Conectadas - Clara Alves
>> quarta-feira, 27 de maio de 2020
Sou
uma grande fã de romances LGBTQ+, sobretudo por acreditar que amor é amor e
ponto final. Quando recebi Conectadas para participar de uma leitura coletiva
com a Editora Seguinte, fiquei superempolgada e doida para conhecer a história
de Raíssa e Ayla. Agora, divido com vocês um pouco das minhas impressões sobre
Conectadas.
Raíssa
é adolescente, filha única e vive com os pais em Sorocaba. Desde que o pai a
autorizou, aos quatorze anos, a utilizar o computador dele para jogar, Raíssa
entrou para o mundo dos jogos online e nunca mais saiu. Apesar de ser uma
exímia gamer, precisa esconder sua identidade atrás de um perfil masculino denominado
“smbdouthere”, já que até no mundo dos jogos online há a podre contaminação do
machismo. Raíssa passa todo o tempo livre na frente do computador jogando
Feéricos, um jogo online produzido pela Nevasca Estúdios. Ela e Leo, seu melhor
amigo, sabem tudo sobre os jogos da empresa e estão sempre jogando juntos ou
sofrendo enquanto aguardam por alguma atualização. Léo é um dos poucos que
sabem que Raíssa usa um perfil masculino.
E
é usando esse perfil que, um belo dia, Raíssa conhece Ayla, uma adolescente que
mora em Campinas com os pais e que está passando por um momento difícil em casa,
após o pai ter cometido um grave erro que deu início a uma guerra fria com a
esposa, como Ayla gosta de chamar a forma com que os pais se tratam desde
então. O problema é que essa guerra acaba respingando em Ayla, que tem sido a
mais afetada com o que vem acontecendo. Ela foi, inclusive, obrigada a deixar a
escola pública em que estudava, para ir para um colégio particular, apenas para
que a mãe de Ayla tivesse o prazer de ver o marido gastar mais dinheiro.
Então,
para afogar as mágoas, Ayla joga Feéricos e é apaixonada pelo jogo. Ao
contrário de Raíssa, ela usa um perfil feminino denominado “aylastorm”, o que a
faz sofrer muito, pois poucos usuários estão dispostos a ajudá-la. Um belo dia,
durante uma missão no jogo, ela pede por socorro e um usuário denominado
“smbdouthere” se oferece para ajudá-la. Os dois passam, em pouco tempo, a ser
companheiros virtuais inseparáveis de jogo.
Com
o passar do tempo, a amizade entre eles vai se tornando algo mais forte, e
Raissa se vê diante de uma questão muito difícil: contar para Ayla que é uma
garota e parar tudo antes que se torne algo sério e alguém saia machucado da
relação, ou seguir em frente e, consequentemente, continuar mentindo sobre quem
ela é?
Não
bastando esta dúvida, há ainda o questionamento constante que Raíssa vem se
fazendo sobre sua sexualidade. Será que os pais a odiariam se soubessem que ela
gosta de meninas?
~~~~~~
A
história é narrada em primeira pessoa, alternadamente por Ayla e Raíssa. Ao
final de cada capítulo, o leitor é presenteado com uma tela, ou do computador
ou do celular das duas garotas, mostrando conversas que elas tiveram ao longo
do tempo de amizade, o que complementa algumas situações que vão acontecendo na
história.
Tive
identificação com as duas protagonistas, um pouco com cada uma, seja em
situações que enfrentaram com a família, seja pela personalidade delas. A
história me fez lembrar de vários momentos da minha adolescência, vivida lá
pelos anos 2000. Afinal, todo mundo já foi adolescente e sabe as ansiedades
que teve, o medo do futuro, as dúvidas, alguns com problemas familiares, outros
com questões mais internas. Além disso, naquela época a internet ainda era
discada e era um território ainda muito pouco conhecido, pouco explorado. Ainda
assim, já era um mundo cheio de perfis fakes, pessoas querendo se passar por
quem não eram ou por quem gostariam de ser. Eu mesma conheci várias pessoas que
jamais cheguei a encontrar pessoalmente e jamais saberei se eram mesmo quem
diziam ser.
Gostei
muito do Leo também, ele foi o tempo todo o melhor amigo que uma pessoa poderia
ter, e me solidarizei muito com algumas situações que ele teve que enfrentar ao
longo da história.
Mas,
sem dúvida, minha personagem favorita nesta história foi Sayuri, a tia de Ayla.
Além de descolada e muito gente fina, ela não mediu esforços para fazer a
sobrinha feliz, coisas que nem a própria mãe da garota, envolta em seus
próprios problemas, pensou em fazer pela filha, e por isso Sayuri conquistou
meu coração. Talvez também por termos idades parecidas, o que ajudou a me
identificar mais com essa personagem em relação aos demais.
Na
minha opinião, a história foi muito bem desenvolvida e as personagens são
cativantes. Torci muito por todos e queria que tudo terminasse bem, apesar de
saber que Raíssa e Ayla teriam que enfrentar uma barra e tanto, se e quando
tudo viesse à tona, principalmente com relação aos pais e amigos e com o mundo,
quando assumissem sua homossexualidade, afinal de contas, não é fácil. Ainda há
muito preconceito e a luta é diária, mas necessária de ser enfrentada.
Não
digo que defendi Raíssa por ela ter mentido para Ayla, eu também ficaria muito
brava se fosse comigo. Mas compreendi os motivos dela para adiar a verdade.
Uma
coisa que achei legal na história são as menções a livros e filmes muito amados,
como O senhor dos anéis, Orgulho e preconceito, Uma babá quase perfeita. Fico
sempre encantada quando os livros mencionam histórias e filmes que amo, espero
que sirva para os jovens de hoje em dia terem curiosidade de conhecer “essas
coisas mais das antigas”, rs.
O
que foi mais difícil para mim, durante a leitura inteira, foi me segurar para
respeitar o cronograma de leitura coletiva (que durou 3 semanas) e não devorar
tudo de uma vez. Quanto mais eu lia, mais queria ler e saber o que ia
acontecer!
O
final me deixou com o coração quentinho, com lágrima nos olhos, apesar de não
ter me contentado com o desfecho dado a alguns personagens, como o Léo. Caso a
autora se interesse algum dia em escrever uma história especificamente sobre
ele, acho que muitos leitores (eu!) vão adorar! (#ficaadica).
Antes
de ir, deixo para quem tiver interesse duas playlists que são mencionadas na
história: Uma, da Raíssa para Ayla e uma da Ayla para Raíssa. Não se preocupe
se você não tiver uma conta, dá para ouvir de graça! Ouçam antes, durante ou depois
da leitura, não importa. O importante é se divertir!
Raíssa:
https://spoti.fi/2M0mOAS
Ayla:
https://spoti.fi/2WX8eet
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