Na hora da virada - Angie Thomas

>>  segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

THOMAS. Angie. Na hora da virada. Rio de Janeiro: Galera Record, 2019. 378p. Título original: On the come up.

“- Sei que essa merda deve estar apavorante agora, mas um dia você vai olhar pra trás e isso aqui vai parecer ter acontecido em outra vida. É um revés temporário antes da virada. E nós não vamos deixar que impeça a virada.
É isso que chamamos de nosso objetivo, a virada. É quando a gente finalmente fizer sucesso com o rap. ” p. 75

Eu amei O ódio que você semeia (quem resenhou no blog foi a Evelyn, mas eu também li), o livro de estreia da Angie Thomas. Obviamente eu tinha grandes expectativas e estava curiosa para conhecer o próximo trabalho da autora. Confiram o que achei de Na hora da virada.

Bri, 16 anos, é uma jovem negra que vive em Garden Heights, um bairro na periferia da cidade. Ela é bolsista na Escola de Artes Midtown, junto com alguns outros adolescentes negros e latinos do bairro. A escola prega a inclusão, mas na prática, a segregação é algo comum para todos eles.

Bri é a filha mais nova de Jay, uma ex usuária de drogas que está sóbria há oito anos. Ela e o irmão mais velho de Bri, Trey, fazem de tudo para segurar as pontas e pagar as despesas da casa. Trey se formou na faculdade, mas tudo o que conseguiu foi um emprego na pizzaria local.

Um pouco por isso, enquanto a mãe sonha em ver a filha na faculdade, Bri quer ganhar dinheiro rápido e tirar a família da miséria, e para isso, ela canta. O sonho de Bri é se tornar a maior rapper de todos os tempos. Filha de uma lenda do hip-hop, que foi morto a tiros pela gangue rival do bairro assim que começou a fazer sucesso, ela tem grandes expectativas.  E para isso ela precisa de participar, e detonar, nos eventos locais conhecidos como “a batalha”.

Tudo se complica ainda mais quando Bri é revistada na escola como um bandido e rotulada como traficante, sem ter feito nada de errado. Em casa eles não têm aquecedor e mal têm o que comer, pois sua mãe perdeu o emprego. Ela descarrega todas as suas frustrações em uma música que acaba viralizando... por todos os motivos errados. Ela então resolve fingir ser o que todos esperam, uma marginal.

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Não tem como ler esse livro e não comparar com o anterior, que foi uma das minhas leituras queridinhas do ano passado. E comparando os dois, esse deixou um pouco a desejar. Não foi tão impactante e nem de perto tão emocionante, eu esperava mais. Porém, deixando a comparação de lado, essa é uma leitura excelente, principalmente para o público a qual se destina.

A premissa principal são os jovens lutando pelos seus sonhos, mesmo quando tudo está contra eles. Bri só tem um sapato, mal tem comida em casa, estão sem aquecimento e a família está prestes a ser despejada. Diariamente ela lida com o preconceito por ser negra, por ser pobre, por morar em um bairro conhecido pelas gangues e tiroteios. Ela quer vencer e fazer sucesso, mesmo contra todas as possibilidades.

E se já não bastassem todas as dificuldades financeiras e suas consequências, ela também está acostumada a lidar com todo o tipo de preconceito, aberto ou velado. Os jovens negros são treinados pelo pai sobre como se comportar nos lugares “de branco”. É muito triste ver que tudo aquilo eles já é natural. É revoltante saber que isso é normal, que as pessoas sempre presumem e esperam o pior, por causa da cor da pele das pessoas. Em pleno século XXI é triste e revoltante saber que essa imbecilidade é ainda tão real. Tem um trecho do livro (ver pg 125) onde Bri conta sobre as “regras tácitas” que eles seguem:
- Se entrar em uma loja mantenha as mãos fora do bolso e da mochila, para não acharem que estão roubando.
- Sempre use “Senhor” e “Senhora” e fique calmo. Não dê motivos para te acharem agressivos. Não revide, não responda, não discuta.
- Não entre em nenhuma loja e restaurante se não for comprar nada. Não dê motivos para acharem que você é um assaltante.
- Se te seguirem dentro da loja, fique calmo. Não dê motivos.
- Basicamente, não dê motivo. Ponto.

Eu li uma frase no dia da Consciência negra que me fez refletir muito, dizia assim: “Privilégio branco não significa que sua vida não foi difícil, e sim que a cor da sua pele não dificultou mais! ”. É claro que eu só posso imaginar o quão verdade seja isso...

Voltando ao livro, apesar de torcer até o final para que tudo desse certo para Bri e sua família, ela me irritou tanto! Ela é impulsiva, imatura e muito pavio curto. Ela explode, fala muita merda e vai dando muito medo do que vai acontecer. Ela está sempre certa, não escuta os amigos, a família, nada. Só faz tudo errado. Adorei  Jay e Trey, e os melhores amigos dela, Sonny e Malik. A mãe dela é incrível, morri de pena dela. Se já é difícil para um negro entrar no mercado de trabalho, imagina uma ex viciada? Torci muito por eles. Eles foram uns santos com a Bri rs. Achei os raps muito legais, mesmo tendo a questão da tradução, que deve tirar o melhor da música e das rimas.

O final não me ganhou... Achei raso, sem graça, esperava muito mais evolução e amadurecimento da protagonista e um “depois” sobre a Bri e sua família. Mas, como o livro é recente nos EUA também, estou torcendo para a autora escrever uma continuação, se rolar, até revejo minha nota rsrs.

É uma leitura forte, bem escrita e que aborda temas importantíssimos na nossa sociedade atual. Leitura mais do que indicada, principalmente para o público jovem adulto. Fica a dica para presente de Natal rs. Quem leu me conta se curtiu, leiam!

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