dá mais raiva ainda é que, em determinado momento do texto, eu percebi que a história estava tomando um rumo meio estranho e comecei a me perguntar o que Elena achava que estava fazendo. Não concordei com alguns acontecimentos e atitudes da personagem, o que contribuiu para que não fosse um "cinco estrelas".
Mas, quando chegou no final, acabei rendida e com os olhos cheios de lágrimas. Não que eu tenha passado a ignorar de propósito o que me incomodou na história; apenas não pude resistir aos últimos acontecimentos, rs.
Não tenho certeza, até o momento, se era a intenção da autora, mas senti no texto uma grande crítica a sistemas de ensino seletivos e me lembrei muito de como é o ensino no Brasil de uma forma geral, com a falta de investimento, salários baixos para professores, falta de estrutura adequada a alunos especiais, por vezes falta até mesmo de escola apropriada para alunos com algum tipo de limitação, seja física, seja mental. E, ainda, a evasão escolar em um país em que, em média, 24,1% dos alunos sequer conclui o ensino fundamental até os 16 anos e 40,8% dos jovens não concluem o ensino médio até os 19 anos. (fonte: Plataforma Educacional).
Assim, se você gosta de distopias diferentes, com assuntos ainda não abordados, acho esta (assim como Vox) uma ótima pedida!
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