Um lugar bem longe daqui - Delia Owens
>> quarta-feira, 11 de setembro de 2019
OWENS,
Delia. Um lugar bem longe daqui. Rio
de Janeiro: Intrínseca, 2019. 335 p. Título original: Where the crawdads sing.
Desde
o lançamento de Um lugar bem longe daqui pelo Intrínsecos, eu tinha vontade de ler esta história. Todo mundo vinha falando
tanto e tão bem, que a curiosidade foi só aumentando. Então, finalmente tive a
chance de ler e, com a expectativa no céu, iniciei a leitura. Vamos ver o que
achei?
Catherine
Danielle Clark, mais conhecida como Kya por sua família e por aqueles que
tivessem a boa vontade de se aproximar dela, era uma menina que vivia no brejo
às margens da cidade de Barkley Cove, na Carolina do Norte, um estado americano
que, à época em que se passa a história (década de 1950, 1960), era marcado
pela segregação racial e pelo preconceito não só contra os negros, mas contra
aqueles que viviam na periferia, que eram pobres.
Em
razão disso, desde sempre Kya era chamada de “a menina do brejo” pelo “povo da
cidade”. Ela tinha seis anos de idade quando começou a perder as pessoas de sua
família. Não, elas não morriam. De saco cheio de apanhar e aguentar um marido
bêbado e sem perspectiva de futuro, um dia a mãe de Kya sai de casa com uma
mala na mão e nunca mais volta.
E
sem a mãe para apoiá-los e ajudá-los a suportar a vida junto ao pai abusivo,
todos os filhos acabaram indo embora aos poucos. Nenhum deles levou Kya. Nem
mesmo o pai quando, por fim, também decidiu partir.
Ela
teve que aprender sozinha como se virar, não frequentou a escola, teve que
ganhar o próprio dinheiro, produzir o próprio alimento. Teve, também, que lidar
com o preconceito de ser apenas a menina do brejo, ser tratada como lixo
branco, algo sujo, imprestável.
Mas
Kya aprende a lidar com a vida e transforma o brejo em um lar e os animais que ali
habitam em verdadeiros companheiros. Ainda que ela conte com a amizade de umas
poucas pessoas e com o sentimento maior do que de amizade de dois dos garotos
mais conhecidos e populares da cidade, é para o brejo e para os animais que ela
volta.
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Ai,
gente, como eu gostei desta história!
A
primeira coisa que me encantou foi a narrativa construída pela autora. Ela é
cientista zoóloga e, antes de escrever a história, passou anos investigando a
natureza, os animais, as estações do ano, enquanto vivia com seu marido na
África. Toda a sua experiência profissional é claramente transportada para o
livro através das vivências dos personagens, mas de modo algum ela o fez de
forma maçante, cansativa. Pelo contrário, faz com que nos sintamos um pouco
mais próximos da natureza, e dá até aquela vontade de entender mais sobre o
assunto.
Em
seguida, o que me interessou foi a forma como a autora dispõe os títulos nos
capítulos. Ela escolhe uma palavra no capítulo e a coloca no título, simples
assim! Ao contrário do que possa alguém imaginar, ficou muito legal.
A
história se alterna entre os anos de 1952, quando a mãe de Kya vai embora, e
1969, quando um homicídio acontece na cidade e todos estão tentando entender
quem poderia ter cometido o crime.
A linha do tempo vai avançando, mostrando o
crescimento de Kya, até que se une ao acontecimento de 1969, quando a cidade
inteira tem certeza de que foi Kya quem cometeu o crime que está deixando a
cidade em polvorosa.
Em
relação aos personagens, não tem como não se apegar a Kya desde a primeira
página, não só pela compaixão por ela. Na verdade, ainda que alguns dos outros
personagens tenham me conquistado de alguma forma (prefiro não citar nomes para
não dar spoiler), eles me decepcionaram ao decepcionar Kya. Eu me sentia como se
estivesse passando pelo que ela passou com essas pessoas.
Passei
o livro todo com a imaginação aguçada, pensando nas aves (pra quem gosta, o
livro traz muitas referências ao mundo das aves), em como seria o brejo onde
Kya vive (que seria o equivalente ao mangue aqui no Brasil), o mar, a paisagem,
a cidade.
Além
disso, fiquei muito agoniada e com o coração na mão quando ela foi abandonada.
Como pode alguém conseguir deixar uma criança para trás e, pior, com um pai
abusivo e bêbado?!
Queria adotá-la. Mais tarde, fiquei com o coração disparado
e mais agoniada ainda quando ela foi acusada de cometer um homicídio.
O
livro traz uma clara mensagem de como as pessoas julgam as outras sem ao menos
conhecê-las, como há injustiça em julgar uma pessoa pelo lugar onde ela vive,
pela roupa que usa, e isso acontece o tempo todo na vida real.
E
em toda a minha agonia, terminei o livro de boca “abrida”. Há um plot twist
(talvez mais de um) quando achei que nada mais fosse acontecer, mas que, por um
lado, me deixou de queixo caído e, por outro, me fez ter certeza de que estava
certa sobre uma teoria que vinha alimentando ao longo da história.
Metade
de mim ficou feliz, a outra metade não, ao saber que os direitos do livro já
foram adquiridos e ele será adaptado para o cinema. Será produzido pela atriz
Reese Whiterspoon, mas não há maiores notícias sobre quando isso acontecerá. Só
nos resta torcer para que chegue pelo menos perto de ser tão bom quanto o
livro.
Indico
para todas as pessoas amantes de bons livros! Leiam!!
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