Pessoas normais - Sally Rooney

>>  quarta-feira, 8 de julho de 2020

ROONEY, Sally. Pessoas normais. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2019. 264p. Título original: Normal people.


Minha curiosidade de ler Pessoas normais começou quando vi que algumas páginas no Instagram e alguns booktubers começaram a fazer uma propaganda positiva da história. Não tem como não ficar curiosa quando um livro é tão comentado (seja positiva, seja negativamente), certo? Então, apegada a essa curiosidade, solicitei o e-book à Companhia das Letras, já louca para conhecer Marianne e Connell. E será que minhas expectativas foram atendidas? Venha descobrir!

Marianne é uma adolescente de família rica, mas ao contrário do que se pode esperar de uma adolescente rica, ela não é popular, pelo contrário. Por ser muito séria e calada, acabou se tornando motivo de chacota na escola onde estuda, os alunos a acham estranha por não ter amigos. Bom, talvez ela tenha um amigo. Connell.

Filho único de mãe solteira e morador da periferia, Connell, ao contrário do que também pode parecer, é o cara popular do colégio, aquele que todo mundo admira e quer ser amigo. Ele é filho de Lorraine, que trabalha como diarista na casa da família de Marianne.

Connell e Marianne mantêm uma relação, uma proximidade, uma “amizade colorida” secreta que talvez exista exatamente pela “posição” que cada um ocupa na escola. Esse relacionamento em segredo vem do medo que Connell tem do que os amigos vão achar, afinal, isso pode acabar com a reputação dele.

E essa relação estranha se estende por alguns anos em que eles tentam ficar juntos e não conseguem. Há algo que os separa. E tentam ficar separados e não conseguem. Há algo que os une.
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A narrativa é feita em terceira pessoa. O primeiro capítulo inicia em janeiro de 2011, e os seguintes dão sequência à passagem de tempo que ocorre na história, por exemplo: o segundo capítulo traz como título: “Três semanas depois” (Fevereiro de 2011). Em seguida, “Um mês depois”, e por aí vai, até o último capítulo, intitulado “Sete meses depois (Fevereiro de 2015)”.

Marianne é a personagem mais maltratada da história. Na família, ela sofre com o pai, a mãe, o irmão, e está tão acostumada a ser subjugada, que acaba por permitir, consciente e, às vezes, inconscientemente, que Connell, à sua maneira, também a maltrate. Na minha opinião, não se trata de um relacionamento exatamente saudável.

As atitudes de Connell variam entre dois polos: ora ele sente algo tão forte por Marianne que não consegue ficar longe dela (curiosamente, essa vontade aumenta principalmente quando ela está mal, descuidada), ora se vê acometido, de repente, por uma vontade de estar longe dela, de magoá-la, de vê-la sofrer.

Ao longo da leitura, também oscilei entre achar que ele fazia isso por insegurança ou por problema de caráter mesmo. A verdade é que foi um pouco difícil ter empatia tanto por ele quanto por ela.

Tanto a mãe quanto o irmão de Marianne são péssimos, e é fácil entender por que ela vive mais calada, mais na dela. A pessoa mais legal e mais sensata dessa história é Lorraine, mãe de Connell. A mãe que todo adolescente e jovem precisa e gostaria de ter.

Eu gostaria muito de dizer que amei a história, depois de toda a propaganda que ouvi antes de iniciar a leitura, mas a realidade não é bem assim.

Fiquei muito irritada com as atitudes de Connell com Marianne e a forma como ela reagia às decisões que ele tomava.

Entendi que a autora pretendeu, com a história, relatar problemas normais, de pessoas normais. O ser humano é naturalmente egoísta, tem dificuldades de se relacionar, crescer, se declarar. Frequentemente, pensa uma coisa e faz outra. Temos, por vezes, uma visão de nós mesmos (negativa ou não) que ninguém mais tem. Há famílias, como a de Marianne, que são disfuncionais, em que não há amor, carinho, união. E há famílias, como a de Connell, que têm muito amor, carinho, atenção, ainda que sejam formadas apenas por mãe e filho.  

O livro fala, também, do imediatismo dos jovens, querendo tudo para ontem, ao mesmo tempo que têm certeza de que todo acontecimento levará ao fim do mundo (#quemnunca). Nessa idade há exagero em relação aos sentimentos e aos acontecimentos. Sabemos, também, o quanto a insegurança e a preocupação com a opinião alheia pode afetar a forma como agimos. Tudo isso para chegar à vida adulta e descobrir que tudo isso de nada adiantou.

Contudo, ainda que a premissa seja muito boa e o livro seja fluido, fácil de ler, não consegui sentir empatia por nenhum dos personagens e passei o livro todo esperando por uma evolução deles e que, com o passar do tempo na história e com os acontecimentos, eles aprendessem alguma coisa. O livro acabou, e ainda estou esperando. Bem que minha mãe diz que tem gente que nunca aprende, rs.

E o final é exatamente assim. Acaba e fim. Depois de muitos altos e baixos, idas e vindas, ele acaba e o leitor tem que se contentar com isso. Para mim, foi condizente com a história toda em si, decepcionante, diante da expectativa que eu tinha.

Andei conferindo a opinião de alguns outros leitores, e uma coisa ficou clara para mim: não há meio-termo, as opiniões se dividem entre os que amam e os que odeiam.

Eu, infelizmente, faço parte destes últimos, mas vocês precisarão ler para dizer a que grupo pertencem!

O livro foi adaptado para série de TV em 12 episódios, lançada pela BBC juntamente com a Hulu, estrelada por Daisy-Edgar-Jonas e Paul Mescal. No Brasil, será exibida pelo Starzplay Brasil.  Apesar de tudo o que eu disse sobre o livro, alguém tem dúvida de que eu vou assistir à série? 

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Avaliação (1 a 5): 2.5






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