As sombras de outubro - Søren Sveistrup
>> sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
SVEISTRUP,
Søren. As sombras de outubro. Rio de Janeiro: Editora Suma das Letras, 2019.
416p. Título original: Kastanjemanden.
“Ela entende o
que a voz está dizendo, mas não consegue acreditar. A dor das palavras é maior
que a dos outros ferimentos. Não pode ser. Não pode ser. Ela ignora as palavras
como parte da loucura que permeia aquela escuridão. Quer se levantar e
continuar lutando, mas seu corpo desiste, e ela começa a chorar histericamente.
Já sabia há um tempo, embora, de alguma forma, não soubesse – e só agora,
enquanto a voz sussurra no seu ouvido, entende que é verdade. Ela quer gritar o
mais alto possível, mas a bile já está subindo pela garganta, e quando sente a
pancada do porrete no rosto ela despenca para a frente e mergulha ainda mais
profundamente na escuridão. ” p.16
O
autor dinamarquês Søren Sveistrup foi roteirista da série The Killing (eu comecei a assistir e estava amando, mas saiu da Netflix e não tenho como continuar aff).
Eu amo ficção policial e fui correndo conferir As sombras de outubro.
É
um dia tempestuoso em Copenhague, quando a polícia é chamada para uma cena de
crime horrível. O corpo desfigurado de uma mulher é encontrado em um
playground. Além de toda a violência, um pequeno boneco torna a cena mais
sinistra, um boneco feio de castanha com braços e pernas de palito, conhecido
como “Senhor Castanha”. A polícia nem sabe se o boneco faz parte da cena do
crime ou não, até que a perícia solta a notícia bombástica.
A
detetive Naia Thulin gosta do seu
trabalho na Divisão de Homicídios, mas tem pouca paciência para as relações de
trabalho e para puxar saco dos chefes. Ela cria a filha sozinha, com a ajuda de
um avô postiço e resolve seus casos o mais rápido possível. Ela quer ser promovida para o Centro Nacional
de Crimes. Mas esse novo caso parece mais complicado, ainda mais quando ela
descobre que precisará trabalhar com Mark
Hess, um funcionário da Europol em Haia, que tinha sido punido por algo, e
então, despachado para trabalhar com eles por um tempo. Ele parece muito pouco
interessado no caso.
Até
que ao examinar o boneco, o departamento forense faz uma descoberta chocante! O
Sr. Castanha tem a impressão digital da filha da ministra Rosa Hartung, que foi sequestrada e depois dada como morta há um
ano. Seria uma coincidência ou algo mais sinistro? Quando um segundo corpo é
encontrado Thulin e Hess precisam se unir. Um serial killer está a solta, e
seus crimes estão só começando.
~~~~~
Eu
adoro thriller com uma boa investigação policial e esse atingiu minhas
expectativas, adorei a leitura! Ritmo eletrizante, bons personagens e um ótimo
enredo. Assassinatos grotescos, cenas aterrorizantes e muitas surpresas. O
autor utiliza a ficção para debater temas importantes, neste caso o abuso
infantil, essa característica me lembrou com saudade do Stieg Larsson.
Narrado
em terceira pessoa, o livro tem muitos personagens que vão se alternando durante
a narrativa. No início você demora algumas páginas para entender quem é quem,
mas logo eu estava envolvida na trama. O ritmo é bom, a leitura flui bem e não
é cansativa.
Temos
dois mistérios intrigantes. A busca pelo serial killer misterioso que passa a
ser conhecido como Sr. Castanha, que claro, é o foco dos policiais. Mas também a
estranha coincidência das digitais da filha da ministra, dada como morta. O
assassino confessou e está preso, foi achado uma arma com o sangue dela, mas o
corpo nunca foi encontrado. Eu queria que a filha da Rosa estivesse viva, mas
ao mesmo tempo temia isso. Imaginem o que essa criança não teria passado
em mais de um ano?
Os
personagens são bons, mas poderiam ser melhores explorados. Gostei de Thulin e
Hess, mas pouco se fala sobre o passado deles. Thulin tem uma filha que ela cuida
com a ajuda de um avô postiço. Mas não explica quem é esse homem nem o que
aconteceu com o pai da criança, nada é dito. Hess tem um passado bem
traumático, mas isso é citado brevemente e só. Não se fala nada sobre a família deles, se existe ou não. Rosa e o marido passaram pelo
inferno com o desaparecimento e a perda da filha, e eu também fiquei querendo
mais sobre eles.
O
caso em si é agoniante, eu devorei o livro curiosa para saber o final e
torcendo para o autor solucionar todos os mistérios. Em um certo ponto tudo
aponta para um lado, a polícia quer encerrar o caso e eu agoniada porque sabia
que aquela não era a resposta. Ninguém acreditava em Hess ou levava ele a sério
e eu fiquei nervosa torcendo por ele rs. Livro bom é isso, não é? Deixa a gente
de olho arregalado virando as páginas!
E
o final, atingiu as expectativas? Por um lado, sim, mataram a charada sem
estragar tudo, gostei de não ter descoberto o "quem matou", embora acho que tenham
forçado um pouco a barra naquela onda de “o assassino é quem a gente menos
desconfia”. Por outro lado, ele
deixou algumas pontas soltas. As mulheres que foram assassinadas tinham uma
ligação, um porquê, o assassino chegou até a fazer denúncias anônimas no
conselho tutelar contra essas famílias. Mas o problema é que em nenhum momento explica
como ele sabia disso, com ele descobriu todos esses casos e foi atrás delas.
Isso perdeu pontos comigo.
O
livro tem potencial para ser uma série, eu gostaria de outros livros com os
dois protagonistas. Ele foi lançado em 2018 e até agora não saiu nada sobre uma
continuação, então é esperar para ver.
Eu
adoro thrillers e indico a leitura! Não foi o melhor policial do ano, mas o
autor tem potencial. Leiam!
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Avaliação
(1 a 5):