Pachinko - Min Jin Lee
>> quarta-feira, 18 de novembro de 2020
LEE, Min Jin. Pachinko. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 528 p. Título original: Pachinko.
Edição nº 25 do Clube Intrínsecos, Pachinko é um livro que ganhou minha curiosidade de cara pelo título e pelo fato de a autora ser coreana. Adoro ler livros de autores do mundo todo, e toda vez que tenho essa oportunidade abraço com tudo. Vamos saber o que achei de Pachinko?
Sunja é filha única do casal Hoonee e Yangjin, que são donos de uma pensão modesta em Yeoungdo, no interior de Busan, na Coreia. Ela é uma boa filha, apaixonada pelo pai e respeita muito a mãe. Além disso, é uma garota séria. Sempre vai ao pequeno mercado comprar os alimentos para as refeições da pensão. E, em uma dessas idas, conhece Hansu, um homem bonito, rico, poderoso. Ela se apaixona por ele e a recíproca parece ser verdadeira, até que Sunja engravida e, ao contar para ele, descobre que não poderão se casar, pois ele já é casado e tem três filhas. Ela pode até ser a "esposa" dele na Coreia, se quiser. Ele quer mantê-la como sua amante e lhe dar uma casa e pagar pelo seu sustento e do filho que ela está esperando. Mas Sunja recusa e jura que nunca mais quer vê-lo.
Um pastor, Isak Baek, que está de passagem pelo vilarejo, se hospeda na pensão da família de Sunja. Ele está bem mal de saúde e fica à beira da morte. Só escapa graças a grandes esforços das donas da pensão. Ele fica tão grato, que se oferece para se casar com Sunja e salvar sua reputação. Ela iria viver com ele em Osaka, no Japão, destino final dele, onde trabalhará como pastor em uma igreja. Não será uma vida de luxo, mas Sunja aceita. Afinal, ela quer dar uma família para o filho que está esperando.
Contudo, a vida em Osaka não vai ser exatamente como Sunja e Isak esperavam, e ela vai se ver numa longa jornada para sustentar sua família e, mais do que isso, para sobreviver em uma terra em que Coreanos são indesejados.
Que livro, senhoras e senhores! Que história! A narrativa da autora é muito envolvente. Apesar de ser um calhamaço, todos os dias, quando eu iniciava a leitura, me perdia em suas páginas e, quando percebia, já tinha avançado muito sem perceber.
É muito diferente e quase indescritível a sensação de acompanhar a jornada de uma família por quase uma centena de anos. Não é um tipo de leitura qualquer. A história não começa com o relacionamento de Sunja com Hansu, embora minha sinopse tenha dado a entender isso. Ela inicia muitos anos antes, mais ou menos em 1910, com o nascimento de Hoonee, pai de Sunja, e seu crescimento e depois casamento com Yangjin, passando pelo nascimento e crescimento de Sunja, pela Segunda Guerra Mundial e terminando muito depois, em meados de 1989, com outra geração da família de Sunja.
Isso provoca um apego aos personagens que nos faz vê-los praticamente como se fossem membros da nossa própria família. Ver os filhos de Sunja crescerem, fazerem escolhas, seguirem caminhos é quase como ver um ente querido nascer, crescer, envelhecer. Além disso, ver todo o perrengue que ela passa como mulher em uma sociedade machista, em um lugar que sequer pode chamar de pátria, é muito triste e me fez sentir ainda mais empatia não só por Sunja, mas por todas as mulheres dessa história. É uma luta que se renova com o passar dos anos. Vemos Yangjin, a mãe, fazendo o impossível para que Sunja tenha uma vida melhor que a dela; Sunja, por sua vez, passa a lutar para que seus filhos Noa e Mozasu não tenham o mesmo destino pobre da mãe; Noa e Mozasu lutando para que não só o próprio destino fosse diferente, mas que seus filhos também tivessem uma vida melhor, se possível, em um lugar que pudessem realmente chamar de pátria.
Edição nº 25 do Clube Intrínsecos, Pachinko é um livro que ganhou minha curiosidade de cara pelo título e pelo fato de a autora ser coreana. Adoro ler livros de autores do mundo todo, e toda vez que tenho essa oportunidade abraço com tudo. Vamos saber o que achei de Pachinko?
Sunja é filha única do casal Hoonee e Yangjin, que são donos de uma pensão modesta em Yeoungdo, no interior de Busan, na Coreia. Ela é uma boa filha, apaixonada pelo pai e respeita muito a mãe. Além disso, é uma garota séria. Sempre vai ao pequeno mercado comprar os alimentos para as refeições da pensão. E, em uma dessas idas, conhece Hansu, um homem bonito, rico, poderoso. Ela se apaixona por ele e a recíproca parece ser verdadeira, até que Sunja engravida e, ao contar para ele, descobre que não poderão se casar, pois ele já é casado e tem três filhas. Ela pode até ser a "esposa" dele na Coreia, se quiser. Ele quer mantê-la como sua amante e lhe dar uma casa e pagar pelo seu sustento e do filho que ela está esperando. Mas Sunja recusa e jura que nunca mais quer vê-lo.
Um pastor, Isak Baek, que está de passagem pelo vilarejo, se hospeda na pensão da família de Sunja. Ele está bem mal de saúde e fica à beira da morte. Só escapa graças a grandes esforços das donas da pensão. Ele fica tão grato, que se oferece para se casar com Sunja e salvar sua reputação. Ela iria viver com ele em Osaka, no Japão, destino final dele, onde trabalhará como pastor em uma igreja. Não será uma vida de luxo, mas Sunja aceita. Afinal, ela quer dar uma família para o filho que está esperando.
Contudo, a vida em Osaka não vai ser exatamente como Sunja e Isak esperavam, e ela vai se ver numa longa jornada para sustentar sua família e, mais do que isso, para sobreviver em uma terra em que Coreanos são indesejados.
"A história falhou conosco, mas não importa". p. 11
"Ela não conseguia enxergar sua humanidade, e Noa se deu conta de que isto era o que ele mais desejava: ser visto como um ser humano". p. 338
"Ela não conseguia enxergar sua humanidade, e Noa se deu conta de que isto era o que ele mais desejava: ser visto como um ser humano". p. 338
Que livro, senhoras e senhores! Que história! A narrativa da autora é muito envolvente. Apesar de ser um calhamaço, todos os dias, quando eu iniciava a leitura, me perdia em suas páginas e, quando percebia, já tinha avançado muito sem perceber.
É muito diferente e quase indescritível a sensação de acompanhar a jornada de uma família por quase uma centena de anos. Não é um tipo de leitura qualquer. A história não começa com o relacionamento de Sunja com Hansu, embora minha sinopse tenha dado a entender isso. Ela inicia muitos anos antes, mais ou menos em 1910, com o nascimento de Hoonee, pai de Sunja, e seu crescimento e depois casamento com Yangjin, passando pelo nascimento e crescimento de Sunja, pela Segunda Guerra Mundial e terminando muito depois, em meados de 1989, com outra geração da família de Sunja.
Isso provoca um apego aos personagens que nos faz vê-los praticamente como se fossem membros da nossa própria família. Ver os filhos de Sunja crescerem, fazerem escolhas, seguirem caminhos é quase como ver um ente querido nascer, crescer, envelhecer. Além disso, ver todo o perrengue que ela passa como mulher em uma sociedade machista, em um lugar que sequer pode chamar de pátria, é muito triste e me fez sentir ainda mais empatia não só por Sunja, mas por todas as mulheres dessa história. É uma luta que se renova com o passar dos anos. Vemos Yangjin, a mãe, fazendo o impossível para que Sunja tenha uma vida melhor que a dela; Sunja, por sua vez, passa a lutar para que seus filhos Noa e Mozasu não tenham o mesmo destino pobre da mãe; Noa e Mozasu lutando para que não só o próprio destino fosse diferente, mas que seus filhos também tivessem uma vida melhor, se possível, em um lugar que pudessem realmente chamar de pátria.
A narrativa muda diversas vezes em várias direções ao longo do livro, porque a vida é assim: ela toma, sim, vários rumos, porque por vezes sabemos mais sobre algumas pessoas do que sobre outras; porque às vezes as pessoas desaparecem e reaparecem em nossas vidas de modo repentino; e porque a morte também chega em nossas famílias quando menos esperamos, ou, às vezes, estamos esperando (e, ainda que não assumamos, estamos torcendo) que ela chegue para aliviar a dor de alguém que tanto está sofrendo .
Eu fui envolvida de uma forma por essa história, que ainda me pego pensando nos personagens, e acho que vai ser assim por um longo tempo ainda.
Um ponto interessantíssimo nesse livro, e que me fez ficar ainda mais envolvida e interessada, é seu contexto histórico. A história, neste caso, também é um personagem de suma importância: a Coreia sendo colonizada pelo Japão e as consequências que isso trouxe para o povo e para o país; a Segunda Guerra Mundial, que trouxe consequências ainda mais trágicas para o Japão e para a Ásia como um todo; o papel da mulher ao longo de gerações, a luta de mulheres fortes para sobreviver e para cuidar de sua família, sobretudo em um período em que elas eram tão subestimadas, subjugadas.
Um ponto negativo, que sempre me incomoda nos livros, foi a falta de tradução dos termos que são deixados no idioma original (nesse caso, coreano e japonês). Algumas palavras eu até consegui entender pelo contexto, mas o significado de outras eu fiquei sem saber. Em alguns casos nem o Google sabia, rs.
Mas você deve estar se perguntando o que, afinal de contas, é esse tal Pachinko que dá nome ao livro. Eu explico.
Pachinko é um jogo de caça-níquel muito comum no Japão. É como se fosse um pinball, só que na posição vertical. Os salões de pachinko eram um dos principais meios de trabalho para coreanos que viviam longe de sua pátria, sobretudo por serem tão discriminados e rejeitados em quase todo tipo de trabalho no Japão. O salões de pachinko, assim como seus donos, não são vistos com bons olhos. São considerados como pertencentes ao submundo do crime e, embora seja um trabalho honesto de alguns personagens da história, a fama que os acompanha por serem donos de lugares desse tipo não é nada boa. Ainda assim, é um dos poucos meios que os coreanos encontram para tentar enriquecer e onde encontram um sentido para a vida tão dura e difícil.
Essa foi uma das melhores leituras de 2020 e indico para todas as pessoas que buscam, acima de tudo, aprender mais sobre outras culturas. E fiquem atentos, o livro vai ser adaptado para série da Apple TV+. Já teve seu elenco definido e as gravações começaram em 26.10.2020. Ainda não há data definida para a estreia, mas já estamos ansiosos desde já, certo?
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