O livro de Líbero - Alfredo Nugent Setubal

>>  quarta-feira, 11 de março de 2020

SETUBAL, Alfredo Nugent. O livro de Líbero. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020. 256 p. 

"O futuro é uma guerra que se ganha nas pequenas  batalhas"p. 20
"O conforto é inimigo da perfeição". p. 26
"Os olhos são a primeira parte do corpo a atrofiar." p. 38
"Sortudos são aqueles que não vivem sob a tirania dos ponteiros." p. 71

Em algum momento da sua vida, você já parou e pensou, nostalgicamente, que queria ter feito alguma coisa diferente? Que poderia ter escolhido o caminho B e não o A, como escolheu. Que poderia ter dito sim, quando disse não. Que poderia ter dito algo que não disse, ou não. Quem nunca?! Foi por esse motivo que fiquei interessadíssima em O livro de Líbero, ao saber que alguém, mais especificamente um personagem de livro, teria essa chance que muitos de nós gostaríamos de ter. Esse é o primeiro livro nacional do Clube Intrínsecos, enviado agora, na caixinha de março/2020. Meu interesse foi tanto que deixei de lado meus livros previstos para ler e escolhi O livro de Líbero como minha companhia literária nesse carnaval. 

Antes de partir para a resenha propriamente dita, não custa lembrar, o Clube Intrínsecos é o clube do livro da Editora Intrínseca que você assina para receber em sua casa, mensalmente, livros contemporâneos, mais especificamente livros que serão futuramente lançados pela editora e que são antecipados para os assinantes antes de todo mundo que não assina o clube. Eles sempre vêm com um marcador e um cartão-postal colecionável, ambos relacionados com o respectivo livro. Ainda vem uma revistinha muito interessante com comentários, entrevista com o autor da obra e ilustrações sensacionais (como a da foto abaixo). Desta vez, veio uma réplica do livro de Líbero, para o leitor fazer anotações ou, quem sabe, escrever o livro da própria vida (vocês já vão entender). 
Caixa Intrínsecos nº 18
                                                             
Dito isso, deixo abaixo para vocês minhas impressões sobre esse livro.

Líbero Perim nasceu na cidade de Pausado (se é que se pode chamar de cidade), que conta com exatos 409 moradores. Ainda assim, é uma cidade completa, com escola, mercado, igreja e – por que não? – uma Gazeta.

Graças ao jornal, que tem como funcionários o pai de Líbero, Massimo, o próprio Líbero e Rubio, o único “não parente” da família Perim, a pequena cidade tem notícias não só de seus próprios habitantes, como também de outros povos e lugares. 

Assim, Líbero divide sua infância entre a Gazeta e os eventuais passeios com Rubio pela cidade para coletar informações a serem noticiadas, entre as brincadeiras com amigos, os suspiros por Nanza, a garota mais bonita da cidade na visão de Líbero, e, claro, entre os livros que ele tanto ama e que o levam sempre para um lugar diferente, deixando o pai irritado (já que realidade não se mistura com as fantasias dos livros) e a mãe desesperada (já que para ela não há como existir vida além das alamedas de Pausado).

Tudo na vida do ligeiro garoto Líbero vai muito bem, até que um dia, ao olhar para fora da janela de seu quarto, ele não vê mais apenas a “montanha, quase colina” (como é chamada a montanha da cidade) que ele sempre vê ao acordar. Ele se depara com uma enorme tenda de circo.

A cidade fica dividida entre o temor e a curiosidade, já que nunca um circo esteve em Pausado, enquanto Massimo pensa que esta pode ser A notícia para a Gazeta. Na noite de estreia do circo, Líbero, super curioso com o circo e com os acontecimentos, se depara com um dos donos do lugar, Baltazar, que lhe entrega um livro vermelho, de capa dura, e faz a pergunta que vale um milhão da moeda mais cara que houver: “Você gostaria de ler o livro de sua vida?”

Se Líbero vai ler ou não, e as implicações que isso trará para sua vida e a de todos à sua volta, vocês descobrirão lendo!
 
                                                                       ~~~~~~

Ah, gente, como gostei deste livro!

Comecei  muito antes da história propriamente dita, quando li a entrevista com o autor no encarte que veio junto. As pesquisas feitas por ele e as referências/influências em sua escrita, como alguns livros (Cem anos de Solidão, A sombra do vento) e filmes (Peixe grande, Cinema Paradiso), já me fizeram ter um bom conceito antecipado sobre a história, influenciando positivamente no meu interesse em lê-la.

Já em relação ao livro em si, começando, como sempre,pela narrativa, ela se alterna entre Baltazar, um dos donos do circo, e Rubio, o funcionário da Gazeta. Assim, vemos pelos olhos desses dois personagens tudo o que aconteceu na vida de Líbero desde antes da chegada do circo à cidade até muito, muito tempo depois.

Este livro é um romance de formação e se passa em uma cidade fictícia e em uma época que não fica muito clara para o leitor. O que sabemos é que Líbero é uma criança de 11 anos muito imaginativa, que tem por paixão os livros (e Nanza) e sonha conhecer o mar, e que passa por uma mudança comportamental, uma transformação em seu íntimo ao longo da história, o que é compreensível, já que todos nós passamos por mudanças ao longo da vida, e angustiante ao mesmo tempo. Vemos como a cidade, as descobertas, os livros, O livro, o circo, tudo influencia de certa forma para tornar Líbero a pessoa que ele é. Isso me fez pensar em tudo que me influenciou ao longo de toda a minha vida para eu ter me tornado quem eu sou. O que nos acontece de bom, de ruim, de marcante para que nossa personalidade seja formada de determinado modo. Uma coisa eu e Líbero temos em comum: os livros com todo o poder de suas histórias são, sem sombra de dúvida, os maiores influenciadores/responsáveis pela nossa formação.

Além disso, somos formados pelas escolhas que fazemos e as consequências (boas ou ruins) que elas trazem, seja a curto, médio ou longo prazo. Talvez por isso não seja muito difícil desejar ter um livro que nos mostre tantas opções, tantos caminhos e a possível chance de mudar de ideia e reescrever o caminho, o futuro.

Quanto aos personagens, tirando Marco, um dos amigos de Líbero, tive empatia por todos e cada um, a seu modo, é extremamente importante para a história.

Eu e Líbero tivemos uma relação de amor e ódio no decorrer das páginas, mas no fim das contas acabamos fazendo as pazes. A verdade é que me identifiquei mais com Rubio que com o protagonista Líbero. Fazer o quê, né?! Ler tem dessas coisas!

Acredito que o autor tenha iniciado com pé direito com este livro e indico para todo mundo que curte boa literatura e romances de formação!
               
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Avaliação (1 a 5): 4.5






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