Malorie - Josh Malerman
>> quarta-feira, 5 de agosto de 2020
MALERMAN,
Josh. Malorie. Rio de Janeiro:
Editora Intrínseca, 2020. 288 p. Título original: Malorie.
Quando
Caixa de pássaros foi lançado, há 5 anos, apesar de não ser um gênero que eu
curtisse tanto, fiquei tão interessada na história que não sosseguei enquanto
não comprei o livro e o li todinho. Quando terminei, confesso que preferia não
ter lido, rs. Não curti a história, não consegui sentir empatia por quase
nenhum personagem, e me deixou muito incomodada o fato de não ser revelado,
exatamente, o que eram as criaturas que enlouqueciam as pessoas. Mas isso foi
há 5 anos e, além disso, Caixa de pássaros foi o primeiro livro que li do Josh
Malerman.
Quatro
livros depois (sim, embora não tenha curtido o primeiro livro do autor, li
todos os lançados em seguida), percebi que não só comecei a compreender mais o
estilo de Malerman (e acabo sempre já esperando por finais mais “interpretativos”
ou “figurados”), como também comecei a gostar um pouco mais das histórias a
cada livro lançado (talvez por justamente começar a compreendê-lo). E então, em
julho, foi lançada a sequência de Caixa de pássaros: Malorie. A primeira coisa
que me veio à cabeça foi que eu tinha um total de zero expectativas e que a
chance de gostar (ou desgostar) o mesmo tanto que gostei (ou desgostei) do
primeiro livro seria grande. Será? Já te conto!
No
final de Caixa de pássaros, deixamos Malorie, Tom e Olympia na Escola para Cegos
Jane Tucker, que ela encontrou após passar quatro anos ensaiando deixar a casa em
que viviam e atravessar o caminho pelo rio, até chegar à escola.
Agora,
dois anos depois de chegarem àquele local que desde então passaram a chamar de
lar, o terror das criaturas chega à escola. Pessoas começam a enlouquecer,
crianças e adultos começam a atacar uns aos outros e a si próprios. Eles estão
morrendo. Quando isso acontece, Malorie não pensa em nada, a não ser encontrar
Tom e Olympia para saírem dali. Quando finalmente se encontram, os três, apenas
com a roupa do corpo e com os cobertores que encontraram no quarto em que
dormiam, deixam a escola para trás. Novamente estão sozinhos.
Dez
anos se passam. Agora eles vivem em um acampamento judeu abandonado, chamado
Yadin. O acampamento tinha tudo que eles precisavam quando o encontraram e ali
viveram em segurança durante uma década. Tom agora tem dezesseis anos e sonha
em viver uma vida normal, ou pelo menos descobrir uma forma de lidar com as
criaturas sem ter que morrer. Olympia é mais quieta, mais obediente. Já leu
cerca de 1000 livros disponíveis na biblioteca do acampamento, ao longo dos
anos que passou ali, e tudo o que sabe sobre a vida e as pessoas (até mesmo
sobre o sentimento delas) descobriu por meio dos livros. É o único parâmetro
que tem.
Malorie
continua paranoica não apenas com as criaturas. Vive sendo assombrada em sonhos
por Gary, o cara responsável por destruir tudo de bom que havia na casa em que eles
viveram com outras pessoas logo que tudo aquilo começou. Ela também pensa
constantemente em Tom, o homem, aquele que a fez ter esperanças de que, apesar
dos pesares, tudo ficaria bem. Ainda pensa em sua família, como queria estar
com eles, que nada daquilo tivesse acontecido.
Tudo
ia bem para eles, na medida do possível, até que um dia uma pessoa aparece no
acampamento, dizendo que há um modo de se chegar mais longe do que andar a pé,
que há comunidades que juram ter capturado criaturas e que têm convivido com elas
sem maiores problemas. Malorie não quer saber, mas o cara deixa algumas
informações. Dentre elas há uma lista de sobreviventes e, dentre os nomes, há
dois que vão abalar completamente o instinto de sobrevivência de Malorie e a
farão ficar em dúvida entre manter a si mesma e os filhos em segurança ou
seguir rumo ao desconhecido, baseando-se apenas em informações que ela nem tem
certeza se estão corretas.
~~~~~~~~
Bom,
antes de falar sobre o livro, é importante contar que a narrativa, embora seja
feita em terceira pessoa, alterna a visão da história pelos olhos (vendados,
sempre vendados, rs) de Malorie, Tom e Olympia.
O
livro é dividido em três partes, cada uma referente ao local em que estão em
determinado momento. Por exemplo, a primeira parte é intitulada A escola para
cegos, a segunda, Dez anos depois, e por aí vai. Não vou ficar aqui contando
para vocês os títulos, porque contêm spoilers, rs.
Assim
como em Caixa de pássaros, nas primeiras páginas de Malorie eu fui ficando
angustiada e ansiosa para saber o que iria acontecer, com a diferença de que,
desta vez, não tinha aquela apreensão em relação às criaturas, ao que elas
seriam e tal.
A
cada final de capítulo, o autor foi me deixando mais curiosa pelo próximo, o
que sempre me agrada. A leitura fluiu tão rápido que, de repente, me dei conta
de que mais da metade já tinha se passado, e depois o livro todo.
Podem
falar o que for dos livros de Josh Malerman, mas não que ele não sabe escrever
de forma fluida, rs.
Em
relação aos personagens, Malorie e eu seguimos em uma relação de amor e ódio.
Sei muito bem que medidas de segurança são necessárias (afinal de contas,
também estamos enfrentando uma criatura invisível chamada Coronavírus que,
apesar de não me deixar diretamente louca – só um pouco, pela quarentena, rs – pode
matar assim como as criaturas do livro!), e acho que a personagem exagera em
muitos momentos. Outra coisa que irrita é o fluxo de pensamento repetitivo que
toma a cabeça dela em vários momentos. Houve momentos em que pensei que,
indiretamente, ela ia acabar enlouquecendo, de tão neurótica. Em alguns
momentos, inclusive, cheguei a me perguntar se não seria Malorie, no fim das
contas, a vilã da história.
Tom
e Olympia, apesar de adolescentes, conseguiram ser menos irritantes que Malorie
ao longo da história. Tom mostra um pouco mais o seu lado adolescente rebelde
insistindo em querer um progresso para o mundo pós-apocalíptico e que as
pessoas, sobretudo a mãe, não podiam simplesmente aceitar a existência das
criaturas, colocar uma venda na cara e esperar a vida passar (sem vê-la) e a
morte chegar.
Dean
e Ron são personagens secundários que eu gostaria que tivessem sido mais bem
aproveitados, mas infelizmente não foram, sobretudo Dean, que deixa a história
repentinamente e sem qualquer explicação.
A
partir desse momento, que podemos considerar ser o clímax da história, as
coisas vão acontecendo de forma desenfreada e um pouco inexplicável, na minha
opinião, e quando o final chegou, o meu pensamento foi: “Ah, sério?! É isso?!”
Embora as últimas páginas, sobretudo a última, tenham tocado meu coração a ponto de deixar os olhos marejados, o
final foi assombroso de tão decepcionante, e olha que, por incrível que pareça,
não deixou margem para interpretação!
A
melhor parte é a revelação de um segredo envolvendo um dos personagens, o que
compensou um pouco a decepção, mas, de um modo geral, esperava mais da história,
que estava indo tão bem.
Apesar
disso, indico este livro para quem curtiu Caixa de pássaros e os livros do
autor de forma geral.
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Série Bird Box:
- Caixa de pássaros (Bird box)
- Malorie (Malorie)
Avaliação
(1 a 5): 3.5
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