Pátria - Fernando Aramburu
>> segunda-feira, 11 de novembro de 2019
ARAMBURU,
Fernando. Pátria. Rio
de Janeiro, Editora Intrínseca, 2019. 512 p. Título original: Patria.
Livros que
envolvem culturas de outros países sempre me encantaram e sempre fico muito
feliz em ter a oportunidade de lê-los. Quando vi uma resenha no YouTube do
livro Pátria, e fiquei sabendo que se passava em um lugar na Espanha, mais
especificamente em um país basco, fiquei ainda mais curiosa. Agora, apresento
para vocês o livro Pátria.
Bittori e
Miren são amigas de infância. Elas são como unha e carne. São, também, muito
religiosas. Quase se tornaram freiras. O que as impediu? Joxian e Txato. Miren
se casou com Joxian e Bittori, com Txato.
Bittori teve 2
filhos: Nerea e Xabier. Miren, por sua vez, teve três filhos: Arantxa, Joxe
Marí e Gorka. As duas famílias sempre foram próximas, e os filhos de ambas
brincavam juntos, eram próximos e tinham até suas paixonites entre si.
Mas o tempo
passa e a vida muda, as pessoas mudam, tomam rumos e decisões que às vezes
podem afetar não só a sim mesmo, bem como todos aqueles que são próximos.
Um belo dia,
Txato, o marido de Bittori, começa a receber ameaças do grupo separatista ETA
(Euskadi Ta Askatasuna), o mesmo grupo do qual Joxe Marí, filho de Miren faz
parte.
A vida na vila
onde Bittori e Txato vivem se torna cada vez mais difícil já que, com as
ameaças, os vizinhos, com medo, se afastaram do casal. Inclusive Miren e joxian
que, covarde, só tem coragem de conversar com o “amigo” às escondidas.
Txato, por sua
vez, insiste em ignorar todas as mensagens dos terroristas e as ameaças que são
pichadas no muro de sua casa, e segue com sua vida da melhor maneira que pode,
até o dia em que é sumariamente assassinado na porta de sua casa.
Com isso,
Bittori é obrigada a fugir para outro lugar, levando os filhos. Toda sua vida é
modificada pela tragédia que assolou sua família. Ela precisou recomeçar em um
lugar novo, sem o marido, sem os vizinhos e sem a amizade daquela que era quase
como uma irmã para Bittori.
Agora, décadas
depois ela volta à pequena vila a fim de revirar o passado e, quem sabe,
conseguir respostas para tantas perguntas e dúvidas que a assombra desde a
morte do marido.
~~~~~~
Há muitos
pontos interessantes no livro.
A começar pela
narração. Há vários narradores, o que dá a oportunidade ao leitor de conhecer a
versão de cada personagem para o que aconteceu. Isso poderia ser maçante, mas
não no caso deste livro.
Além disso, os
capítulos são curtos, o que facilita para que a leitura flua melhor. Apesar do
tamanho do livro, não tem como não ler de forma rápida, já que o jeito que o
autor escreve e os capítulos curtos ajudam muito.
A história, em
si já é um motivo para que a leitura flua em uma velocidade boa, já que fiquei
morta de curiosidade para saber a visão de determinado personagem, o que
aconteceria com outro.
Já deixo
adiantado que não tem como saber de cara, ou pelo título, qual personagem está
narrando o capítulo. É preciso ler para saber quem está contando aquele pedaço
específico.
Mais um ponto
interessante: A fim de ajudar o leitor a compreender determinadas palavras e
expressões que estão escritas em Euskera (idioma basco), há um glossário no
final do livro. Até coloquei um post it sinalizando para poder localizar com
mais facilidade. A cada poucas páginas eu tinha que consultá-lo. Com o passar
da leitura não foi mais tão necessário voltar ao glossário, já que depois de um
tempo passei a compreender as palavras.
Os personagens
são tão reais! Fiquei com muita pena de Bittori, pelo que ela teve que passar
por causa da morte do marido e, de certa forma, pela traição da amiga, que lhe
virou as costas quando mais precisava. Na verdade, depois do que aconteceu com
Txato a vida dele foi só ladeira abaixo, tadinha. Fiquei com pena de Txato também!
Ser assombrado por uma organização criminosa e ainda ter o fim que ele teve...
Tive uma
relação de amor e ódio por Miren. Entendi que o amor que ela tinha pelos filhos
estava acima de tudo, sobretudo Joxe Mari, o filho amado, queridinho, o
favorito. Ela não media palavras para elogiá-lo e defendê-lo. O mesmo posso dizer
em relação ao joxian. Achei ele ao mesmo tempo submisso e covarde. Mas, por
outro lado, senti empatia por ele, que sofria com a situação do amigo, da filha
e do filho que estava cada dia mais enfiado no mundo do ETA.
Joxe Mari, por
sua vez, não me conquistou, mas também não o odiei, embora tivesse razões para
isso.
Arantxa é a
melhor pessoa da família, embora tenha tomado algumas decisões que eu não
concordei nada.
Mas, sem
dúvida, meu favorito da família de Miren e até mesmo do livro todo foi Gorka.
Menino calado, inteligente e leitor assíduo, me identifiquei com ele em várias
situações que ele passa por gostar de ler. Nem todo mundo acha que preferir
ficar em casa lendo do que sair a noite para balada é normal e ouvir
comentários nada agradáveis sobre o amor pela leitura é muito mais comum do que
se imagina. Eu só lamento para quem faz isso.
Xabier, filho
de Bittori é um bom filho, mas um pouco lento em relação a romance, rs. (ok que
romance não teve muito espaço no livro, mas isso não impediu de torcer pelo
personagem)
Nerea teve
seus motivos para ser como ela e tomar as decisões que tomou ao longo da
história. Só não sei se concordo com as justificativas dela.
Fiquei muito
encantada com o idioma, a cultura, a história do povo basco. Me deu vontade de
pesquisar mais sobre o assunto. Já tinha ouvido falar sobre o ETA, mas sempre
ouvi mais sobre o movimento e a intenção separatista da Catalunha e menos sobre
o movimento separatista dos países bascos.
E, claro, não
posso ir embora antes de falar da capa. Aqueles pingos de chuva com uma sombra
usando uma sombrinha no fundo me conquistou à primeira vista! Arrasaram na
capa!
Indico para
todo mundo que ama um bom livro, uma boa ficção baseada na história, e para
quem gosta de ler livros sobre outras culturas, já que é sempre bom saber sobre
outros povos, certo?
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