Um caminho para a liberdade - Jojo Moyes
>> segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
MOYES, Jojo. Um caminho para a
liberdade. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 368p. Título original:
The give of stars.
“- Porque somos um time, e um time fica unido. – Izzy ergueu o queixo. –
Somos as bibliotecárias de Baileyville, e permanecemos juntas. ” Cap. 25
Eu sou moderadamente fã da Jojo
Moyes... já li todos os livros da autora lançados no
Brasil (não são poucos) e amo alguns de paixão e outros acho razoáveis. Este
estava bem comentado e elogiado desde o lançamento, e fala sobre bibliotecas!
Então fui curiosa conferir Um caminho
para a liberdade!
Kentucky, 1937
A jovem Alice
Wright deixou sua vida protegida e inocente na Inglaterra, para se
aventurar nas terras americanas. Uma grande mudança cultural, já que ela foi
morar com o novo marido e o sogro em uma pequena cidade de Baileyville em Kentucky.
As pessoas estranhavam seu sotaque e seus modos rebuscados, Alice não conseguia
se adaptar. As moças a olhavam com desprezo, afinal, ela se casou com o
solteiro mais cobiçado da cidade, Bennet.
O que ninguém sabia é que Alice sofria nas mãos de um sogro autoritário e
inescrupuloso e de um marido que não discordava nunca do pai. Além disso, ela e
seu marido estavam cada vez mais distantes, já que ela não conseguia entender o
que acontecia (ou não) entre os dois na intimidade.
Quando uma nova ideia chega a pequena cidade, o
projeto de uma biblioteca itinerante a cavalo, ela se oferece para trabalhar
nessa iniciativa. A Pack
Horse foi criada pelo Presidente Roosevelt para levar livros às regiões mais afastadas e
isoladas do país. Em uma época de recessão e desemprego, receber livros toda
semana de graça foi uma alegria para várias comunidades. E elas queriam que ali
não fosse diferente.
É assim que cinco mulheres bem diferentes se
juntam para levar os livros onde existisse algum morando. A cavalo elas subiam
montanhas, atravessavam rios e enfrentavam o calor, a chuva ou o frio e a neve
para distribuírem seus livros. Entregam
livros, cartilhas, livros de figuras e quadrinhos para quem quisesse ler ou
aprender.
A biblioteca será comandada por Margery O’ Hare, uma mulher de opiniões
fortes e que se preocupa muito pouco com a opinião alheia (e na maioria das
vezes, preconceituosa) da pequena cidade. Margery vive sozinha com seu cachorro
e seu cavalo em um chalé isolado, é apaixonada por Sven com quem namora há alguns anos, mas recusa-se a casar com ele.
Ela cresceu vendo a mãe apanhar do pai abusivo, foi agredida até que o pai
morreu, atualmente presa muito sua liberdade. Ela recusa a ter que obedecer a
qualquer homem, sua arma e sua defesa é o fato de ser solteira.
Junto com Alice e Margery, estão Isabelle Brady, Beth Pinker e Sophia
Kenworth. Izzy é uma moça rica, mas sozinha e amargurada. Ela não tem
amigos e sofre com sua pequena deficiência que a fez ser vítima de bullying
desde cedo, uma doença deixou suas pernas de tamanhos diferentes e ela usa uma
bota ortopédica para conseguir andar. Beth é uma jovem pobre que sonha em sair
de casa onde mora com um bando de irmãos e conhecer o mundo. Sophia é uma
mulher negra, que luta contra os preconceitos diários e aceita trabalhar na
biblioteca, desde que seja só a noite, organizando e consertando livros.
"Não há nada mais perigoso
que uma mulher livre"
Além das dificuldades de locomoção, de aprender
a andar a cavalo e se localizar no meio da floresta e montanhas, elas
enfrentarão juntas muitos desafios, tanto pessoais quanto relativos ao
trabalho. Das pessoas que acham que os livros podem ser prejudiciais. Que acham
que tanto conhecimento nunca leva a algo bom. Que acreditam que as pessoas
simples não precisam saber demais. Que acham que as mulheres têm que ficar “em
seu lugar”. Elas irão enfrentar diariamente o preconceito de toda uma
cidade. Afinal, a informação, a
liberdade e a igualdade, desde sempre podem ameaçar o poder e a mente pequena
de algumas pessoas.
~~~~~~
Como bibliotecária eu já peguei esse livro
ansiosa e com expectativas altíssimas! E no final, eu amei algumas coisas e
reclamei de muitas outras, mas adorei a história e a leitura!
Claro que vou começar falando sobre a
biblioteca! Inspirado em fatos reais, a história da biblioteca itinerante me
comoveu muito. Foi muito interessante ver a forma como esses livros chegavam
com dificuldade e eram distribuídos a todos os interessados. As vezes só um
livro ilustrado para crianças, ou uma cartilha de receitas, ou livros da
Bíblia, dependendo do interesse ou da capacidade de leitura de cada um. E de
como, aos poucos, esses livros mudaram a vida de tantas pessoas! Crianças que
começaram a aprender a ler e o pai, que antes mal falava com as pessoas, deixou
que elas fossem para escola. Casas tão pobres e sem alegria, que de repente se
inspiravam com a receita de uma torta que uma menina viu em um livro. Mulheres
que passavam o dia trabalhando duro na montanha, cuidado da casa, dos filhos e
do marido, e agora tinham algo para se distrair nas longas noites frias.
Pessoas isoladas que começavam a fazer amigos. “O projeto da Biblioteca a cavalo da SPA vigorou de 1935 a 1943 e levou
livros a mais de cem mil habitantes da zona rural americana”. Eu me
emocionei com tudo isso.
E, claro, principalmente com a força dessas
mulheres que fizeram com que tudo isso fosse possível. Além do trabalho árduo
que começava ao raiar do dia e ia até a noite, enfrentando todo o tipo de clima
e todas as dificuldades, a força e o crescimento de cada uma dessas cinco
mulheres. Margery que nos ensina a ser forte e a lutar pelos seus direitos,
pelos seus sonhos, que valoriza tanto a liberdade, quando cresceu vendo que as
mulheres têm tão pouca escolha na vida. Alice que cresceu protegida, tendo que
amadurecer tanto e descobrindo que é possível sim, aprender e recomeçar. Izzy
que nos ensina tanto sobre força e coragem. Beth, que mostra que qualquer sonho
é possível de ser alcançado, e que a vida pode sim mudar se você luta por isso.
Sophia que nos ensina tanto sobre coragem e humildade, mas também sobre
reconhecer o seu próprio valor.
De negativo? Achei o início muitooo lento e
livro bem “bleh” em alguns momentos. Foi
uma leitura chata no início, muito descritivo e quase nada acontecia. Eram
montanhas, cavalos, casas isoladas e tudo isso de novo e de novo, diariamente.
Foram quase 200 páginas onde nada me empolgou a não ser a biblioteca. E gente,
isso é mais da metade do livro! Eu gostei das personagens, me apaguei a elas,
mas não desenvolvia...
Mas eis que, de repente, temos um drama, um
capítulo emocionante que me fez chorar horrores (aguardem o capítulo 23 minha
gente) e aí eu não larguei mais até o livro terminar. Toda a injustiça, o
preconceito e as atrocidades me fizeram ficar tão puta!! Mesmo sabendo de tudo
que infelizmente era tão comum naquela época: o preconceito em geral, o
racismo, o machismo, a exploração das classes trabalhadoras. E mesmo,
inacreditavelmente, aceitando que muito disso ainda acontece até hoje... eu
sofri em cada linha, em cada página.
Eu amei a forma como os livros, de forma grande
ou pequena, mudaram a vida de tanta gente! A começar pelas protagonistas e
passando por boa parte da população. E
apesar de não ter tantos detalhes como eu normalmente gosto, eu amei o final!
Me emocionei com a mudança na vida de cada uma delas. O romance não é o foco do
livro, então não esperem nenhum grande amor e etc, é uma história sobre o
crescimento da mulher. Sobre todas elas encontrando o seu “caminho para a
liberdade”. Falando nisso, eu adorei a escolha do título pela Intrínseca. Não é
a tradução literal do título original, mas é um título muito significativo, que
mostra muito do que representa este livro.
Indico para leitores mais maduros que curtem
uma história mais densa e significativa. Eu não amei e não dei nota máxima pela
lentidão inicial - a Jojo costuma pecar muito nisso em seus romances históricos-,
mas a parte final me arrebatou e acho que todo mundo deve ler hehe. Deixo para
vocês esse convite para 2020! Quem leu me conte o que achou, leiam!
Avaliação (1 a 5): 4.5